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PRECONCEITO?

Séries que promovem inclusão racial e sexual falham e são canceladas

Divulgação/Netflix

Cancelada ontem (1º), Sense8 tinha transexual, negro, coreana, indiana e personagens gays - Divulgação/Netflix

Cancelada ontem (1º), Sense8 tinha transexual, negro, coreana, indiana e personagens gays

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 2/6/2017 - 14h36

Anunciado na quinta-feira (1º), o cancelamento de Sense8 foi o último golpe da TV em séries consideradas inclusivas, que colocam personagens negros, asiáticos, latinos, homos e transexuais em papéis de destaque. Só na temporada 2016-2017, pelo menos dez produções que cabem nesse rótulo chegaram ao fim: além de Sense8, a lista inclui a premiada American Crime e as superproduções Marco Polo e The Get Down.

Em uma indústria dominada por homens brancos, na frente e, principalmente, atrás das câmeras, é difícil que séries que fujam do padrão tenham vez na TV. A próxima termporada da CBS, por exemplo, terá seis séries novas, todas com protagonistas masculinos; apenas um deles, Shemar Moore, de S.W.A.T., é negro. E as poucas produções que escapam desse domínio são canceladas precocemente.

Sucesso estrondoso no Brasil, Sense8 era um caso raro de inclusividade na televisão: seus oito protagonistas incluíam um negro (Toby Onwumere), um latino (Miguel Ángel Silvestre), uma oriental (Donna Bae), uma indiana (Tina Desai) e uma transexual (Jamie Clayton).

Além disso, a série foi criada por duas trans (as irmãs Lilly e Lana Wachowski, de Matrix) e apresentava personagens representantes de todo o espectro da sexualidade humana.

A série Eyewitness, do USA Network, também apresentava homossexuais em papéis de destaque: os adolescentes Philip (Tyler Young) e Lukas (James Paxton), que presenciavam três assassinatos enquanto estavam na floresta para um encontro romântico e secreto.

A primeira cena do piloto já mostrava os dois jovens em uma sessão de beijos intensa. Mesmo vencedora de um Glaad (premiação voltada às produções LGBT), a série foi cancelada com apenas dez episódios.

O fim chegou ainda mais rápido para Doubt, série protagonizada por Katherine Heigl (de Grey's Anatomy), mas que contava com a transexual Laverne Cox (de Orange Is the New Black) e o negro Dulé Hill (de The West Wing) em papéis de destaque. Com baixíssima audiência, a CBS tirou a produção do ar após apenas dois episódios. 

divulgação/netflix

Justice Smith (à esq.) e Shamiek Moore em The Get Down, cancelada após uma temporada

Produções caríssimas da Netflix, Marco Polo e The Get Down também chegaram ao fim. Assim como Sense8, se destacavam das outras séries da plataforma por terem um elenco composto de minorias: Marco Polo, apesar de trazer o italiano Lorenzo Richelmy na pele do famoso explorador, tinha atores majoritariamente asiáticos; já The Get Down, sobre a indústria musical dos anos 1970, era estrelada por negros e latinos.

Algumas das séries canceladas até receberam outras chances de suas emissoras para conquistar o público: embalada por dois prêmios Emmy para a negra Regina King, American Crime teve três temporadas exibidas na ABC antes do cancelamento. O elenco também contava com latinos (Benito Martinez e Angelique Rivera) e abordava temas complicados, como homossexualidade, drogas e prostituição.

Rosewood, protagonizada pelo negro Morris Chestnut e pela latina Jaina Lee Ortiz, exibiu 44 episódios em duas temporadas. Sem a aprovação da crítica e com fuga em massa do público (que caiu de 7,54 milhões na estreia para 2,96 milhões no último episódio), a Fox não teve opção senão cancelar a série, sobre um médico que trabalha com policiais de Miami para resolver crimes.

Outro drama que durou duas temporadas foi Underground, sobre a abolição da escravatura nos Estados Unidos. Com um elenco majoritariamente negro, a série foi aprovada pela crítica e pelo público (tem nota 74, de um total de 100, no Metacritic, além de 93% de votos favoráveis no Rotten Tomatoes), mas chegou ao fim após o canal WGN America parar de investir em produções próprias.

A comédia dramática Devious Maids, estrelada por cinco latinas, durou quatro temporadas, mas também foi cancelada no último ano.

A produção quase nem saiu do papel: desenvolvida para a ABC pelo premiado Marc Cherry (criador de Desperate Housewives), a série era uma das favoritas para entrar na grade da fall season 2012-2013, mas acabou recusada de última hora. O projeto foi salvo pelo canal pago Lifetime, voltado para o público feminino. Cancelada de surpresa em setembro do ano passado, a série deixou várias pontas soltas em seu fim.

Para encerrar, nada melhor para representar a dificuldade de séries inclusivas encontrarem seu espaço no mercado masculino e branco do que Pitch, uma produção da Fox sobre uma jovem negra que se tornou a primeira mulher a fazer parte de um time da Major League Baseball, a liga nacional de beisebol dos EUA.

Enquanto Ginny Baker (Kylie Bunbury) sofria para ser aceita pela equipe, a série penou para encontrar seu espaço e acabou cancelada após dez episódios.

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