MEMÓRIA DA TV
Reprodução/SporTV
Galvão Bueno em imagem de arquivo do Globo Esporte; ele teve de assumir narração às pressas
Publicado em 1/8/2021 - 6h25
Na primeira grande cobertura de Jogos Olímpicos realizada pela Globo, Galvão Bueno --ainda sem o status de principal narrador da emissora-- narrou, por acaso, um momento que acabou entrando para a história do esporte.
Realizada entre 28 de julho e 12 de agosto de 1984, a Olimpíada de Los Angeles, nos Estados Unidos, sofreu com o boicote da União Soviética e de seus aliados, que deram o troco em relação ao ocorrido na edição anterior, em Moscou. Mesmo assim, os Jogos fizeram sucesso.
Desde 1972, em Munique, na Alemanha, quando transmitiu a competição ao vivo pela primeira vez para o Brasil, a Globo enviava poucos profissionais e exibia só algumas competições ao vivo, privilegiando boletins e tapes no fim da noite.
Mas tudo mudou neste ano, quando foi preparada uma grande cobertura, incluindo a montagem de uma pequena emissora em Los Angeles, o envio de 100 profissionais e o uso de um satélite exclusivo.
O Brasil conquistou oito medalhas, sendo uma de ouro, com Joaquim Cruz, cinco de prata e duas de bronze. Mas o momento mais rememorado até hoje do evento foi a chegada da maratona feminina.
Poucos se lembram do nome da ganhadora da medalha de ouro, mas muita gente conhece a história da suíça Gabrielle Andersen-Schiess, que chegou cambaleante ao final da prova.
O evento acabou sendo transmitido ao vivo para o Brasil por Galvão Bueno, mas não era essa a previsão inicial. Ao projeto Memória Globo, o jornalista Marco Mora, um dos coordenadores da cobertura, disse que o locutor relutou para executar o trabalho.
"A grande narração da Olimpíada é aquela imagem com a narração do Galvão. E ficou, em princípio, uma discussão, porque o Galvão, elegantemente, não queria fazer porque tínhamos duas pessoas que estavam no estádio, Osmar Santos e Ricardo Pereira, mas que infelizmente, naquela hora, tinham saído da cabine", explicou Mora.
Galvão havia trabalhado, pouco antes, na exibição do Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula 1, junto com Reginaldo Leme. "Fomos para o estúdio de madrugada para fazer a transmissão. Terminou, fomos tomar café, estava passando pelo estúdio e surgiu essa imagem", contou o narrador.
"O Galvão me falava que não podia entrar e ocupar o lugar deles, porque eles estavam lá, vendo o que estava acontecendo. Eu falei que não tinha o menor interesse em saber e que ele não estava entendendo. Eles não estavam lá e eu precisava de alguém para narrar, senão ia colocar no ar sem nenhuma locução, porque achava aquilo relevante", completou Mora.
A emoção foi crescendo desde que a competidora entrou no Estádio Olímpico completamente extenuada. Para ajudar no clima, a Globo ainda colocou no ar uma trilha sonora emotiva para a chegada.
Galvão disse que, hoje em dia, não apoiaria o feito. "[Ela fez] toda aquela volta histórica, com uma demonstração de força de vontade indomável para conseguir terminar. Hoje, pensando bem, não deviam nem ter deixado, por questões de saúde e segurança, alguém devia ter impedido aquilo", enfatiza. "Mas foi contagiando todos que estavam no estádio, você percebia as pessoas em volta, fui nessa também", concluiu.
Dois anos depois, na Copa do Mundo de 1986, no México, Galvão voltou a ser favorecido pelo acaso, já que não seria o locutor dos jogos do Brasil na competição, que ficariam a cargo de Osmar Santos. No entanto, uma crise de hemorroidas do titular acabou possibilitando a ele que transmitisse a vitória brasileira contra a Argélia, ainda na fase de grupos.
Com exceção da Olimpíada de 1992, em Barcelona, na Espanha, quando estava se aventurando na Rede OM, Galvão é o principal narrador esportivo da emissora, alimentando reações de amor e ódio por parte dos telespectadores.
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