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Bastidores

Por que William Waack se recusa a dizer se demissão da Globo foi injusta?

Divulgação/TV Globo

William Waack no cenário do Jornal da Globo, que apresentou até novembro do ano passado - Divulgação/TV Globo

William Waack no cenário do Jornal da Globo, que apresentou até novembro do ano passado

DANIEL CASTRO

Publicado em 20/2/2018 - 5h59

RESUMO: Dispensado pela Globo após o vazamento de um vídeo em que fazia um comentário racista, o jornalista William Waack falou ontem pela primeira vez que fez um acordo de cala-boca com a emissora. 'Qualquer coisa que se refira a de onde eu saí [TV Globo] precisa do meu advogado por perto', disse após ter se recusado a comentar se considera sua demissão injusta

A pergunta partiu da plateia do 2º Encontro Folha de Jornalismo, realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, no qual William Waack debatia o tema A Guerra das Palavras - Os Limites do Politicamente Correto: "Você considera a sua demissão da Globo injusta?". O ex-âncora do telejornal mais opinativo da maior rede de televisão do país se esquivou de uma resposta objetiva:

"A emissora e eu chegamos a um acordo. Eu tinha um contrato de prestação de serviços e esse contrato, por decisão mútua, foi encerrado dentro de cláusulas mutuamente acordadas. Essa postura está espelhada em um comunicado final, assinado pelos dois lados. Mais do que isso não posso comentar".

Pouco tempo depois, uma jornalista do auditório quis saber se Waack vai assumir o Roda Viva, na TV Cultura ("Não sei", limitou-se a dizer), e se ele considera o jornalismo televisivo brasileiro "chato".

Silêncio. Risos na plateia.

"Qualquer coisa que se refira a de onde eu saí [TV Globo] precisa do meu advogado por perto", falou, demonstrando bom humor. "Eu sou obrigado, ao contrário do que gosto de fazer, a ser um pouco mais geral no que vou dizer a vocês por razões legais. Ok? Entenderam?", continuou, antes de sentenciar: "[O telejornalismo brasileiro] É horrivelmente chato, maçante, insuportável".

Foi a primeira vez que William Waack afirmou publicamente que fez um acordo de cala-boca com a Globo. Ele já tinha se recusado a falar sobre o assunto, mas não deixara tão claro que isso poderia ter consequências "legais".

Nos bastidores da Globo, o acordo já era sabido. A questão que vem a seguir é: o jornalista recebeu dinheiro da emissora ou deixou de pagar?

De um lado, especula-se que Waack teria feito um bom acerto financeiro com a Globo para encerrar seu contrato, precocemente, e não sair dando entrevistas para emissoras concorrentes a falar do quanto foi injustiçado. Afinal, a declaração que custou seu emprego foi dada fora do ar e só veio a público porque alguém a furtou dos arquivos da própria emissora.

De outro lado, há os que acreditam que, com o acordo, Waack na verdade se livrou de pagar uma multa milionária à Globo, pois seu contrato já previa essa punição em caso de comprometimento ou prejuízos à imagem da empresa, o que seria o caso.

Para não haver mais dúvidas, e em consequência do ocorrido com Waack, a emissora enviou a seus apresentadores, em dezembro, um adendo contratual impondo multa em caso de desvio por "comportamento ético".

Para quem não se lembra, Waack foi afastado do Jornal da Globo em 9 de novembro, um dia depois de vazar nas redes sociais um vídeo em que era flagrado fazendo uma ofensa racista.

No vídeo, Waack aparece em Washington, onde estava para a cobertura das eleições presidenciais dos Estados Unidos, exatamente um ano antes. Ele se preparava para entrar no ar ao vivo quando um motorista passou na rua buzinando.

"Está buzinando por que, seu merda do cacete?", reclamou Waack. Em seguida, ele se virou para o comentarista Paulo Sotero, ao seu lado, e afirmou: "Deve ser um, com certeza, não vou nem falar de quem, eu sei quem é. Sabe o que é?". De acordo com peritos, foi possível constatar que o jornalista de fato usou a palavra "preto" de forma pejorativa.

Waack e Globo costuraram um acordo rescisório tornado público em 22 de dezembro por meio do seguinte comunicado: 

"​Em relação ao vídeo que circulou na internet a partir do dia 8 de novembro de 2017, William Waack reitera que nem ali nem em nenhum outro momento de sua vida teve o objetivo de protagonizar ofensas raciais. Repudia de forma absoluta o racismo, nunca compactuou com esse sentimento abjeto e sempre lutou por uma sociedade inclusiva e que respeite as diferenças. Pede desculpas a quem se sentiu ofendido, pois todos merecem o seu respeito. 

​A TV Globo e o jornalista decidiram que o melhor caminho a seguir é o encerramento consensual do contrato de prestação de serviços que mantinham.

​A TV Globo reafirma seu repúdio ao racismo em todas as suas formas e manifestações. E reitera a excelência profissional de Waack e a imensa contribuição dele ao jornalismo da TV Globo e ao brasileiro. E a ele agradece os anos de colaboração.

Ali Kamel, diretor de Jornalismo da TV Globo

William Waack, jornalista e apresentador de programas jornalísticos da TV Globo".

Veja o vídeo que do Jornal da Globo de 8 de novembro de 2016:

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