MINISSÉRIE NA TV
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Stepan Nercessian como Chacrinha durante gravação da minissérie exibida pela Globo nesta semana
REDAÇÃO
Publicado em 15/1/2020 - 21h30
No ar desde a última terça-feira (14) na Globo e disponível no Globoplay, a minissérie Chacrinha retrata capítulos importantes da trajetória de Abelardo Barbosa (1917-1988). Um dos maiores comunicadores da história da televisão brasileira, o apresentador irreverente na frente das câmeras tinha um temperamento difícil nos bastidores.
Em uma das brigas corriqueiras entre ele e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então mandachuva da programação da emissora, o animador quebrou equipamentos do estúdio, pediu demissão e abriu espaço para a criação do Fantástico, ainda no começo dos anos 1970.
A minissérie em quatro capítulos, que já foi exibida como filme nos cinemas em 2018, revela essa relação difícil de Chacrinha com Boni e também lembra do caso do apresentador com a cantora Clara Nunes (1942-1983).
Veja abaixo sete curiosidade sobre Chacrinha:
Chacrinha e Boni eram grandes amigos fora da televisão, até que se estranharam profissionalmente. Contratado pela Globo em 1967, o Velho Guerreiro virou líder nacional de audiência em 1969, quando seu programa começou a ir ao ar ao vivo. O principal concorrente de Abelardo Barbosa era Flávio Cavalcanti (1923-1986), com seu programa na Tupi. Os dois travavam uma guerra pela audiência.
Disputavam até convidados, geralmente de gosto duvidoso e ligados ao mundo cão. No início de 1972, Boni queria melhorar o nível do programa e proibiu a exploração da desgraça alheia. Chacrinha ficou irritado e disse que o diretor queria se meter em sua atração. A partir daí, o relacionamento azedou.
No filme e na minissérie de quatro capítulos exibida pela Globo, o motivo apontado para o pedido de demissão de Chacrinha em 1972 foi Boni ter tirado o programa do ar após o apresentador roubar de Flávio Cavalcanti a convidada Cacilda de Assis, uma médium que incorpou um espírito ao vivo. Chacrinha, de fato, a colocou no ar a contragosto do chefão da Globo, mas isso aconteceu em 1971.
O verdadeiro motivo para o rompimento é que o Velho Guerreiro passou a atrasar, propositalmente, o término de seus programas, tanto às quartas quanto aos domingos, prejudicando a pontual grade da emissora.
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
A minissérie expõe as brigas de Chacrinha (Stepan Nercessian) e Boni (Thelmo Fernandes)
Em 3 de dezembro de 1972, Chacrinha fazia o Buzina, normalmente, e já havia estourado o horário. Deveria terminar às 22h, eram 22h04 e ainda faltavam três atrações. Boni pediu que a atração encerrasse às 22h10. Jorge Barbosa, filho do apresentador e produtor do programa, respondeu: "Chacrinha mandou dizer que não tem previsão para terminar.
O diretor ficou extremamente irritado e acabou o programa ali mesmo. "Tirei imediatamente do ar. O Chacrinha quebrou tudo no estúdio e subiu, possesso, sem camisa, até a minha sala, gritando: 'Vou embora, vou embora, não apareço mais aqui'", contou Boni em seu livro.
O público não entendeu porque o programa foi interrompido abruptamente e choveram ligações para a Globo. Na quarta-feira seguinte, 6 de dezembro, Agildo Ribeiro (1932-2018) comandou a Discoteca do Chacrinha provisoriamente, enquanto se resolvia a pendenga. Já o programa do domingo, 10 de dezembro, não foi ao ar.
A imprensa fez grande estardalhaço daquilo que ficou conhecido como o "Caso Chacrinha". O Jornal do Brasil, de 7 de dezembro, trouxe reportagem com as duas versões do episódio. O animador disse que pediu rescisão do contrato porque a atração mudou várias vezes de horário. Já a Globo alegou que o tirou do ar "porque o animador apresentou em seu programa um afeminado".
Chacrinha foi rápido e estreou na TV Tupi alguns dias depois, enquanto a Globo entrou com um processo na Justiça por quebra de contrato. A emissora de Roberto Marinho improvisou algumas atrações para tapar os buracos na grade, como o musical Globo de Ouro e o programa Só o Amor Constrói, no estilo Arquivo Confidencial.
Chacrinha ficou alguns anos na Tupi e foi para a Band no final dos anos 1970, ficando lá até 1982, quando voltou para a Globo, a convite do próprio Boni, depois de um jantar no qual fizeram as pazes.
A briga judicial não deu em nada, terminando pouco tempo depois. "Disse ao Chacrinha que adoraria tê-lo aos sábados à tarde, com duas horas de duração. Pensei que ele não aceitaria. Mas ele topou entusiasmado e nos abraçamos chorando. Nunca mais tivemos qualquer problema. Fico muito emocionado ao lembrar do grande amigo e da genialidade dele", falou também Boni no Livro do Boni.
O Cassino do Chacrinha estreou em 6 de março de 1982 e ficou no ar até 2 de julho de 1988. Dois dias antes, Chacrinha morreu, vítima de câncer no pulmão, e a emissora exibiu o último programa gravado para homenageá-lo.
Longe dos holofotes, um dos casos destacados pela produção é o namoro que o apresentador teve com Clara Nunes. "O romance fica no ar, é apresentado de forma sutil, porque até hoje é uma especulação. Acho que o que fica é uma relação de admiração e carinho muito grande entre os dois", disse Laila Garin, intérprete da cantora, em entrevista ao jornal Extra em 2018, quando o filme foi lançado.
O relacionamento entre o comunicador e a artista nunca foi tratado como certo porque Chacrinha foi casado durante 41 anos com Florinda Barbosa, com quem teve três filhos.
Calaborou THELL DE CASTRO, jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira
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