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PÁTRIA

Série da HBO escancara feridas abertas da Espanha com terror 'dentro de casa'

FOTOS: DAVID HERRAZ/HBO

O ator Jon Olivares com o rosto coberto por um pano ergue o punho direito caracterizado como Joxe em cena de Pátria

Joxe Mari (Jon Olivares) é um dos militantes do ETA (Pátria Basca e Liberdade) na série Pátria

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 23/10/2020 - 7h00

A HBO envereda pelas mais de 500 páginas do calhamaço de Fernando Aramburu para tocar nas feridas abertas da Espanha em sua primeira minissérie original no país. Em oito episódios, Pátria cruza as décadas para contar a história de duas amigas separadas por um atentado do ETA (Euskadi Ta Askatasuna, Pátria Basca e Liberdade em português) --num retrato de uma Europa assombrada por si mesma.

A narrativa é inspirada no livro homônimo que vendeu mais de 1 milhão de exemplares só no território espanhol, um feito para uma nação que conta com pouco mais de 46 milhões de habitantes. A edição brasileira chegou em 2019, três anos após a publicação original, pelas mãos da editora Intrínseca.

Ao contrário do livro, a produção aposta em uma narrativa mais seca e realista, que já arrasta o telespectador para o olho do furacão nas primeiras cenas. Bittori (Elena Irureta) assiste ao pronunciamento histórico do grupo terrorista, que realmente anunciou o fim de sua luta armada em 2011 --após 51 anos de atividades e mais de 800 mortos.

Os números são traduzidos na figura de Taxto (José Ramón Soroiz), o marido da protagonista, que foi uma das vítimas dos separatistas. Do outro lado do país, Miren (Ane Gabarain) lamenta que os rebeldes não tenham conseguido de fato a separação do País Basco.

Ao longo dos episódios, que são disponibilizados semanalmente no HBO Go logo após a exibição aos domingos às 21h na TV paga, o público descobre que as duas mulheres eram vizinhas de porta antes que as atividades do ETA as colocassem em lados opostos da história. 

Elena Irureta e José Ramón Soroiz em Pátria

Na ponta da língua

O principal trunfo de Pátria é olhar para o conflito armado que dividiu a Espanha durante meio século sem maniqueísmo: não há heróis ou vilões, apenas vítimas de uma guerra que remonta à ditadura fascista de Francisco Franco (1893-1975). O ETA vai da admiração pelo confronto à figura autoritária até o momento em que perde completamente o apoio popular e se isola no fim dos anos 2000.

Um detalhe, aliás, chama a atenção. A série é falada em espanhol e pouco se vale do basco, um idioma ancestral falado por quase 700 mil pessoas e conhecido por não ter nenhum parentesco com as outras línguas da família indo-europeia.

A estratégia mira no público hispânico, que representa a quarta maior população de falantes no mundo, mas evoca as ações problemáticas do governo espanhol para evitar movimentos separatistas como o do País Basco ou da Catalunha --a supressão de seus idiomas originais em favor do castelhano.

Por outro lado, a narrativa chama a atenção ao apontar que a Europa continua como o barril de pólvora que explodiu no período das Guerras Mundiais (1918-1945). ETA é só mais um grupo entre outros, como o IRA (Irish Republican Army,  Exército Republicano Irlandês em português), que também só veio a abandonar as armas em 2005.

Pátria ainda escancara a ferida de um continente que se coloca como porta-voz da civilização ocidental, em contraponto à "selvageria" de grupos como os jihadistas. A série vai de encontro às distopias que apontam o europeu como uma vítima de "invasões bárbaras", a exemplo do polêmico Submissão (2015), de Michel Houellebecq --mostra que o terror é uma linguagem universal.

Confira o trailer da minissérie Pátria, da HBO: 

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