LUTA LIVRE NA TV
Divulgação/AEW
Adam Page (à esq.) enfrenta o campeão Chris Jericho em um dos programas da "nanica" AEW
Enquanto as séries da TV aberta norte-americana tentam se destacar em um mercado cada vez mais saturado, uma briga inusitada tem rolado nos canais pagos e movimentado um setor que parecia esquecido: o telecatch, aqueles programas de luta livre em que os resultados são previamente combinados e os golpes são coreografados. E, como na história bíblica de Davi e Golias, nos ringues televisivos o nanico está levando a melhor sobre o gigante.
No caso, Golias seria a WWE (World Wrestling Entertainment), empresa que tem mais de 60 anos de história, com uma receita anual de quase US$ 2 bilhões (R$ 8,2 bilhões) e que detém praticamente o monopólio do setor nos Estados Unidos. Ou detinha, até a chegada do tal Davi --a AEW (All Elite Wrestling), empresa fundada em janeiro deste ano por ex-lutadores da gigante bilionária.
Desde o início de outubro, toda noite de quarta-feira é marcada pelos embates do programa AEW Dynamite, carro-chefe da companhia novata exibido pela TNT, com o NXT, atração destinada para "amadurecer" os próximos astros da WWE, que está na programação do USA Network. Até o momento, foram seis confrontos; a AEW venceu todos eles; em alguns casos, com 300 mil espectadores de vantagem.
De acordo com Brandi Rhodes, gestora de marca e mulher do vice-presidente executivo Cody Rhodes, o sucesso da AEW tem um motivo simples: a companhia dá ao público o que ele deseja assistir na TV. "Os fãs deixaram claro o que queriam ver, e agora nós podemos dar isso a eles. Eles se posicionaram, disseram que iam apoiar quem estivesse do lado deles. E estão mantendo sua palavra", resume a executiva, que também é lutadora, à reportagem do Notícias da TV.
Diplomaticamente, Brandi não cita sua antiga empregadora e agora principal rival, mas aponta que o esquema da WWE, que transforma cada luta em uma cena de novela, com direito a diálogos ensaiados nos bastidores, não funciona mais.
"Sabe quantos roteiristas trabalharam na nossa estreia? Nenhum", ressalta o lutador Jon Moxley, que na WWE era conhecido como Dean Ambrose --ele está proibido de usar o antigo nome, que virou marca registrada pela gigante. "Eu já planejava sair da outra empresa há alguns meses, estava frustrado, no meu limite. Assim que fiquei sabendo da AEW, falei: 'Tô fora daqui'", lembra ele.
reprodução/usa network
Shayna Baszler (à dir.) aplica chave de perna em Dakota Kai no ringue da NXT, da gigante WWE
A companhia novata também se aproveita de algumas boas relações para ganhar audiência e repercussão. O ator Stephen Amell, protagonista da série Arrow, já subiu ao ringue da AEW e partiu para a pancadaria (ensaiada, claro).
Kia Stevens, uma das estrelas de Glow, da Netflix, também está no plantel de lutadores da empresa. E o atual campeão, Chris Jericho, é tão popular entre os fãs que já participou até do Dancing with the Stars, a versão norte-americana da Dança dos Famosos.
"Muitas pessoas me diziam que não viam mais luta livre, mas voltaram por causa da AEW. Eles não se identificavam mais com o que era feito pela concorrência. Como não precisamos seguir um roteiro, temos a chance de ser os artistas que somos, usar os instintos que apuramos durante anos. Nenhum roteirista do mundo sabe fazer um Chris Jericho melhor do que eu mesmo", defende o lutador com o cinturão.
Sem papas na língua, o campeão é um dos poucos que cita diretamente o nome da concorrente. "Nossos lutadores escolheram estar na AEW, porque têm medo de irem para a WWE e perderem a liberdade de fazer o seu melhor. Eu gosto do fato de sermos meio marginais aqui, somos como os Rebeldes de Star Wars, na luta contra o maligno Império", alfineta o veterano, que completa 30 anos de carreira em 2020.
A WWE, que não tinha um concorrente de peso desde 2001 (quando a WCW, de Ted Turner, acabou comprada pela própria rival), foi pega de surpresa com a boa audiência da nova competição e decidiu se mexer. Nas duas últimas semanas, deu mais importância para o NXT: lutadores de seus programas principais, o Raw e o SmackDown, apareceram na atração "menor" para tentar atrair mais público.
A companhia também "rebaixou" o popular Finn Bálor, estrela de primeiro nível, para o NXT. E, para surpreender o público, os roteiristas da atração ainda decidiram transformá-lo em um dos lutadores vilões, que chegou a trair antigos parceiros e deixou de cumprimentar o público em suas entradas no ringue.
Ainda não foi o suficiente para bater a audiência da AEW, mas está chegando lá: na última quarta-feira (6), a diferença entre os dois programas foi de apenas 9 mil espectadores. Será que o reinado de Davi sobre Golias está chegando ao fim?
No Brasil, os programas da WWE são transmitidos pelos canais Fox Sports. Já as atrações da AEW podem ser vistos no serviço Fite TV, que vende cada edição do Dynamite por US$ 2,99 (R$ 12,41) ou oferece assinaturas mensais do AEW Plus, que custam US$ 4,99 (R$ 20,71) e dão acesso a todos os episódios.
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