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Reprodução/TV Globo
O âncora William Waack no último Jornal da Globo que apresentou, em 7 de novembro
DANIEL CASTRO
Publicado em 18/1/2018 - 6h19
A Globo enviou a seus principais jornalistas um adendo contratual impondo uma cláusula que prevê punição com demissão e multa milionária em casos de desvio por "comportamento ético" e "quebra de confidencialidade". O documento, apresentado em dezembro, foi consequência do vazamento de vídeo, um mês antes, em que William Waack fez uma declaração racista que lhe custou o emprego no Jornal da Globo.
Isso quer dizer que racismo, assédio sexual (como o episódio envolvendo o ator José Mayer) e qualquer ato que possa ser enquadrado como desvio de "comportamento ético" agora é tão grave quanto romper contrato para trabalhar na Record ou no SBT, situação em que a Globo costuma cobrar uma multa de vários milhões de reais.
Segundo fontes do Notícias da TV, as punições já estavam previstas nos contratos atualmente em vigor, mas com um outro texto. Os acordos estabeleciam rescisão e multa por comprometimento/prejuízos à imagem da empresa. Agora, trazem como novidade o termo "comportamento ético", deixando mais clara a pena por racismo, assédio e qualquer tipo de preconceito, no ar ou fora dele, com atenção especial para as redes sociais.
O adendo contratual, que muitos profissionais se viram obrigados a assinar, sem qualquer negociação, também atrela a quebra de confidencialidade ao comportamento ético. Jornalistas estão interpretando essa cláusula como uma forma de impedir que o profissional fale da emissora após seu desligamento em casos rumorosos, como os que envolvem racismo ou assédio sexual.
Isso explicaria as evasivas de William Waack em entrevistas concedidas à revista Veja e ao jornal Folha de S.Paulo. Em ambas, ele se negou a comentar a decisão da Globo de demiti-lo por racismo.
'Coisa de preto'
A Globo decidiu rescindir contrato com Waack no último dia 22 por causa de um vídeo que circula na internet desde 8 de novembro. Nele, Waack é flagrado, fora do ar, fazendo ofensa racista. O jornalista estava em Washington, exatamente um ano antes, para a cobertura das eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Waack se preparava para entrar no ar ao vivo quando um motorista passou na rua buzinando. "Está buzinando por que, seu merda do cacete?", reclamou. Em seguida, ele se virou para o comentarista Paulo Sotero, ao seu lado, e afirmou: "Deve ser um, com certeza, não vou nem falar de quem, eu sei quem é. Sabe o que é?". Em um trecho inaudível, Waack teria cochichado "preto, né?", de acordo com peritos.
O vídeo foi vazado por Diego Rocha Pereira, ex-operador de VT da Globo, demitido da emissora em janeiro do ano passado. Diante da repercussão, Waack foi afastado da bancada do Jornal da Globo em 9 de novembro. Na ocasião, a Globo comentou que era "visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações".
Waack, em entrevistas e comunicados oficiais da Globo, negou ser racista e disse não se lembrar do que disse a Paulo Sotero no fatídico 8 de novembro de 2018.
Procurada, a Globo disse apenas que a "informação não procede". O Notícias da TV, contudo, as obteve de três fontes diferentes, duas delas portadoras de cópia do documento, que receberam em caráter confidencial.
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