FRUSTRAÇÃO
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Renata Agostini e Thaís Arbex: funcionárias da CNN se frustraram com documentário sobre golpe
A CNN Brasil enfrentou uma crise nos bastidores da produção do documentário sobre os atentados golpistas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. As jornalistas Renata Agostini e Thaís Arbex, responsáveis pelo projeto, ficaram frustradas com a edição que foi ao ar e pediram demissão do canal. Uma entrevista chapa-branca com Jair Bolsonaro foi a gota d'água.
Renata, Thaís e Jussara Soares encabeçaram Ataque aos Poderes: Um Breaking News que Abalou a Política Brasileira, documentário exibido em cinco partes pelo canal de notícias. De acordo com o colunista Gabriel Vaquer, do site F5, as idealizadoras ficaram de fora da edição final do material e não gostaram do resultado.
A produção solicitou uma entrevista com o ex-presidente, que aceitou falar, mas o canal escalou o âncora Leandro Magalhães para conduzir a conversa em vez de uma das três idealizadoras. Renata, Thaís e Jussara não gostaram do tom adotado. Elas sentiram falta de firmeza nas perguntas sobre o envolvimento de Bolsonaro nos atos antidemocráticos, cujo objetivo era um golpe de Estado que o beneficiaria.
Na entrevista, Jair Bolsonaro se disse inocente da acusação e não foi rebatido pelo âncora. As investigações são citadas de forma vaga em uma narração. O Notícias da TV confirmou a insatisfação das criadoras do documentário, que pediram que o crédito fosse retirado após a exibição da primeira parte --o que foi acatado pela CNN Brasil.
Nos bastidores, profissionais do canal ponderam que o projeto não era autoral das três jornalistas, mas um trabalho coletivo. Segundo fontes, um documentário desse tipo precisa de mais de uma dezena de profissionais para ser colocado no ar.
O Notícias da TV procurou a CNN Brasil e questionou o canal sobre as queixas das jornalistas a respeito da frustração com a edição do documentário. A empresa confirmou os pedidos de demissão, mas não deu informações sobre os motivos.
O Notícias da TV apurou que Thaís Arbex e Renata Agostini já estavam insatisfeitas e falavam em sair do canal de notícias havia algum tempo. A edição do documentário foi a gota d'água para que elas pedissem o desligamento.
Thaís saiu oficialmente da emissora na quarta (30) e foi convidada para trabalhar no Ministério da Justiça, com Ricardo Lewandowski. Já Renata Agostini foi desligada na quinta (1º). A analista de política e economia já não aparecia na programação da CNN desde o início do mês.
"A decisão de sair foi minha. Agradeço à CNN por esse período. Desejo sucesso aos muitos amigos que ficam. Vocês brilham! Chegou o momento de novos ares, de novos projetos... No jornalismo, claro! Não largo essa mania de amar esse ofício. Vou tirar uns dias para descansar com família e amigos", comunicou Renata no Instagram, nesta sexta (2).
A reportagem apurou que as decisões de João Camargo, presidente da CNN Brasil, também têm desagradado funcionários contratados no projeto inicial do canal, que abriu suas portas no Brasil em 2020. A franquia brasileira passou por um período conturbado entre 2022 e 2023, com cortes de gastos, reajustes salarias, reformulação de programas, fechamento de sucursais e saídas de medalhões do canal como Monalisa Perrone e Gloria Vanique.
Camargo afirmou que a expectativa é de que a CNN Brasil comece a se reerguer a partir deste ano. Ele renovou contrato por mais 12 anos com a matriz norte-americana do portal de notícias. Segundo ele, o objetivo é de que a empresa se torne um canal forte de hard news, deixando de lado o tom crítico e opinativo.
"Está tudo azeitado. Foi um ano difícil de arar e de carregar o arado nas costas. Renovamos o contrato com a CNN, reduzimos (cortes) a casa e deixamos saudável... Agora é só colher", contou ele em entrevista ao site Na Telinha, em dezembro.
"Estamos muito animados. A casa está boa. Quem ficou e o salário era muito caro, renegociamos os contratos. Ninguém ficou aqui com salário de 2022. Quando eu entrei aqui e vi, era qualquer coisa menos uma empresa. Então, fiquei em 2023 consertando a casa, mudando, entendendo, tirando os adjetivos, treinando os redatores e jornalistas", concluiu João Camargo.
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