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MUITO TRABALHO

João Emanuel Carneiro reclama de capítulos de novela: 'Invejo os autores de séries'

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Com blusa azul e calça cinza, João Emanuel Carneiro está sentado, segurando um microfone, e olhando para o lado no palco do Festival Acontece

João Emanuel Carneiro no evento Festival Acontece, nos Estúdios Globo: autor falou sobre novelas

CARLA BITTENCOURT, colunista

carla@noticiasdatv.com

Publicado em 16/4/2024 - 14h00

Autor de novelas de sucesso como A Favorita (2008) e Avenida Brasil (2012), João Emanuel Carneiro gostaria mesmo era de escrever projetos mais curtos. Prestes a estrear Mania de Você, após Renascer a partir de setembro, o autor usou um evento da Globo para reclamar da quantidade de capítulos de uma novela, que chega a ter 173 em média. "Invejo os autores de séries, que escrevem 20 episódios! Isso é um luxo", disse Carneiro durante o Festival Acontece, realizado na última semana nos Estúdios Globo.

Criador de A Cura (2010), que teve 9 episódios, e Todas as Flores (2022), que teve 85, o novelista afirmou que o trabalho diário de colocar uma história longa na rua não é nada fácil. "Roteirista no set? Comigo é impossível. Autor de novela é motorista de ônibus. Pega da Glória ao Leblon [dois bairros do Rio de Janeiro] e volta, está o dia inteiro trabalhando. Não tem como ir pro set, não tenho nem tempo pra isso", disse ele depois de ouvir que os autores das séries costumam acompanhar as gravações dos seus projetos.

Quando não está escrevendo, João Emanuel Carneiro fica de olhos e ouvidos atentos a tudo que possa virar história. "O escritor de novela tem que ter uma antena para o mundo e para o Brasil, sobretudo de captar o espírito do tempo que a gente vive. Eu acho que em Avenida Brasil eu consegui captar aquele espírito do tempo de 2012. A classe C estava acendendo financeiramente e, de certa forma, eu acho que entendi ali, ou intuí, que a elite não era mais uma coisa aspiracional", explicou ele.

E completou: "Aquele grã-fino da novela do Gilberto Braga [1945-1921], que foi durante tantos anos a aspiração de tanta gente, deixou de ser para o povo brasileiro. Quer dizer, a família do Tufão [Murilo Benício], suburbana, naquele outro contexto, com outra cultura, é muito mais aspiracional do que, talvez, a Odete Roitman [personagem de Beatriz Segall (1926-2018) em Vale Tudo (1988)]. Então, nesse sentido aqui, eu acho que o autor tem que captar, intuir e ter essa antena bem afiada  para o que está acontecendo no momento".

Preferência pelos vilões

Para criar as vilãs que o brasileiro ama odiar, o autor --veja só!-- também tira da cartola as experiências que teve com a literatura infantil. Até o filho, Pedro, de quatro anos, já sabe a preferência do papai pelas malvadas.

"Eu conto muita história de bruxa pra ele. Semana passada, ele falou assim: 'Papai, você adora bruxa, né?'. Eu gosto mesmo de bruxa, sempre gostei, desde pequeno. Maria Clara Machado [1921-2001] falava que a bruxa deixa a criança elaborar todas as sombras internas dela. Ela é necessária. Tem pessoas que acham que a criança não pode ser exposta a histórias ruins, mas todas são. João e Maria, Chapeuzinho Vermelho...", brincou.

Criador de Flora (Patrícia Pillar) e Carminha (Adriana Esteves), João Emanuel Carneiro considera o vilão um coautor de sua história: "Pra mim, os vilões são uma oportunidade que eu tenho de botar pra fora meus fantasmas e fazer coisas na ficção que eu jamais faria na vida real. Acho que é uma maneira de botar pra fora tudo isso. A figura do vilão é um segundo narrador da história, como se fosse um autor dentro de mim, porque é ele que promove a ação no folhetim, que leva pra frente a história. É um colega meu de narrativa. Sem ele, eu não consigo andar pra frente no tipo de história que eu faço".

Apesar da trabalheira que dá e da reclamação sobre o tempo de tela de uma mesma trama na TV, João Emanuel Carneiro é um entusiasta do folhetim e prevê ainda vida longa ao gênero. "As pessoas ainda assistem muito a novela. Acho, inclusive, que novela está só começando a carreira dela. Na verdade, não só não está diminuindo, como está aumentando, porque a Turquia começou a fazer novela. Outros países do mundo começaram a fazer novela", opinou.

E sobre a mudança no formato, João Emanuel afirmou que é uma necessidade dos novos tempos: "Acho que há uma influência da vida, tal como ela é. Se a gente pensar no mundo de 50 anos atrás, era um mundo mais agrário. As pessoas tinham vidas mais quietas, a vida seguia um ritmo muito lento. Hoje em dia, a vida das pessoas começa a ser muito rápida, e elas querem também coisas que correspondam à vida delas. Então, hoje, uma pessoa numa grande cidade, ela faz 500 coisas por dia. A novela tem que acompanhar esse ritmo".


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