MEMÓRIA DA TV
Divulgação/Columbia Pictures
O ator Mazzaropi no filme Candinho (1954), adaptação de obra do filósofo francês Voltaire
THELL DE CASTRO
Publicado em 27/12/2015 - 7h00
A próxima novela das seis da Globo, Eta Mundo Bom, de Walcyr Carrasco, é baseada em um dos meus filmes preferidos, Candinho, terceira produção de Mazzaropi (1912-1981), que estreou em grande estilo em São Paulo em 25 de janeiro de 1954, como parte das comemorações dos 400 anos da cidade. A produção, com cerca de uma hora e meia de duração, não daria sustentação para uma novela completa. São poucos personagens e a história é toda centrada na busca de Candinho por sua mãe e por sua amada. Novos núcleos foram criados pelo autor para dar a sustentação necessária.
Candinho é a primeira adaptação cinematográfica mundial da obra Cândido, ou O Otimismo, de Voltaire (1694-1778), lançada em 1759 na França. Enquanto a trama do livro se passa em um castelo da Alemanha, a do filme foi transportada para o interior de Minas Gerais e para a capital paulista _o mesmo ambiente da novela.
Candinho é uma fábula sobre o otimismo. O protagonista nasceu numa rica fazenda de Minas Gerais, em 1926, mas a mãe, solteira, algo escandaloso para a época, foi proibida de criar seu filho e o abandonou num rio, em um cesto, como o bíblico Moisés.
Ele é encontrado por Manoela (Ruth de Souza), empregada da fazenda Dom Pedro 2º, em Piracema (MG), propriedade do coronel Quinzinho (Domingos Terras), defensor da monarquia e neto de um dos barões do Império, casado com Cunegundes, que vem a morrer alguns anos depois.
Criado inicialmente como filho, Candinho perde esse status três anos depois, quando nascem os gêmeos Quincas e Filoca, interpretados, já adultos, respectivamente, por John Herbert e Marisa Prado. Candinho acaba se transformando num criado da fazenda, vivendo em um quartinho de madeira nos fundos da propriedade, sempre ao lado de seu burro, Policarpo.
A produção, que abusa do humor ingênuo, tem como uma das figuras centrais o professor Pancrácio, em grande atuação do sambista Adoniran Barbosa. Mentor de Candinho, ele sempre tem um conselho e seu lema "tudo que acontece é para melhorar a vida da gente".
Ao se envolver com Filoca, Candinho é expulso da propriedade e vai procurar sua mãe biológica em São Paulo, quando encontra Pancrácio, que, na verdade, finge ser mendigo e se sustenta com esmolas. A felicidade do rapaz é completa quando ele fica sabendo que Filoca está na capital, ignorando o fato dela ter se tornado uma prostituta.
Na trama da Globo, Candinho será Sérgio Guizé, enquanto Filoca, agora Filomena, será Débora Nascimento. O coronel Qunzinho será vivido por Ary Fontoura e o professor Pancrácio marcará o retorno de Marco Nanini às novelas desde Andando nas Nuvens, em 1999.
divulgação/tvglobo
Na novela Eta Mundo Bom, o ator Sérgio Guizé interpretará personagem de Mazzaropi
Novos personagens
No filme, por exemplo, a mãe de Candinho morreu de depressão alguns anos após abandonar o filho. Na trama da Globo, será Anastácia, vivida por Eliane Giardini, que vai mover o mundo para procurá-lo. Aliás, todo o núcleo da família dela não existe no filme. Outra diferença será o grande amigo de Candinho em São Paulo, Pirulito. No filme, ele já era adulto, vivido por Benedito Corsi. Na novela da Globo, será o garoto JP Rufino.
Mais personagens que não existem na produção de 1954 são Ernesto (Eriberto Leão), que vive uma relação possessiva com Filomena (apesar de o filme mostrar o cafetão da garota, mas não era identificado); Emma (Maria Zilda), amiga de Anastácia; Josias (Flávio Migliaccio), veterinário da fazenda; Diana (Priscila Fantin), rival de Filomena no cabaré; e a vilã, Sandra (Flávia Alessandra), prima de Candinho, que fará de tudo para que ele não se encontre com a mãe.
Espero ver na novela algumas cenas hilariantes do filme, como o momento que Candinho leva Filoca para a casa do professor e este pensa ser um ladrão, saindo desesperado com uma arma em punho. Depois, dadas as vestimentas da moça, questiona: "Deu para isso agora, Candinho?". A história é boa e promete. Resta saber como será tratada pelo autor e pela emissora.
Aproveito o espaço para agradecer aos leitores por mais um ano de audiência e desejar a todos um próspero Ano Novo. Após um breve período de férias, retornarei no dia 10 de janeiro.
THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro
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