Vai que Cola gringo? Roteirista revela que trabalhar em Friends era um inferno

Roteiristas do Vai que Cola denunciaram o comportamento abusivo do elenco com o time responsável pelo texto, mas o problema não é exclusivo da comédia do Multishow. Nos Estados Unidos, uma escritora que trabalhou em Friends (1994-2004) também denunciou que os astros eram pouco simpáticos nos bastidores, a ponto de ela decidir largar a carreira.

Patty Lin, que trabalhou em séries como Freaks & Geeks (1999-2000) e Breaking Bad (2008-2013) e foi indicada ao Emmy por Desperate Housewives (2004-2012), está lançando sua biografia, End Credits: How I Broke Up with Hollywood (Créditos Finais: Como Eu Rompi com Hollywood, em tradução livre), no qual relata experiências difíceis na indústria audiovisual.

Ela recebeu o convite para escrever para Friends em meio a um programa da NBC de contratação de minorias --Patty tem ascendência asiática. "Na teoria, eu apoio políticas afirmativas porque é impossível superar o racismo institucionalizado sem elas. Mas, na prática, é complicado. Você não sabe se conseguiu o emprego por causa do seu talento ou da sua raça", escreve ela.

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"Naturalmente, eu comecei a me questionar se eu tinha sido contratada para Friends por causa do programa de diversidade ou se por que eu era a pessoa certa para o trabalho. Eu nem sabia escrever piadas! Meu humor era construído em cima dos personagens."

Apesar das dúvidas, Patty aceitou o trabalho --"que tipo de pessoa seria louca o bastante para recusar um posto de roteirista em Friends?", questiona. Mas o sonho se transformou em pesadelo quando ela entregou o roteiro de seu primeiro episódio --na sétima temporada da comédia.

"Os atores pareciam infelizes de continuarem amarrados a uma série velha e cansada quando deveriam tentar coisas novas, e eu sentia que eles só queriam saber como o roteiro seria bom para cada um deles. Eles sabiam como fazer o público rir, mas se não gostavam de uma piada, faziam de tudo para derrubá-la, porque nós estaríamos lá para reescrever. Dúzias de piadas boas eram jogadas fora porque um deles estragou a leitura com a boca cheia de bacon. David [Crane] e Marta [Kauffman, criadores] nunca nos defenderam."

Depois que o roteiro era reescrito, o elenco fazia um ensaio no cenário, com o diretor do episódio, e depois disso todos se sentavam no apartamento de Monica (Courteney Cox) e Chandler (Matthew Perry) para discutir o texto. "Era a primeira oportunidade dos atores de expressarem suas opiniões, o que eles faziam de maneira vociferante", lembra Patty no livro.

"Eles raramente tinham algo de bom para falar e, quando listavam os problemas, não sugeriam soluções. Os atores se viam como guardiões de seus papéis, e frequentemente discutiam sobre o que seus personagens fariam ou não fariam, diriam ou não diriam. Isso às vezes ajudava, mas, no geral, essas sessões eram agressivas e não chegavam nem perto da leveza que você esperaria de uma sitcom."

Os roteiros ainda eram refeitos durante a gravação do episódio na frente da plateia. Se as reações do público não fossem positivas, tudo era pausado e os roteiristas se reuniam para sugerir novas piadas na hora. "Depois de seis horas no estúdio, cansados e com fome, os espectadores não riam mais da situação que tinham achado engraçada da primeira vez, o que deixava David e Marta malucos", lembra a roteirista.