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DEBORAH KALUME

Viúva de cineasta que denunciou João de Deus revive trauma com documentário

REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY

A atriz Deborah Kalume no documentário Em Nome de Deus, do Globoplay

Deborah Kalume no documentário Em Nome de Deus, do Globoplay: atriz foi abusada por médium

KELLY MIYASHIRO

kelly@noticiasdatv.com

Publicado em 30/6/2020 - 8h37

[Atenção: este texto contém relatos de abuso sexual]

Viúva do cineasta Fábio Barreto (1957-2019), Deborah Kalume denunciou o abuso sexual sofrido nas mãos do médium João de Deus e agora revive o trauma com o lançamento do documentário Em Nome de Deus, do Globoplay. A atriz de 42 anos declarou que demorou para conseguir falar sobre o assunto, mas que seu relato é importante para que outras vítimas de assédio também sintam coragem para denunciar.

"Tardei, mas não calei. Não foi fácil, nem está sendo agora ouvir e rever tudo isso novamente, mas sei que foi extremamente necessário para que monstros como esse jamais, jamais usem de escudo o silêncio das mulheres!", desabafou a artista, que esteve no ar na novela Deus Salve o Rei (2018).

Deborah era casada com Barreto, famoso por dirigir o filme O Quatrilho (1995), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, quando ele sofreu um acidente de carro no Rio de Janeiro e entrou em coma em 2009. A atriz buscou a ajuda de João de Deus em 2012 para tentar curar o então marido. 

"Todo o amor que eu não encontrei naquela Casa Dom Inácio de Loyola [em Abadiânia - GO] com um líder abjeto e seus funcionários cúmplices, eu encontrei nesse programa!", relatou a ex-funcionária da Globo, em referência ao grupo de apoio formado por vítimas do religioso.

Em seguida, a vítima agradeceu a ajuda recebida por Camila Appel, a produtora que investigou as primeiras denúncias, e Sabrina Bitencourt, que encorajou Deborah a revelar seu trauma. 

"Todos estavam tão envolvidos que a emoção saltava num olhar, aperto de mão, abraço. E por isso conseguimos falar, apesar de todo constrangimento e medo. Agradeço as mulheres tão corajosas e incríveis que a vida me presenteou, nessa roda e fora dela", se declarou a atriz.

Atualmente casada com o empresário Sandro Wagner, Kalume também contou que o marido foi um dos primeiros a acreditar em seu relato de abuso sexual. "Ter uma família e uma rede de amigas e amigos que acreditam em você --privilégio que nem todas as mulheres abusadas têm, infelizmente-- faz com que você não se sinta mais sozinha. E isso me encorajou a denunciar, me fez não mais querer calar. E me libertou também", declarou ela. 

No documentário produzido por Pedro Bial, Deborah Kalume se junta a várias vítimas do médium condenado por abuso sexual e traz relatos fortes. A pedido do suposto médium, ela foi se despindo por acreditar que fazia parte do atendimento para conseguir tirar Fábio Barreto de seu coma irreversível. 

"Eu tirei o meu cinto, eu desabotei a minha calça, eu tirei meu sutiã. Tinham milhões de pessoas do lado de fora, e eu não consegui fazer nada. Em algum momento ele botou a mão em cima da calça, no pênis dele, e eu congelei. Eu não conseguia abrir o olho. E ele dizia que eu estava atrapalhando a cura", relembrou a atriz. 

"Ele me colocou em pé, começou a apertar o bico dos meus seios. Veio por trás de mim e começou a se esfregar. Ele fazia tudo isso rezando Ave-Maria. Ele rezava o tempo inteiro", completou Deborah.

"Eu comecei um processo incrível de negação. É impressionante como você consegue sair daquele lugar, olhar para aquelas pessoas e esquecer o que aconteceu com você. Eu não conseguia pensar que aquilo era real. Foi uma opção de sobrevivência. Eu fui lá porque eu estava muito mal, e se eu tivesse consciência do que aconteceu comigo, eu não resistiria", relatou. 

Confira a publicação de Deborah Kalume no Instagram: 

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Demorei muito tempo da minha vida para falar sobre esse assunto. Tardei, mas não calei. Não foi fácil, nem está sendo agora ouvir e rever tudo isso novamente, mas sei que foi extremamente necessário para que monstros como esse jamais, jamais usem de escudo o silêncio das mulheres! Agradeço, do fundo do meu coração, à Camila Appel e toda equipe do programa, além das mulheres tão corajosas e incríveis que a vida me presenteou, nessa roda e fora dela. Não posso deixar de falar da Sabrina Bitencourt que ficava horas comigo e me levou ao caminho da denúncia. Todo o amor que eu NÃO ENCONTREI naquela Casa Dom Inácio de Loyola - com um líder abjeto e seus funcionários cúmplices - eu encontrei nesse programa! Todos estavam tão envolvidos que a emoção saltava num olhar, aperto de mão, abraço. E por isso conseguimos falar, apesar de todo constrangimento e medo. Obrigada por tudo o que fizeram. Ter uma família e uma rede de amigas e amigos que ACREDITAM em você - privilégio que nem todas as mulheres abusadas têm, infelizmente - faz com que você não se sinta mais sozinha. E isso me encorajou a denunciar, me fez não mais querer calar. E me libertou também. O auto conhecimento gera força. ABRIR os olhos do meu EU INTERIOR é o que busco diariamente na minha prática de meditação Budista. Oro para que pessoas tenham a boa sorte que tive de ter apoio! Que superem o luto com a luta. Pois o silêncio vem do descrédito histórico, sistemático que as mulheres enfrentam, muitas vezes dentro de casa!

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