Memória da TV
Divulgação/Governo de SP
Orestes Quércia foi eleito governador de São Paulo em 1986, sem cobertura da Globo na votação
THELL DE CASTRO
Publicado em 28/10/2018 - 8h45
Uma greve de funcionários da TV Globo de São Paulo tirou a emissora da cobertura das eleições de 1986. Os telespectadores fiéis da capital paulista acompanharam as notícias da votação somente no interior do Estado. A paralisação dos radialistas durou dois dias.
O pleito, que elegeu governadores, deputados e senadores em todo o Brasil, foi realizado no feriado de 15 de novembro, que caiu em um sábado. Em São Paulo, Orestes Quércia (1938-2010) foi eleito para administrar o Estado até 1991.
O movimento, que teve a adesão de quase todos os 370 funcionários enquadrados como radialistas (desde operadores da técnica central até motoristas), começou no fim da noite de 13 de novembro, pouco depois da empresa divulgar uma contraproposta às reivindicações dos profissionais.
"Uma greve de radialistas e técnicos da TV Globo tirou do ar toda a programação que seria gerada na capital paulista e pode comprometer o esquema da emissora para a cobertura das eleições em São Paulo", informou o Jornal do Brasil (JB).
Estavam prontas nada menos do que 14 equipes de trabalho e a previsão era a geração de 35 boletins diários. A emissora foi obrigada a exibir a edição de Bauru do telejornal SPTV. Sem os radialistas, os jornalistas da capital não tiveram condições de produzir suas reportagens.
"Os paulistanos ficaram sabendo, dessa maneira, que o número de portugueses com dupla nacionalidade residentes em Bauru é grande e todos deverão votar num mesmo clube daquela cidade do interior paulista", trazia também a reportagem do Jornal do Brasil.
reprodução/tv globo
Vinheta da Globo da cobertura das eleições de 1986; greve deixou telespectador sem notícias
Mas não foi somente o telejornal que dançou. No horário do Bom Dia São Paulo, a Globo reprisou o Bom Dia Brasil (na época era exibido antes do noticiário local). O público também ficou sem o Globo Esporte da capital. Teve que acompanhar as notícias esportivas dos times do Rio de Janeiro.
"A pauta de reivindicações dos radialistas da Globo, entregue terça-feira ao diretor de Recursos Humanos, Antônio Carlos Ferreira, inclui, além de aumento de 50%, o pagamento de um adicional de 100% pelas horas extras, elevação do valor nominal dos vales de refeição e o fim de acúmulo de funções", explicou o texto do JB.
A Globo, por sua vez, propôs um aumento de 7,5%, concordou em elevar o valor dos vales de refeição para Cz$ 25 (os trabalhadores queriam Cz$ 30; Cz$ era a cifra de cruzados, moeda da época) e não respondeu aos demais itens. Resultado: O acordo não saiu.
De volta ao trabalho
Em entrevista ao JB, o então superintendente comercial da emissora em São Paulo, Antônio Athayde, "desmentiu a hipótese de que funcionários de outras praças, principalmente do Rio de Janeiro, seriam deslocados para São Paulo para suprir a ausência dos grevistas, se o movimento persistisse".
Mas a greve durou pouco. No dia 16, os trabalhadores já voltaram aos seus postos. Em entrevista ao Jornal do Brasil do dia seguinte, o presidente do sindicato da categoria, Francisco Campos Pacheco, o Chiquinho, disse que "o fôlego estava esvaziando". Pouco antes da assembleia que encerrou a paralisação, a emissora acabou retirando a contraproposta feita. "Devíamos ter aceito essa proposta", admitiu o mandatário.
A greve prejudicou a cobertura do dia da votação. Os paulistanos sintonizados na Globo só ficaram sabendo como foi o pleito no interior do Estado. Com imagens bastante precárias do Anhembi, onde era realizada a contagem dos votos, repórteres tinham que entrar por telefone para dar os primeiros números. Vale lembrar que, naquela época, a contagem dos votos levava vários dias e mobilizava esquemas paralelos dos canais.
A emissora conseguiu mostrar a apuração e retomou a exibição normal de sua programação na cidade, participando ativamente de todas as coberturas de eleições até os dias de hoje.
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