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REALITY SHOW

Mesmo com padrão BBC, Drag Race UK não chega aos pés de versão dos EUA

Fotos: Divulgação/BBC

A apresentadora RuPaul na primeira temporada da versão britânica do RuPaul's Drag Race

A apresentadora RuPaul na versão britânica do Drag Race: novo reality show deixou a desejar

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 24/11/2019 - 7h08

Lançado em 2009 nos Estados Unidos, o reality RuPaul's Drag Race se tornou um fenômeno de cultura pop no mundo todo e já ganhou 13 prêmios Emmy. Também gerou um filhote, o All Stars, e uma edição com celebridades vem aí. Mas foi a edição UK, no Reino Unido, que levantou a grande questão: a corrida das drags tem relevância na terra da rainha?

A primeira temporada acabou na semana passada e, apesar de ser exibida na BBC, maior rede do país e que mantém um padrão de qualidade elevadíssimo, o programa não chegou aos pés de sua versão americana.

Dez participantes foram fisgadas para a primeira vez do programa no estrangeiro. E, em um reality show, tudo é uma questão de elenco. De certa forma, RuPaul está protegida pela suposição de que o resto do mundo não vai ter informações privilegiadas sobre o tipo de drag queen que caminha pelas ruas da Inglaterra. Contudo, como sempre, várias de suas decisões foram questionáveis.

As primeiras quatro eliminações sinalizaram algumas dessas escolhas. A estrutura de Drag Race sempre permitiu desníveis, o que tornava a competição mais dinâmica e diversificava o elenco. Porém, quando o programa chegou ao Reino Unido, devia ter levado consigo alguns itens dessa estrutura já estabelecida, que ficaram de fora da nova versão. Participantes de nível eram importantes para a competição.

Por conta das leis britânicas com relação a programas de TV feitos com verba pública (toda a programação da BBC é bancada pela população), é proibido que haja qualquer tipo de compensação financeira para civis que apareçam nessas atrações. Sendo assim, a produção foi impedida de oferecer tanto os prêmios individuais menores quanto o principal, de US$ 100 mil (R$ 420 mil).

Para conseguir manter o interesse das participantes, RuPaul inventou uma premiação alternativa, uma viagem para os Estados Unidos para a criação de um programa próprio, agenciado pela própria equipe de Ru. É claro que o título, a coroa, também conta. Mas a questão é que, na versão americana, o dinheiro se mostra um grande ponto de tensão, e Drag Race UK perdeu isso.

Divina de Campo (à esq.), The Vivienne e Baga Chipz, as finalistas de RuPaul's Drag Race UK

Logo na primeira eliminação, ficou claro que Gothy Kendoll não tinha talento para nada que exigisse dela mais do que andar em linha reta. Depois foi Scaredy Kat, que tinha virado drag queen recentemente e afirmava ser bissexual. Vinegar Strokes escapou ilesa nas duas primeiras semanas, mas todas as vezes que ela adentrava a passarela com suas roupas escabrosas, a confiança do público diminuía.

Não foi fácil para quem estava acostumado a acompanhar as versões americanas... O humor britânico tem um tempo diferente, mas também depende de um conjunto de referências que nem sempre eram tão acessíveis. A produção do programa também se empenhava em fazer desafios muito semelhantes aos dos Estados Unidos, as meninas só reagiam de uma maneira diferente.

O resultado foi ambíguo. As participantes tinham rivalidades declaradas, casos das finalistas Divina de Campo e The Vivienne, mas os atritos característicos do formato simplesmente não deram as caras ali. Sem a tensão que justificaria um bom tempo de tela para uma drag, o público precisaria se apoiar no talento, o que virou um problema ao se levar em conta o que essas meninas conseguiam mostrar. Divina, Baga Chipz e Vivienne podiam fazer muito, mas as expectativas paravam aí.

Com apenas oito episódios, o programa teve que apelar para uma edição nervosa. Isso ficou muito evidente no penúltimo capítulo, quando Baga encontrou a mãe para um makeover. Seu tratamento com ela foi tão ruim que deixou o público em choque nas redes sociais. Foi o mais perto que o reality chegou de uma polêmica real, mas que não foi levada muito adiante. No episódio final, tudo foi esclarecido.

A escolha de RuPaul para a vencedora foi controversa, mas justa. A final promoveu humanizações importantes e uma ótima apresentação musical --assim como já tinha sido a dos girl groups. Boa escolha de canção, bons impulsos e Divina claramente melhor na sincronia e ousadia. Vivienne, então, ganhou os elogios principais. As duas ficaram juntas para a dublagem e de novo, Vivienne passou à frente, em detrimento dos ótimos movimentos de Divina.

Entretanto, não dá para negar que o legado de Vivienne (sobretudo depois do que ela passou) pode ser positivo para muita gente --e também para ela mesma. Drag Race UK já foi renovado para a segunda temporada: o objetivo agora precisa ser melhorar a premiação, selecionar mais talento e menos semblante. Mas também é necessário respeitar que o ritmo é outro, justamente porque as geografias são outras.

Forte, engraçada, emocional, cortante... A corrida das drags é tudo isso, só não pode ser enfadonha. Esse ano, por pouco, ela quase foi. Sem prêmio, seguiu morna até o final. Correta, segura, mas pouco divertida. A experiência, contudo, foi iniciada. Em 2020, a Drag Race UK pode retornar à TV irreconhecível. Que seja, então, porque está "montada" dos pés à cabeça.

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