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ALEXYA SALVADOR

Primeira pastora trans quebra padrões no Dia das Mães: 'Deus não precisa me aceitar'

Divulgação/Elo Studios

Alexya Salvador usa batina com colarinho religioso em foto promocional do documentário Elas, Divinas

Alexya Salvador é a primeira pastora trans do Brasil e conta sua história no doc Elas, Divinas

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 12/5/2024 - 20h00

A reverenda Alexya Salvador está acostumada a quebrar barreiras. Ela se tornou a primeira pastora evangélica transgênero da América Latina e a primeira mulher trans a adotar uma criança no Brasil --chegou a ser citada por Buba (Gabriela Medeiros) em uma cena de Renascer. Neste Dia das Mães, a reverenda tenta usar sua visibilidade para tranquilizar outras pessoas que vivem dramas pelos quais ela já passou. "Eu bato na tecla de que Deus não precisa me aceitar, porque ele já me fez assim", discursa.

"Não foi uma escolha minha, eu não cheguei em um determinado momento da minha vida, apertei um botão e me tornei travesti. Nada disso! Deus me fez travesti, Deus me fez mulher! E está tudo bem, é normal, é legal. Eu acho que Deus olha hoje para a comunidade LGBTQIA+ e se surpreende: 'Nem eu imaginei que vocês iam enfrentar tudo isso e chegar tão longe'. Porque nós estamos aqui, encontrando maneiras de sobreviver a esse clima de ódio que ainda assola o meio em que estamos no Brasil", diz ela ao Notícias da TV.

A pastora admite que viveu experiências difíceis no passado, até se encontrar na Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), a primeira inclusiva e afirmativa da história. "Cheguei lá depois de três tentativas de tirar a minha vida, quase morta, magoada, triste, sem ânimo para viver. E encontrei o inverso naquela comunidade: um acolhimento, uma escuta diferenciada, um abraço", valoriza.

"Encontrei seguridade e uma igreja na qual eu não precisava mais me policiar, me preocupar com a minha roupa, com os pronomes que usariam para me tratar. Ao contrário. A igreja disse para mim: 'Se você se sente mulher, se percebe mulher, é porque você é mulher. Então, a gente vai te ajudar a nascer de novo'. E eu nasci de novo, ganhei de Deus um novo nome, assim como Ele tinha feito com Paulo [apóstolo de Jesus]", lembra Alexya.

Agora, a reverenda segue de exemplo para outras pessoas da comunidade LGBTQIA+ que não se sentem acolhidas em suas igrejas e buscam um espaço seguro para expressar sua fé. Para Alexya, ter esse papel é uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo. "Ser referência é muito gratificante, é algo que eu nunca vou recusar", começa ela.

"Mas entendo também o peso que isso tem na minha vida. Todo mundo pode errar, mas eu, como mulher e trans, não posso. Não posso escorregar, não posso ser incoerente. Meu casamento precisa ser perfeito, minha maternidade precisa ser perfeita. Ou seja, eu não posso ser humana. Mas eu sou humana, gente! Eu erro, falo bobeira, tenho minhas fobias internas. Tenho dado muito trabalho para os meus terapeutas para buscar esse lugar (risos)."

"Eu nunca tive a intenção de ser modelo para ninguém, não quis ser um farol, nem quero ser. Porque eu sou a Alexya, sou humana, faço xixi, faço cocô, posso errar amanhã mesmo! E tudo bem! É isso que eu quero que fique para as pessoas, que a gente tem o direito de ser o que é. E que Deus está ali, deliciosamente apaixonado por todos nós, 24 horas por dia, porque ele nos fez do jeitinho que nós somos", finaliza.

Experiência em documentário

Alexya é uma das cinco personagens do documentário Elas, Divinas, que estreia neste domingo (12), às 23h, no canal Lifetime. Apresentada por Juliana Wallauer (do podcast Mamilos), a produção do Elo Studios mostra as histórias de cinco mulheres de religiões diferentes. Também participam a budista Elka Andrello, a muçulmana Fabiola Oliveira, a candomblecista Cláudia Alexandre e a rabina judia Fernanda Tomchinsky-Galanternik.

Curiosamente, Juliana se declara ateia. Comandar a roda de conversas com tantas fés distintas foi uma experiência impactante. "Cada uma delas me trouxe respostas para questões que eu tinha, para angústias que eu estava me debatendo. Porque a religião organiza uma série de coisas na nossa vida, o sentido da reverência, de entender que você é pequeno e que o mundo é muito maior, a necessidade dos rituais", lista a podcaster à reportagem.

"Todo ser humano precisa de perdão, mas é difícil para a gente, tanto conceder quanto pedir. É dolorido. A religião nos dá o roteiro: 'Você tem que dizer essas palavras aqui'. Eu acho importante ter a espiritualidade, só que a minha está no humanismo. Mas é bonito observar os laços invisíveis que nos conectam, porque somos todos humanos e frágeis", aponta Juliana.

"E achei importante que essas cinco mulheres incríveis deram mais valor às semelhanças do que às diferenças. Porque elas poderiam ter destacado que a roupa é diferente, que o lugar onde uma mora é diferente, que as classes sociais são diferentes. Poderiam ter ridicularizado a fé uma da outra. Mas não foi nada disso. Eu chorei muito gravando", admite. 


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