Patrícia Taufer
Fotos Adriana Spaca/Notícias da TV
Patrícia Taufer no hostel que administra em SP: ela cansou da TV (e de pintar os cabelos)
DANIEL CASTRO
Publicado em 21/8/2017 - 5h28
Quando Patrícia Taufer deixou a Globo, em fevereiro do ano passado, atribuiu-se a demissão da repórter à recusa em pintar os cabelos. Um ano e meio depois, com os fios totalmente grisalhos, Patrícia fala pela primeira vez sobre o assunto. "Seria engraçadíssimo, mas não foi. Os cabelos brancos em nada influenciaram a decisão", diz a jornalista de 43 anos.
Patrícia, assim como Evaristo Costa mais recentemente, queria dar uma guinada na vida. Não estava mais disposta a trabalhar até 12 horas por dia para conseguir um espaço no competitivo Jornal Nacional. "Sabe quando você não se sente mais enquadrada no negócio? Se eu quisesse ter mais espaço, crescer, teria de ter maior disponibilidade de tempo", lembra.
Mãe de duas meninas, a jornalista resolveu tirar um tempo para um "autoconhecimento", "viver suas próprias verdades". Há quatro meses, toca um charmoso hostel na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo. E não está nem um pouco arrependida de ter deixado a Globo para trás.
"Nunca me disseram 'você precisa pintar o cabelo', mas as regras estão mais ou menos implícitas. Hoje acho que o que eu fazia era um desserviço, ficar cinco horas em cima de um buraco de rua. Sou feliz com meus cabelos brancos. Fiquei cansada de fazer coisas que me deixavam desconfortáveis", afirma.
Patrícia Taufer concedeu a seguinte entrevista ao Notícias da TV:
Na época [fevereiro de 2016], me foi dito que você tinha sido demitida porque se recusou a seguir algumas normas não muito públicas da Globo, de que jornalista de vídeo não pode estar acima do peso e, no seu caso, com cabelos brancos. Foi isso mesmo?
Vamos lá. Não posso falar muito sobre minha saída da TV. O que posso dizer é que os cabelos brancos em nada influenciaram a decisão. Na verdade, hoje, algumas apresentadoras e repórteres estão exibindo seus grisalhos lindamente.
Desculpe insistir: o que te levou a sair da Globo? Todo mundo acha que trabalhar na emissora é incrível, o sonho de todo jornalista, mas alguns profissionais, como você, abrem mão disso.
Realmente, a casa é incrível e tem profissionais de altíssimo nível. Tenho lembranças incríveis do tempo que passei lá, mas não sinto falta daquela rotina. As situações na vida têm prazo de validade. Aos 20 ou 30 anos, sem filhos, a gente tem uma disposição. Aos 42 e mãe de duas crianças, a disposição e a paciência já são bem diferentes.
Assim que fui mãe, pedi para que me mantivessem num horário fixo (manhã ou tarde/noite) pra que eu pudesse exercer minha maternidade. Quanto tive a segunda filha, pedi para que ficasse apenas pela manhã. Tudo bem se entrava entre 4h e 7h da manhã. Queria ter a tarde pra elas.
reproduçÃO/TV Globo
Patrícia Taufer no Sambódromo de SP em uma de suas últimas aparições na TV, em 2016
Mas o caminho natural é que o trabalho fique repetitivo e fiquemos com menos perspectiva. A rotina massacra. Honestamente, não estava disposta a ficar à disposição da TV mais do que 10 ou 12 horas por dia, todos os dias, para entrar na fila dos que fazem JN.
Outra coisa bem interessante: queria e precisava viver uma nova vida, uma vida baseada nas minhas próprias verdades. Isso não acontece apenas com quem trabalha na Rede Globo. Tem muita gente redefinindo rotinas, repensando até mesmo gastos para que consiga viver uma vida baseada nas próprias crenças e escolhas. É por esse caminho que caminho.
Enfim, você saiu da Globo para se dedicar à família, poder criar suas filhas, e viver novas experiências. Não estaria na contramão do que se apregoa hoje, de que a mulher não deve abrir mão da carreira pela maternidade?
Não trafegamos num caminho de uma ou duas vias. São dezenas as possibilidades. A gente que se aprisiona pensando que só dá pra ir pra frente ou pra trás. O lado também é um caminho. Não gosto desse pensamento binário: ou carreira ou maternidade. Tem também uma questão de gênero: o peso da maternidade para a mulher é muito maior do que o da paternidade para o homem.
O que você achou da decisão de Evaristo Costa de deixar a Globo e ir viver com a mulher e as filhas na Inglaterra?
Se pra ele tá bom, pra mim melhor ainda.
Você teve medo de não dar certo o futuro que planejou pós-TV?
Claro que não. Na verdade, não entendo que as coisas deem errado. O que acontece é que podem sair diferentes do que planejamos. Mas daí é só rever. Até agora várias coisas saíram do planejado, ainda bem.
Você pretende voltar a trabalhar em televisão?
Não tenho intenção. Mas não vejo nada como definitivo na vida.
O que você está fazendo atualmente?
Tenho dedicado boas horas do meu tempo para entender um pouco mais de antroposofia e Pedagogia Waldorf, que é a pedagogia escolhida por nós para as nossas filhas. Estou trabalhando com marketing de conteúdo e mídias sociais para uma clínica antroposófica, entre outras empresas. E mais recentemente, desde maio deste ano, eu e meu marido compramos um hostel na Vila Madalena.
Como é o seu hostel? Como está sendo a experiência?
Tô curtindo muito essa nova atividade. Tudo é novidade pra gente. Administração, cuidar de RH, estratégia comercial. Mas é muito legal. A casa é linda e a gente acaba criando uma relação com os nossos hóspedes e funcionários, todo mundo parece que é da família.
Como é sua rotina?
Trabalho pela manhã, enquanto as crianças estão na escola, e à noite. À tarde, meu trabalho é cuidar delas. Duas ou três vezes na semana estou no hostel, o Conforto Madá Hostel, e os outros dias trabalho em casa mesmo, basicamente escrevendo. Trabalho num ritmo que eu escolho.
Sobre o que você escreve?
Maternidade, infância, parto, amamentação, psicologia, pedagogia.
Para algum blog ou um livro?
O livro está no projeto, mas por enquanto é para um site: www.espaçoitawegman.com.br, mas lá só encontrará um texto assinado por mim. Todos os outros a assinatura é dos profissionais do espaço.
O jornalismo ocupa um espaço importante ainda, mas estou numa fase muito interessante, empreendendo.
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