Menu
Pesquisar

Buscar

Facebook
X
Instagram
Youtube
TikTok

Memória da TV

Em 1994, escândalo envolvendo Globo e parabólicas derrubou ministro da Fazenda

Reprodução/GloboNews

Rubens Ricupero em entrevista que concedeu ao programa Diálogos, da GloboNews, em janeiro deste ano - Reprodução/GloboNews

Rubens Ricupero em entrevista que concedeu ao programa Diálogos, da GloboNews, em janeiro deste ano

Thell de Castro

Publicado em 14/4/2019 - 7h23

Em 1º de setembro de 1994, durante intervalo de uma entrevista ao jornalista Carlos Monforte, da Globo, Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, fez declarações que escandalizaram o país e lhe custaram o emprego. A polêmica conversa foi captada por antenas parabólicas em todo o Brasil, já que o canal de satélite da Embratel utilizado pela emissora estava aberto. Ficou conhecido com o "escândalo das parabólicas".

Naquele dia, Ricupero participou ao vivo ao Jornal Nacional para falar sobre o Plano Real, lançado no início daquele ano. Depois disso, a emissora aproveitou para gravar outra entrevista, para o Jornal da Globo. "Enquanto técnicos preparavam o equipamento, Ricupero e Monforte conversavam, sem saber que estavam no ar", destacou o Jornal do Brasil de 3 de setembro daquele ano.

Sobre a maratona de participações em programas de televisão, Ricupero disse que não via problema nisso. "Não tem problema, Monforte. Isso é bom para mim, bom para o Real e é bom para o Fernando [Henrique Cardoso]", disse. 

FHC estava em plena campanha ao Palácio do Planalto, e o ministro foi acusado pela oposição de usar a máquina pública para beneficiá-lo. No entanto, foi outra declaração que mais chamou a atenção de quem assistiu --e do presidente Itamar Franco (1930-2011), que leu a íntegra nos jornais do dia seguinte: "Eu não tenho escrúpulos, o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".

Alguém avisou que o sinal estava aberto. "Olha, é para não falar mais porque está pegando toda a conversa na parabólica", disse Monforte. "Tinham que ter avisado antes", rebateu o ministro, incomodado.

Ricupero na conversa polêmica com Carlos Monforte em 1994 (Reprodutção/TV Globo) 

"No Jornal da Globo daquela noite, Lilian Witte Fibe deu esclarecimentos sobre o papel da Globo na eleição, que não faziam sentido para o telespectador que não tem parabólica. Era resultado da chuva de ligações que a emissora recebeu após a transmissão indiscreta. Ontem, no Jornal Nacional, Cid Moreira repetiu as explicações de que a Globo não apoia qualquer candidato", informou o JB.

Ainda segundo o jornal, Ricupero telefonou na manhã seguinte para Itamar Franco. "Foi apenas uma brincadeira", disse. "O ministro disse ainda a Itamar que Monforte é seu primo e que o grau de parentesco permite esses comentários, em tom de galhofa", completou. O presidente teria aceito as desculpas e assegurado que o fato não teria maiores consequências.

Mas não foi o que aconteceu. O ministro, muito pressionado, pediu demissão. "Ele já estava praticamente fora do governo ontem de manhã", destacou o JB de 4 de setembro.

"Para substituí-lo, fontes do governo informam que o presidente optará por uma solução interna, fixando-se nos nomes de Pedro Malan, presidente do Banco Central, ou Edmar Bacha, assessor especial", completou a publicação. O escolhido acabou sendo Ciro Gomes.

"Foram considerados muito fortes, também, os comentários sobre a ação dos empresários produtores de bens de consumo duráveis. 'É tudo bandido', disse o ministro", enfatizou o jornal.

Ministro traído

No dia 5 de setembro, o JB informou que Ricupero se sentia traído pela Globo. "O embaixador deixa o cargo de ministro sentindo-se traído pela Globo. Amigos observaram que, na edição do Jornal Nacional de sábado, a direção da empresa não assumia qualquer responsabilidade pela transmissão da conversa", explicou.

No mesmo dia, Ricupero pediu desculpas à população: "Fui provavelmente vítima, além do cansaço físico, de um processo em que a excessiva exposição à mídia e ao calor popular inflou minha vaidade. Sem querer justificar o injustificável, repudio os trechos da conversa em que deixo transparecer uma opinião vaidosa e arrogante sobre mim e sobre o meu trabalho à frente do Ministério da Fazenda. Não é esse o comportamento que sempre tive, não é essa a minha regra de conduta", declarou.

A Folha de S.Paulo de 11 de setembro informou que o escândalo fez crescer a procura por antenas parabólicas no mercado. "Duas das principais fabricantes nacionais, a Antenas Santa Rita e a Plasmatic, se preparam para aumentar as vendas", informou. Na época, a estimativa era de que existiam 1,5 milhão de parabólicas no Brasil.

Vale lembrar que, alguns meses antes, durante a Copa do Mundo de 1994, as parabólicas já tinham captado Galvão Bueno reclamando da atuação de Pelé como comentarista da Rede Globo.

"Eu sei o que estão dizendo: 'Fala para o Pelé não falar'. Só se eu matar ele, cara. Ele vem aqui e mete a mão no microfone, abre e fala. Quem contratou, conversa, pô", esbravejou.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

Mais lidas


Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.