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ELIARA SANTANA

Jornal Nacional ajudou a eleger Bolsonaro? Pesquisadora analisa viés político

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

William Bonner nos estúdios do Jornal Nacional

William Bonner é âncora e editor-chefe do Jornal Nacional; pesquisadora analisou telejornal

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 16/7/2022 - 20h25

A pesquisadora Eliara Santana, que atua como professora, jornalista e linguista, entende que o Jornal Nacional atuou como uma ferramenta política para ajudar a eleger Jair Bolsonaro. Segundo a análise feita por ela, desde 2015, o noticioso construiu uma narrativa contra o PT (Partido dos Trabalhadores) e, consequentemente, contra Luiz Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, naturalizava as falas e posicionamentos do atual presidente.

Em uma entrevista ao canal do YouTube da TV 247 neste sábado (16), a acadêmica exemplificou esse movimento, atestando uma mudança da linha editorial do telejornal da Globo. Eliara citou dados que estão em sua pesquisa sobre o assunto, reunidas no recém-lançado livro Jornal Nacional: um ator político em cena.

Um desses exemplos é o da edição de 29 de setembro de 2018, um sábado, quando o JN dedicou quatro minutos para cobrir o movimento "Ele Não", que tomou as ruas das cidades de todo o país. Na época, centenas de pessoas clamavam contra Jair Bolsonaro, que naquele momento era candidato à presidência. 

Na mesma edição, lembrou Eliara, o noticioso abriu outros quatro minutos para uma entrevista exclusiva com Bolsonaro, que saía do hospital depois do episódio da facada. "Ocorreu um processo de naturalização desse candidato, que era um candidato declaradamente homofóbico, machista, racista --em função disso, um movimento de mulheres 'Ele Não'", explicou a professora. 

"Daí o jornal traz uma entrevista exclusiva mostrando exatamente um aspecto contrário. Ou seja, ele falava da filha. Ele chorou durante a entrevista. Temos aí essa naturalização, uma construção discursiva, construção da notícia como discurso, a construção de uma narrativa de humanização e naturalização de um candidato. E em um momento muito importante", destacou.

Mudança narrativa sobre Lula

Em outro momento da entrevista, Eliara explicou que, ao mesmo tempo, verificou uma mudança discursiva em relação ao ex-presidente Lula. Antes de o petista deixar a prisão em 2019, a comunicação era feita com o objetivo de reforçar um simbolismo de corrupção.

Em uma reportagem de 1º de outubro de 2018, por exemplo, a cinco dias do primeiro turno das eleições, o Jornal Nacional fez uma reportagem anunciada com "Em delação premiada, Palocci diz que Lula sabia da corrupção da Petrobras", que durou nove minutos e meio.

"A abertura é esse famoso fundo vermelho, com esse cano nesse duto todo carcomido e aí explode dinheiro. Essa é uma abertura muito interessante porque, na medida que o locutor vai falando, a imagem vai caminhando", narrou Eliara. "É uma construção simbólica", definiu.

Na sequência, a professora mostrou outros exemplos que a imagem era exibida no Jornal Nacional, sendo que, na maioria, a notícia veiculada era positiva, dissociada de corrupção. "O telespectador estava sendo interpelado. porque a notícia era positiva, a notícia dizia que não havia corrupção, mas a imagem para compor a notícia era essa", explicou.

"Era a imagem que remetia à ideia de corrupção, então não adiantava a juíza dizer algo porque a imagem projetada pelo Jornal Nacional dizia outra coisa, criava outra informação, destacava um outro aspecto do que estava sendo trazido à tona", reforçou. 

"Mesmo em notícias que eram do viés positivo, que não traziam mais à cena a corrupção, ela simbolicamente estava marcada na construção daquela notícia, o enquadramento ainda era a corrupção. Então esse fundo foi muito marcado, é uma construção simbólica muito importante", resumiu. 

Eliara reforçou que a imagem esteve presente no programa desde 2015, sendo que a Lava Jato começou em 2014. "E [a imagem] permanece até a saída do ex-presidente Lula da prisão, aí o fundo desaparece", lembrou. Naquele dia, o Jornal Nacional mudou a narrativa e deixou Lula falar diretamente, no discurso após a soltura, sem a interrupção de repórteres.

Veja a entrevista de Eliara na íntegra no vídeo abaixo. 


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