Memória da TV
Reprodução/Globo
Abertura de Deus nos Acuda mostrou alta sociedade mergulhada em lama cenográfica
REDAÇÃO
Publicado em 31/8/2017 - 6h06
O momento político que o Brasil vive em 2017 é um dos mais sujos da história. Há 25 anos, quando Fernando Collor de Mello sofreu impeachment, não era muito diferente. A dramaturgia captou o espírito da época e afundou o país na lama de segunda a sábado, em rede nacional, ao longo de sete meses. Em 31 de agosto de 1992, estreava na Globo a novela Deus nos Acuda, cuja abertura fazia uma crítica à roubalheira, à ostentação e à corrupção da política e da classe mais rica no país.
Produzida por Hans Donner, a abertura da novela mostrava uma festa da alta sociedade, com homens e mulheres bem vestidos, risadas, insinuações sexuais e bebida. Aos poucos, o ambiente era inundado por lama, que submergia todos os convidados. No final, carros, lanchas e cruzeiros apareciam num redemoinho de lama, que escorria por um buraco na forma do mapa do Brasil.
A sequência durava pouco mais de um minuto, mas a abertura deu trabalho para Donner. Nos antigos estúdios da Globo em Guaratiba, bairro do Rio de Janeiro, foi construída uma gaiola suspensa sobre uma piscina, com seis metros por oito e chão de arame vazado. A gaiola ia descendo (pendurada por um guindaste) sobre a piscina, até que os figurantes ficassem mergulhados na lama.
O material utilizado nas gravações não era lama de verdade, mas sim uma mistura de isopor ralado, tinta preta, anilina e álcool _o que dava uma aparência mais próxima de pixe.
"Foram utilizadas cinco câmeras: três presas nas paredes do cenário, para descerem junto com ele; uma no teto, registrando a cena de cima para baixo; e outra sobre uma plataforma de isopor, que passeava entre os convidados da festa. Cada descida da gaiola na piscina durava 17 segundos e a cena só podia ser rodada uma vez ao dia, já que as roupas dos modelos tinham quer ser lavadas a cada gravação", disse Donner ao site Memória Globo. No total, as gravações duraram oito dias.
divulgação/globo
Dercy Gonçalves interpretou anja responsável pelo Brasil na novela Deus nos Acuda, em 1992
Corrupção em segundo plano
A abertura de Deus nos Acuda foi a investida mais política de toda a novela, e muito da repercussão aconteceu pelo momento pertinente em que a trama foi ao ar. O país assistia ao processo de impeachment de Fernando Collor, que teve início um mês após a estreia. Ele renunciou ao cargo em 29 de dezembro de 1992.
Segundo depoimento do autor Silvio de Abreu ao Memória Globo, a conclusão do impeachment de Collor esvaziou um pouco a discussão política na trama de Deus nos Acuda. Havia cobrança para que a novela pegasse mais pesado nas críticas à corrupção e à desonestidade no país, mas a história acabou ganhando mais força no humor e nos dramas familiares.
O destaque maior foi para o casal Maria Escandalosa (trambiqueira, interpretada por Claudia Raia) e Ricardo Bismarck (bom caráter, papel de Edson Celulari). Os dois, que nem se conheciam antes do trabalho, ficaram noivos durante a novela e se casaram em 1993 (o relacionamento terminou em 2010).
Dercy Gonçalves, então com 86 anos, também roubou a cena. Ela viveu a anja Celestina, encarregada de cuidar do Brasil. Atrapalhada e indisciplinada, provocou confusões na Terra e levou um ultimato de Deus: deveria tornar um cidadão brasileiro mais honesto e solidário se quisesse manter seu posto no Céu.
Celestina escolheu Maria Escandalosa e quebrou leis divinas para protegê-la. No final, a anja torta foi absolvida por Deus.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.