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Memória da TV

Em 1988, Band e Manchete exageraram na pornografia no Carnaval e foram punidas

Reprodução

Otávio Mesquita com Rogéria na transmissão do Gala Gay, baile tradicional do Rio de Janeiro - Reprodução

Otávio Mesquita com Rogéria na transmissão do Gala Gay, baile tradicional do Rio de Janeiro

THELL DE CASTRO

Publicado em 3/3/2019 - 7h39

Um dos carnavais mais polêmicos da história da televisão brasileira foi o de 1988. A Band –ainda chamada de Bandeirantes– e a extinta Manchete exageraram na pornografia durante as transmissões dos bailes daquele ano e chegaram a ser punidas pelo governo, que até cogitou a cassação das concessões dos dois canais.

No dia 20 de fevereiro de 1988, o Jornal do Brasil informou que o Ministério das Comunicações divulgou o relatório final do Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações) sobre as transmissões dos bailes Champagne e Gala Gay, no Scala, e Baile das Panteras e Uma Noite em Bagdá, no Monte Líbano.

"As emissoras mostraram de tudo um pouco. Palavras ofensivas à moral e aos bons costumes, masturbação, sexo oral, cenas de homossexualismo e por aí afora. Segundo o relatório, na transmissão do Gala Gay, já na madrugada da Quarta-Feira de Cinzas, a Bandeirantes exibiu homens sugando seios, enfiando os dedos atrás e na frente. Seios esfregando em outros seios", relatou o jornal.

E continuou: "No baile Uma Noite em Bagdá, na mesma madrugada, o repórter da emissora pede que uma moça mostre alguma coisa e ela mostra os seios e puxa a calcinha para o lado e mostra o sexo. Depois a câmera mostra uma moça se masturbando".

"Já a Manchete, segundo o relatório, caprichou nas 'mulheres sendo focalizadas de baixo para cima com as pernas abertas' e no 'desfile das gatas com biquínis transparentes, com close das câmeras e comentários maldosos'. A apoteose foi no Gala Gay, quando um repórter e um transexual travam longo diálogo sobre a operação de mudança de sexo. Que termina quando 'o gay levanta a saia e mostra o sexo feminino, sem nada em cima'", completou.

Otávio Mesquita na época em que era repórter dos bailes de Carnaval no Rio de Janeiro

Ao mesmo JB, em 12 de março, o então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), veio a público para mostrar sua indignação. "É um absurdo a televisão mostrar o que mostrou", declarou.

Então diretor de programação da Band, Eduardo Lafon (1948-2000) defendeu a cobertura: "A televisão não produz o Carnaval, apenas mostra a realidade dos bailes".

Já Adolpho Bloch (1908-1995), dono da Manchete, advertiu a equipe para evitar exageros. "Mas não pôde evitar as estripulias de seus apresentadores Otávio Mesquita e Ricardo Amaral e dos seus câmeras. "Algumas vezes tive de advertir os câmeras, porque eles iam se entusiasmando", diz Alcino Diniz, responsável pelas imagens que a Manchete pós no ar", exemplificou o jornal.

A imprensa começou a especular qual seria a punição que o governo daria aos canais. Cogitaram até cassação da concessão, possibilidade logo descartada. Também foi divulgado que os canais poderiam ficar fora do ar de 24 horas a 30 dias.

No dia 22 de fevereiro, foi anunciado que Band e Manchete seriam punidas pelos excessos cometidos nas transmissões: ambas ficariam fora do ar durante 24 horas.

"Embora a pena aplicada às duas tenha sido a mesma, a Bandeirantes foi considerada pelo ministério reincidente específica, já que há quatro ou cinco anos, pelo mesmo motivo –transmissão de cenas de Carnaval escabrosas, tinha recebido uma advertência", explicou o JB.

Mas isso não aconteceu. Alguns dias depois, em 8 de março, o mesmo JB noticiou que o caso ainda se arrastava. As emissoras se defenderam, mas ACM não aceitou as justificativas.

"O assessor do ministro explicou que as emissoras basearam suas justificativas nos horários de transmissão dos bailes. As emissoras argumentaram que as transmissões foram no horário de meia-noite às quatro da manhã, portanto de madrugada, quando somente os adultos ficam com os seus aparelhos ligados", destacou.

"As justificativas não convenceram, e o ministro não gostou do que viu no compacto gravado na fita cassete elaborado pela diretoria regional do Dentel. A edição é só de safadeza", afirmou o assessor ao jornal.

Em 12 de março, por fim, saiu a decisão definitiva. De acordo com a imprensa, o governo queria evitar ter dois canais contra ele no momento em que se discutiam pontos importantes da gestão. Dessa forma, as emissoras receberam apenas advertências escritas, tendo que apresentar a mensagem por dois dias consecutivos, em horário nobre, antes dos telejornais.

E as transmissões desses bailes, nesses mesmos moldes, continuaram por mais alguns anos.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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