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Xaropinho

Boneco desbocado de Ratinho vira pastor e critica Macedo e Santiago

Arquivo pessoal

Eduardo Mascarenhas manipula Xaropinho em culto da Igreja Evangélica Missão Vida em Cristo - Arquivo pessoal

Eduardo Mascarenhas manipula Xaropinho em culto da Igreja Evangélica Missão Vida em Cristo

PAULO PACHECO

Publicado em 25/5/2014 - 21h47
Atualizado em 26/5/2014 - 6h34

RESUMO: Manipulador de Xaropinho, personagem do Programa do Ratinho (SBT), Eduardo Mascarenhas tornou-se pastor evangélico há quatro meses e leva o boneco inspirado no apresentador Carlos Massa aos cultos. Ainda neste ano, Xaropinho deixará de falar palavrão, mas não por causa da igreja. Ratinho e Mascarenhas querem transformá-lo no Mickey Mouse brasileiro

O rato Xaropinho, personagem desbocado do Programa do Ratinho, virou pastor. Seu manipulador, Eduardo Mascarenhas, 40 anos, pastor da Missão Apostólica Vida em Cristo há quatro meses, leva o boneco aos cultos, mas não para orar ou ler a Bíblia, e sim para tirar sarro dos fiéis. A liderança religiosa faz parte da nova rotina do artista, que pretende, aos poucos, deixar o mascote da atração do SBT, por problemas de saúde e para se dedicar à igreja.

"Eu não descaracterizo o Xaropinho. Na igreja, ele continua doido, brincalhão, falando abobrinha. Não quero ficar podando meu humor por causa do puritanismo. Quando não estou fazendo humor, sou pastor Eduardo. Não vou deixar de fazer piada, mas sem falar nenhum palavrão cabeludo", diz Mascarenhas, que pede permissão a Ratinho, dono de Xaropinho, para manipular o personagem nos cultos.

A ideia de levar Xaropinho à igreja surgiu após Mascarenhas perceber que os frequentadores dos cultos não fazem outra atividade cultural senão ir à igreja: "Quando anuncio o Xaropinho, claro, sempre atrai um ou outro curioso para a igreja, mas levo porque a Igreja é muito séria, sisuda, carrancuda. Pensei nas famílias que não podiam pagar para irem ao cinema, ao teatro".

O artista, hoje pastor, faz questão de se manifestar contrário às grandes igrejas, como a Mundial, de Valdemiro Santiago, e a Universal, de Edir Macedo. Para Mascarenhas, essas igrejas são "caça-níqueis" e visam apenas o dinheiro.

"Sou contra essas igrejas caça-níqueis que surgem a todo instante. Os caras não fazem nada útil, só fazem igreja para encher de gente, tomar grana [dos fiéis] e comprar emissoras de TV", critica o pastor, que se sustenta com o salário do SBT e arrecada dinheiro na igreja para seu projeto social, o Instituto Xaropinho.

Na igreja, Mascarenhas manipula Xaropinho como ventríloquo. O rato já aparece gritando e xingando. Chama os fiéis de "feios" e diz que os pastores se parecem com o pugilista Adílson Maguila ou o apresentador José Luiz Datena:

Xaropinho - Beleza, Brasil, vai começar o Programa do Ratinho!

Mascarenhas - Está louco, Xaropinho? Você está na igreja!

Xaropinho - Meu Deus, que povo estranho... aquele é o Maguila ou o Datena?

Mascarenhas - Não, ele é o pastor.

Xaropinho - Pastor é para pastar?

Mascarenhas - Não, é para pastorear!

Xaropinho - Pastorear o quê?

Mascarenhas - As ovelhas. Todo esse povo são as ovelhas!

Xaropinho - Nossa, tem cada ovelha feia! Sabia que ovelha faz cocô redondinho?

Mascarenhas - Você está louco! Aqui é a casa de Deus!

Xaropinho - Deus está me ouvindo? Estou ferrado!

O pastor Eduardo Mascarenhas manipula o boneco Xaropinho durante culto (Arquivo pessoal)

Se atualmente Xaropinho é aceito na igreja, a situação era bem diferente quando Eduardo Mascarenhas começou a manipular o personagem, há mais de 15 anos. "Fui muito perseguido nas igrejas por ser o Xaropinho. Teve igreja que barrou a minha entrada por causa do Programa do Ratinho, já fui xingado. Hoje, não tenho problema com isso", relembra o artista.

A rejeição que sofreu na igreja fez Eduardo Mascarenhas entrar em depressão e quase largar tudo, porém foi impedido pelo apresentador Carlos Massa: "Já pedi a conta cinco vezes no mesmo dia, mas o Ratinho não deixou. Ele percebeu que eu não estava normal. Eu estava meio deprimido, tive uma crise de pânico".

Filho de pais evangélicos, Eduardo Mascarenhas começou a carreira artística aos 14 anos, criando gibis com o quadrinista Ely Barbosa (1939-2007), irmão do novelista da Globo Benedito Ruy Barbosa. Aos 24, passava horas na porta da Record com bonecos de manipulação atrás do então recém-contratado apresentador Carlos Massa, de quem não era fã. Uma produtora o viu e o levou ao programa. Ratinho gostou dos bonecos, pediu para uma empresa de brinquedos criar o molde do Xaropinho e contratou Mascarenhas para manipulá-lo.

No programa, Eduardo Mascarenhas deixa de ser pastor e incorpora o Xaropinho, que tem uma personalidade completamente oposta à dos fiéis religiosos. "Outro dia o Ratinho desmaiou no ar e o Xaropinho gritou 'Gol!'. Eu quero mais é que o microfone pegue fogo, que caia o cenário, que o cara erre, quero que dê tudo errado", diz o artista, aos risos.

Ratinho e Eduardo Mascarenhas querem tornar o personagem desbocado mais "puro", com menos palavrões e mais infantil. A mudança de personalidade, entretanto, não tem relação com a igreja. O plano dos dois é ambicioso: fazer de Xaropinho o Mickey Mouse brasileiro.

"Todo mundo acha que o Xaropinho é infantil, mas não é. As abobrinhas que ele fala não são para criança. Tem uma equipe reformulando a personalidade do personagem. Estou supervisionando porque a minha ideia é a mesma do Ratinho: tornar o personagem infantil para que ele seja eterno e vire um Mickey", aposta Mascarenhas, que irá gravar um CD e um DVD do Xaropinho para o Dia das Crianças.

Eduardo Mascarenhas abraça Carlos Massa no Programa do Ratinho (Divulgação/SBT)

As pretensões de transformar Xaropinho em ícone infantil vão de encontro à vontade de Mascarenhas de continuar fazendo o personagem. Com problemas de saúde, o pastor está recrutando colegas para substituí-lo na manipulação do rato.

"Quero parar de manipular. Tenho muitas dores no braço, na coluna, no ombro. Quero reduzir meu espaço e colocar outras pessoas. No programa, sempre sou eu, mas alguns shows não faço mais", explica Mascarenhas, que limitou o número de apresentações a duas por semana para se dedicar mais aos cultos.

Paralelamente à vida artística e religiosa, Eduardo Mascarenhas estuda Filosofia para ser professor acadêmico. "O meu desejo é me tornar um professor de faculdade no interior para ter uma vida tranquila. Já pensou dar aula no interior para o resto da vida? Até viveria como pastor, mas depender de igreja é uma coisa meio triste", lamenta.

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