DEBORAH KALUME
REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY
Deborah Kalume no documentário Em Nome de Deus, do Globoplay: atriz foi abusada por médium
[Atenção: este texto contém relatos de abuso sexual]
Viúva do cineasta Fábio Barreto (1957-2019), Deborah Kalume denunciou o abuso sexual sofrido nas mãos do médium João de Deus e agora revive o trauma com o lançamento do documentário Em Nome de Deus, do Globoplay. A atriz de 42 anos declarou que demorou para conseguir falar sobre o assunto, mas que seu relato é importante para que outras vítimas de assédio também sintam coragem para denunciar.
"Tardei, mas não calei. Não foi fácil, nem está sendo agora ouvir e rever tudo isso novamente, mas sei que foi extremamente necessário para que monstros como esse jamais, jamais usem de escudo o silêncio das mulheres!", desabafou a artista, que esteve no ar na novela Deus Salve o Rei (2018).
Deborah era casada com Barreto, famoso por dirigir o filme O Quatrilho (1995), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, quando ele sofreu um acidente de carro no Rio de Janeiro e entrou em coma em 2009. A atriz buscou a ajuda de João de Deus em 2012 para tentar curar o então marido.
"Todo o amor que eu não encontrei naquela Casa Dom Inácio de Loyola [em Abadiânia - GO] com um líder abjeto e seus funcionários cúmplices, eu encontrei nesse programa!", relatou a ex-funcionária da Globo, em referência ao grupo de apoio formado por vítimas do religioso.
Em seguida, a vítima agradeceu a ajuda recebida por Camila Appel, a produtora que investigou as primeiras denúncias, e Sabrina Bitencourt, que encorajou Deborah a revelar seu trauma.
"Todos estavam tão envolvidos que a emoção saltava num olhar, aperto de mão, abraço. E por isso conseguimos falar, apesar de todo constrangimento e medo. Agradeço as mulheres tão corajosas e incríveis que a vida me presenteou, nessa roda e fora dela", se declarou a atriz.
Atualmente casada com o empresário Sandro Wagner, Kalume também contou que o marido foi um dos primeiros a acreditar em seu relato de abuso sexual. "Ter uma família e uma rede de amigas e amigos que acreditam em você --privilégio que nem todas as mulheres abusadas têm, infelizmente-- faz com que você não se sinta mais sozinha. E isso me encorajou a denunciar, me fez não mais querer calar. E me libertou também", declarou ela.
No documentário produzido por Pedro Bial, Deborah Kalume se junta a várias vítimas do médium condenado por abuso sexual e traz relatos fortes. A pedido do suposto médium, ela foi se despindo por acreditar que fazia parte do atendimento para conseguir tirar Fábio Barreto de seu coma irreversível.
"Eu tirei o meu cinto, eu desabotei a minha calça, eu tirei meu sutiã. Tinham milhões de pessoas do lado de fora, e eu não consegui fazer nada. Em algum momento ele botou a mão em cima da calça, no pênis dele, e eu congelei. Eu não conseguia abrir o olho. E ele dizia que eu estava atrapalhando a cura", relembrou a atriz.
"Ele me colocou em pé, começou a apertar o bico dos meus seios. Veio por trás de mim e começou a se esfregar. Ele fazia tudo isso rezando Ave-Maria. Ele rezava o tempo inteiro", completou Deborah.
"Eu comecei um processo incrível de negação. É impressionante como você consegue sair daquele lugar, olhar para aquelas pessoas e esquecer o que aconteceu com você. Eu não conseguia pensar que aquilo era real. Foi uma opção de sobrevivência. Eu fui lá porque eu estava muito mal, e se eu tivesse consciência do que aconteceu comigo, eu não resistiria", relatou.
Confira a publicação de Deborah Kalume no Instagram:
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