MEMÓRIA DA TV
FOTOS: RENATO ROCHA MIRANDA/TV GLOBO
O autor Ricardo Linhares, 61 anos, está a cargo da supervisão de texto da novela Fuzuê
O autor Ricardo Linhares entrou na supervisão de Fuzuê para alterar a rota da história criada por Gustavo Reiz e fazer os malabarismos necessários para a novela chegar ao fim sem descer ainda mais a ladeira. Essa não é a primeira vez que ele é convocado para salvar um folhetim com problemas. O novelista virou o socorrista da teledramaturgia da Globo, função que era ocupada por Walther Negrão desde a época da Tupi (1950-1980).
"Por esse motivo, o comediante Chico Anysio [1931-2012] passou a chamá-lo de 'Negrão do Pastoreio'", recorda-se o especialista em telenovelas Mauro Alencar. O apelido foi dado devido à capacidade que Negrão exerceu ao colocar novelas de outros autores nos trilhos.
O salvador de novelas é um recurso tapa-buraco para não ter de acabar com um folhetim que está em pleno voo. Em alguns casos, socorristas como Negrão e Linhares conseguem injetar gás nas histórias capengas e despertar o interesse do público.
Foi o que aconteceu com em 1967 com Anastácia, a Mulher sem Destino, aquela trama em que Janete Clair (1925 -1983) colocou um terremoto que matou a maioria dos personagens para criar uma nova saga folhetinesca.
Alencar conta que a entrada de um salvador também deu certo em As Três Marias (1980), na Globo, e em Dulcinéa Vai à Guerra (1981), na Bandeirantes.
"Mas que fique claro que o conjunto da obra fica comprometido. Salva-se para chegar até o fim dentro da melhor maneira possível. Por outro lado, não houve muito o que fazer em O Todo Poderoso [Bandeirantes, 1980], O Amor É Nosso [Globo, 1981] e Gente Fina [Globo, 1990]", exemplifica Alencar.
Linhares também já supervisionou textos de autoras em suas estreias solo na Globo, como Manuela Dias (Amor de Mãe, 2019) e Maria Helena Nascimento (Rock Story, 2016). Esse trabalho é diferente: é o de um autor experiente dando suporte para um iniciante.
Não que isso seja fundamental. Afinal, a longa história da telenovela não se fez dessa maneira, que fique bem claro. Muito pelo contrário, um autor fazia a sua estreia no gênero e ponto-final. Normalmente com bom resultado! Mas faz parte da indústria do entretenimento. Aconteceu, por exemplo, com Silvio de Abreu [supervisão] e Carlos Lombardi [estreante] em Vereda Tropical, grande sucesso de 1984.
Autor de A Hollywood Brasileira - Panorama da Telenovela no Brasil, entre outros títulos, o especialista reforça que um novelista ser chamado para socorrer outro é porque tem um incêndio que precisa ser controlado antes que as chamas se alastrem e devastem tudo que foi construído.
"Normalmente o erro maior vem do autor, a base de tudo. Mas é claro que não podemos eximir o diretor dos problemas de uma produção, uma vez que a telenovela é fruto de um trabalho coletivo", completa Alencar, que faz uma palestra nesta terça (21) na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Ele falará sobre Literatura e Televisão com o cineasta Cacá Diegues em evento gratuito que acontece no Rio de Janeiro e que pode ser acompanhado ao vivo pelo site e pelo YouTube da ABL.
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