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MEMÓRIA DA TV

Em 1988, Silvio Santos barrou Gugu na Globo com proposta milionária

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Gugu Liberato e Silvio Santos em 1988, quando o apresentador quase foi para a Globo - Divulgação

Gugu Liberato e Silvio Santos em 1988, quando o apresentador quase foi para a Globo

THELL DE CASTRO

Publicado em 22/8/2016 - 5h21

Um dos episódios mais emblemáticos dos bastidores dos 35 anos do SBT aconteceu no início de 1988. Uma das maiores estrelas da casa Gugu Liberato, aceitou proposta da Globo para comandar um programa de auditório nas tardes de domingo. Mas, antes mesmo de estrear na nova emissora, recebeu uma proposta irrecusável de Silvio Santos e voltou atrás.

Gugu já trabalhava com o dono do SBT havia uma década e, desde 1982, apresentava o Viva a Noite aos sábados, com bons índices de audiência, muitas vezes na liderança.

No entanto, as perspectivas de crescimento, pelo menos a curto prazo, paravam por aí, já que Silvio Santos sempre foi o dono dos domingos e não pensava em dividir o horário tão cedo. O sonho de Gugu era justamente comandar uma atração nas tardes desse dia.

Insatisfeito, Gugu recebeu uma proposta da Globo para assumir as tardes de domingo, o que seria um período complicado, porque sofreria justamente a concorrência de seu então patrão. 

Na Globo, Gugu ganharia 750 mil cruzados por mês, o dobro do que recebia no SBT. O contrato dele terminava em março e, até o final, ele apresentaria o Viva a Noite. Enquanto isso, fez várias reuniões na nova casa e até o cenário do programa foi construído, ao custo de 8 milhões de cruzados.

Mas, em janeiro de 1988, veio a reviravolta. Silvio Santos sofreu um forte baque ao ver piorar um problema nas cordas vocais que o afligia havia algum tempo. Ele, que já havia retirado um tumor benigno do olho no ano anterior, estava ficando cada vez mais rouco. Os médicos pediram para ele se poupar, algo impossível para quem usou a voz como instrumento de trabalho durante toda a vida.

Após uma viagem aos Estados Unidos, um médico confirmou o diagnóstico realizado no Brasil e ainda descobriu que o animador era alérgico a alguns itens que sempre estavam nos estúdios onde grava, como tinta e ar condicionado.

Resultado: pela primeira vez em mais de 20 anos, Silvio Santos ficou sem apresentar seu programa regularmente. Durante quatro semanas, em janeiro de 1988, o SBT colocou enlatados no lugar, e o Ibope da emissora foi bastante prejudicado. Também não se sabia se o animador voltaria ou diminuiria sua carga de trabalho. Até mesmo sua aposentadoria foi cogitada.

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Gugu Liberato na década de 1980, quando comandava o programa Viva a Noite no SBT

Proposta irrecusável

Ainda em janeiro de 1988, Silvio Santos procurou Gugu e fez uma proposta irrecusável para ele continuar no SBT. Ofereceu um contrato de cinco anos, com um salário mínimo de 50 mil dólares por mês. Passou a ser o artista mais bem pago da televisão brasileira, com um adiantamento de 300 mil dólares, mais participações em merchandising e anúncios.

Além do Viva a Noite, o apresentador teria quatro horas aos domingos, independentemente da audiência, e passaria a ser considerado o sucessor de Silvio Santos na programação. Se ficasse doente ou fosse impedido de atuar, teria um cargo executivo no SBT durante cinco anos, com o mesmo salário.

O "patrão" também se predispôs a negociar a multa contratual e todas as burocracias e traumas de seu rompimento com a Globo. Tudo isso foi oferecido pelo próprio Silvio Santos, que escreveu de próprio punho em um papel.

Gugu, evidentemente, acabou aceitando. "Na hora em que ouvi a proposta, levei um susto. Silvio estava me dando, além de inúmeras vantagens econômicas, a possibilidade de substituí-lo", disse Gugu à revista Veja de 17 de fevereiro de 1988.

Os dois foram até a Globo e comunicaram a decisão a José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. O então vice-presidente de operações da emissora disse que não poderia fazer muita coisa e que a multa teria que ser negociada diretamente com Roberto Marinho.

Silvio Santos conversou com o dono da Globo, que disse: "Silvio, nossos advogados ganham bem o suficiente para cuidar dessas questões contratuais". Em seguida, eles, que não se falavam havia 11 anos, ficaram conversando sobre pesca submarina, uma das paixões do empresário global.

Posteriormente, Gugu também teve uma rápida conversa com Roberto Marinho e disse que realmente queria ficar no SBT. Não havia mais o que ser feito.

"Não nego que aceitei a proposta do Silvio porque, economicamente, ela é irrecusável. Mas também a aceitei emocionalmente porque cresci no SBT, admiro muito Silvio Santos, terei a chance de substituí-lo e, ainda, porque ele me chamou por estar com problemas de saúde", disse Gugu na mesma reportagem da Veja.

Conforme o acordo, o apresentador ganhou suas horas na programação dominical, com atrações como TV Animal, Corrida Maluca, Passa ou Repassa, Cidade Contra Cidade, entre outras. Nos anos 1990, surgiu o Domingo Legal, que elevou ainda mais seu patamar na emissora. Gugu ficou no SBT até 2009, quando foi para a Record, onde está até hoje.

Com a reviravolta, Fausto Silva, que ainda estava na Band com o Perdidos na Noite, viria a ser contratado no segundo semestre de 1988, e assumiria os domingos da Globo. 


THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro


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