MEMÓRIA DA TV
Divulgação/TV Globo
Vera Fischer com os cabelos curtos e encaracolados em cena da novela Brilhante, exibida em 1981
THELL DE CASTRO
Publicado em 5/1/2020 - 8h19
Problemática novela das oito da Globo, com inúmeros contratempos em sua produção, Brilhante teve um fato ligado ao cabelo da protagonista de Vera Fischer que ajudou a aumentar a rejeição à trama. Ela mudou o visual radicalmente para estrelar o folhetim.
Concepção de Gilberto Braga e Daniel Filho, a novela estreou em 28 de setembro de 1981. Meses antes, Vera havia estrelado Coração Alado, de Janete Clair (1925-1983). Para marcar a diferença entre as personagens de tramas tão próximas, a atriz trocou os cabelos lisos, até o ombro, para um corte curto e com os fios encaracolados.
O problema maior foi que o tema de abertura de Brilhante foi composto e executado por Tom Jobim (1927-1994) especialmente para a novela, encomendado por Daniel Filho, e citava os cabelos de Luiza.
Em seu livro O Circo Eletrônico, o diretor conta que o maestro protestou na época e voltava ao assunto quando tinha oportunidade. "[Jobim] Depois me acusou de ter dado uma rasteira nele. É o seguinte: na música, ele se refere aos cabelos de Vera Fischer. Ainda sem saber disso, mandei cortar o cabelo dela para dar um ar mais simples. Ele sempre me cobrou essa 'traição'", destacou na obra.
Além de Jobim, o penteado também não conquistou os telespectadores, que ligavam para a emissora e reclamavam. Para resolver o problema, a figurinista Marília Carneiro teve uma ideia que acabou virando febre entre as mulheres: amarrou uma bandana ao pescoço da atriz.
"Me levaram em um cabeleireiro e eu levei um livro de arte com uma foto da Ingrid Bergman no filme Por Quem os Sinos Dobram. Era um cabelo curto e eu falei que podia ser feito assim. Quando eu vi, falei que não tinha pedido para fazer ondas. Vou ter que encarar as pessoas com essa cara", disse a atriz em depoimento ao projeto Memória Globo.
"A chamada da novela era para ser com meu cabelo louro, esvoaçante. Quando o Tom Jobim ficou sabendo disso, ficou enlouquecido. Aí eu usei os lencinhos de algodão, vermelhos, azuis, para chamar atenção no pescoço e não no cabelo. Aquilo era a minha moda e foi uma febre. Depois o cabelo foi crescendo e foi ficando liso, em camadas, e eu terminei a novela assim", completou.
O par romântico entre Vera Fischer e Tarcísio Meira e o mistério sobre a identidade do personagem de José Wilker (1944-2014) não funcionaram na trama. No entanto, a vilã Chica Newman, interpretada por Fernanda Montenegro, roubou a cena e conquistou o público, que torceu por ela no final.
A personagem, que era uma milionária esnobe, se redimiu e se casou com seu humilde motorista, vivido por Cláudio Marzo (1940-2015).
A atriz, inclusive, estava na novela anterior do horário, Baila Comigo, e teve sua trajetória na trama gentilmente encerrada por Manoel Carlos, com antecedência, para que pudesse entrar em Brilhante.
"Ela é minha atriz favorita e, desde que a vi pela primeira vez, não deixei de acompanhar sua carreira. Fernanda é companheira de trabalho admirável e dona Chica é uma grande personagem", destacou Braga em entrevista ao Jornal do Brasil de 14 de março de 1982.
Sobre o fracasso da novela, em outra entrevista, à revista Amiga, em 7 de abril de 1982, o autor tentou explicar o que houve.
"Uma série de fatores meio imponderáveis. Difícil, quase impossível, fazer qualquer tipo de análise científica. Sei que houve, no início, erros de narrativa, por exemplo. Histórias demais se intercruzando, acarretando uma grande dificuldade de captação. Personagens quase todos sem empatia, por falta de heroísmo. O público precisa de heróis, gente por quem torcer", enfatizou.
"Fiquei nervoso, perdido, triste, rejeitado. Principalmente porque eu gostava muito do que estava no ar. Talvez até mais do que a partir das correções. Mas lidar com esse tipo de problema só me enriqueceu", concluiu Braga.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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