Menu
Pesquisar

Buscar

Facebook
X
Instagram
Youtube
TikTok

MEMÓRIA DA TV

Feita para salvar a Manchete, novela que terminava em 1998 ajudou emissora a falir

REPRODUÇÃO/TV MANCHETE

Carolina Kasting caracterizada como Brida

Carolina Kasting protagonizou Brida (1998), novela que não terminou na Manchete

Thell de Castro

Publicado em 24/10/2021 - 6h20

Imagine a seguinte situação: uma emissora de televisão está à beira da falência e produz uma novela que deveria tirá-la do buraco. Ao contrário disso, a produção naufraga e torna a situação praticamente irreversível. Esse foi o caso de Brida, novela da Manchete cujo último capítulo era exibido há 23 anos, em 23 de outubro de 1998.

Escrita por Jayme Camargo, Sônia Mota e Angélica Lopes, a obra era baseada no livro homônimo de Paulo Coelho e dirigida pelo veterano Walter Avancini. Lançada em 1990, a publicação vendeu mais de 10 milhões de exemplares em todo o mundo, se tornando um grande sucesso editorial. Pensando nisso, a Manchete, já em crise, obteve os direitos da história para transformar em novela, esperando que o produto ajudasse naquele momento delicado.

Antes do lançamento da novela, Avancini deixava claro que a emissora não contava com nenhuma outra possibilidade a não ser um grande sucesso, como Xica da Silva, exibida com grande êxito entre 1996 e 1997. Em entrevistas concedidas na ocasião, o diretor falava em "sucesso garantido".

Como o livro, a novela contava a história da personagem título, vivida por Carolina Kasting. Brida era uma jovem comum, que descobre pertencer ao mundo da bruxaria e já ter sido bruxa em outras encarnações. Assim como na Irlanda do século XVII, a moça segue sendo perseguida por um feiticeiro rival, Vargas (Rubens de Falco).

A protagonista também tinha seu coração dividido por dois homens, seu namorado Lorens (Leonardo Vieira) e o mago Mariano (vivido pelo jornalista Augusto Xavier).

Apesar do original trazer apenas quatro personagens, a adaptação expandiu esse total para 40, criando núcleos e subtramas. Dessa forma, o elenco era grande, trazendo nomes como Othon Bastos, Tânia Alves, Victor Wagner, Carla Regina, Bete Mendes, Fafy Siqueira, Alexia Deschamps, Rosane Gofman, Guilhermina Guinle e Marcos Pasquim.

Carolina Kasting foi a quarta atriz a ser convidada para protagonizar a trama; anteriormente, a Manchete havia sondado Christine Fernandes, Drica Moraes e Teresa Seiblitz. Após tantas respostas negativas, Carolina soube que seria a protagonista apenas uma semana antes do início das gravações.

Aposta errada

Mesmo já vivendo um colapso financeiro, a Manchete resolveu iniciar a obra com cenas gravadas na Irlanda, assim como ocorria no livro. Assim, as viagens do elenco e da equipe foram financiadas por meio de permutas.

Para garantir patrocinadores, a Manchete prometeu aos anunciantes que eles só pagariam se a audiência média fosse superior a cinco pontos no Ibope, afirmando que a trama poderia chegar aos 10 pontos.

Mas, frustrando os planos do canal, a audiência média da novela, que era exibida às 21h40, estacionou em dois pontos, fazendo com que os patrocinadores não pagassem suas cotas, conforme o combinado.

A partir do 14º capítulo, o autor Jayme Camargo foi afastado da obra, sendo substituído pela dupla Sônia Mota e Angélica Lopes. Segundo a emissora, o objetivo da mudança era obter maior identificação junto ao público feminino.

Assim, várias modificações foram feitas na trama, que passou a dar maior espaço para atores que haviam se destacado nas tramas anteriores (Mandacaru e Xica da Silva), como Victor Wagner, Carla Regina e Alexia Deschamps. Cenários e figurinos também foram modificados, buscando maior leveza e um tom mais divertido.

A equipe da produção culpou a exibição do horário eleitoral gratuito pelo fracasso da obra, afirmando publicamente que a audiência deveria melhorar após o encerramento da propaganda, em outubro, que não aconteceu. A novela enfrentava os concorrentes Torre de Babel (Globo), Programa do Ratinho (SBT) e Leão Livre (Record).

Enquanto a trama global chegava a superar 50 pontos de média, os programas de auditório permaneciam na casa dos 20 pontos. Enquanto isso, durante toda sua exibição, o recorde de audiência de Brida foi de quatro pontos no Ibope.

Com dois meses no ar, o elenco já estava sem receber seus salários há um mês e meio. Então, se recusaram a gravar mais cenas. Assim, a trama foi encerrada no capítulo 54, exibido no dia 23 de outubro de 1998.

O final foi produzido de uma maneira inédita: enquanto eram exibidas cenas que já haviam sido gravadas, o desfecho da trama era narrado por Eloy Decarlo, tradicional locutor da Manchete, sem a existência de um desfecho propriamente dito.

No dia 26 de outubro, o horário de Brida foi ocupado pela segunda reprise de Pantanal, exibida originalmente em 1990.

Imersa em vários problemas financeiros, a Rede Manchete saiu do ar definitivamente em maio de 1999.


Mais lidas


Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.