NOVELA BRIDA
DIVULGAÇÃO/MANCHETE
Carolina Kasting em Brida (1998): atriz conseguiu fazer RedeTV! pagar dívida da Manchete
Um longo imbróglio da TV brasileira teve fim no último mês. Após 24 anos, Carolina Kasting conseguiu receber o pagamento por ter protagonizado a novela Brida (1998), a última trama produzida pela extinta Manchete (1983-1999) e que foi a pá de cal para sua falência. Após vitória judicial, a atriz obrigou a RedeTV! a fazer o depósito. A emissora de Osasco admite o pagamento.
O Notícias da TV teve acesso aos autos da ação, que correu na 22ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro. O processo foi interpelado por atores do folhetim de forma conjunta em 30 de outubro de 1998 contra a antiga TV da família Bloch --uma semana após o encerramento da novela, feito no improviso. Em 1999, Carolina Kasting direcionou sua parte da ação para Amilcare Dallevo Jr., sócio majoritário da RedeTV!.
O caso foi julgado três vezes, em 2002, 2011 e 2018. Em todas elas, Carolina teve ganho de causa. A RedeTV! dizia que não havia sido considerada sucessora da Manchete pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em decisão da corte em 2009. A defesa de Carolina respondeu que a RedeTV! chegou a comandar, por curto período, a Manchete e depois mudou seu nome para concluir a transição da empresa.
Em agosto de 2019, a Justiça intimou a RedeTV! com uma "carta precatória executória para penhora e avaliação em face dos bens da ré", segundo documento obtido pela coluna. Ou seja, a Justiça mandou avaliar e penhorar bens da emissora de Osasco para abater o que era devido a Carolina, que pediu a execução da dívida imediatamente. O valor exato foi mantido em segredo de Justiça.
Após pedir esclarecimentos diversas vezes --o que arrastou o caso durante mais de duas décadas--, a RedeTV! não teve outra alternativa e fez o pagamento no fim de junho deste ano. Após notificar que havia cumprido o que havia sido determinado judicialmente, o caso foi arquivado no início de setembro pela Justiça do Trabalho.
O Notícias da TV tentou contato com Carolina Kasting, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. A RedeTV!, em comunicado, admitiu o pagamento da dívida da Manchete, mas disse que vai tentar recuperar o dinheiro.
"As dívidas que pertencem à extinta TV Manchete e a RedeTV! foi compelida a pagar serão cobradas regressivamente da massa falida da TV Manchete, uma vez que temos uma decisão transitada em julgado no STF declarando que não somos sucessores. Ou seja, qualquer dívida da extinta TV Manchete, trabalhista, tributária ou cível, não é de responsabilidade da RedeTV!", diz a TV em comunicado.
Brida foi baseada no best-seller de Paulo Coelho que vendeu 5 milhões de exemplares em todo o mundo. O consagrado autor liberou os direitos da trama por conta da amizade que tinha com Walter Avancini (1935-2001), diretor de dramaturgia da Manchete na época.
Mesmo em dificuldades financeiras, a Manchete foi faraônica com Brida, tamanha a aposta em seu sucesso. Bancou uma viagem para Irlanda com 18 pessoas na equipe, entre atores e produção, para gravações do passado da personagem-título. Essas gravações foram exibidas apenas durante doze minutos no primeiro capítulo.
O contrato com os patrocinadores era de risco. Se não desse pelo menos 5 pontos, os comerciais não compensariam financeiramente para a Manchete. Ou seja, eles seriam veiculados de graça nos intervalos de Brida. Em época de crise como aquela, contratos de risco eram normais na TV, mas foi um suicídio para a emissora tão fragilizada.
Como a novela não passava da casa dos 3 pontos, e em muitos dias dava apenas 1, Walter Avancini tentou salvar a produção. Já no capítulo 14, ele mudou o roteiro. Saiu Jayme Camargo, e entraram Sônia Mota e Angélica Lopes. A justificativa era transformar a trama em algo mais próximo do universo feminino.
Além disso, entre 17 de agosto e 11 de setembro, Brida era exibida em dois horários, às 19h e às 22h. Em nenhum deu audiência. Sem dinheiro para tocar o barco, a Manchete não tinha nem mesmo como pagar os atores.
Em 15 de outubro de 1998, os estúdios onde as gravações ocorriam no Rio de Janeiro foram desativados. Dois dias depois, atores e produtores da novela fizeram um protesto com funcionários da Manchete para denunciar o caos da emissora. Em 23 de outubro, o último capítulo da novela foi exibido. O elenco se recusou a gravar um final às pressas, já que sequer havia recebido por qualquer mês de trabalho desde que a novela havia estreado.
Coube ao locutor Eloy de Castro contar o fim do folhetim. No lugar de Brida, a Manchete escalou a reprise da versão original de Pantanal (1990). Sete meses depois, a família Bloch vendeu a Manchete para Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho, que lançaram a RedeTV! em novembro de 1999.
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