Todxs Nós
Divulgação/HBO
Rafa (Clara Gallo), Maya (Juliana Teixeira) e Vini (Kelner Macedo) em cena do primeiro episódio de Todxs Nós
FERNANDA LOPES
Publicado em 22/3/2020 - 6h06
A série Todxs Nós, da HBO, é ficção, mas tem a missão de mostrar a nova realidade de jovens no Brasil que vivem suas sexualidades e identidades de gênero de forma muito mais fluida e com novas regras. A atração, que estreia neste domingo (22) às 23h, retrata pessoas que se identificam com várias letras da sigla LGBTQ+, com seus relacionamentos e suas batalhas para serem reconhecidas e respeitadas na sociedade.
O primeiro episódio da série só faltou vir com legenda, de tão didático que é. A protagonista é Rafa (Clara Gallo), que é não-binária. Isso quer dizer que ela (ou "ili") não se identifica nem como mulher nem como homem, mas como algo neutro.
Assim, todos os personagens ao redor dela têm de mudar também o vocabulário, porque Rafa não aceita ser chamada de ela. Todos os pronomes e palavras terminadas em "a" devem ser trocadas por "e" ou "i".
"Faz a gente pensar antes de falar. As pessoas têm de encarar essa realidade. Eu já tive situações de estar com a familia e explicar o que é não-binariedade, falei pra assistirem à série que vamos explicar perfeitamente. A não-binariedade é sobre isso, pensar antes de definir, de julgar", explica Clara. Além de não-binária, a personagem é pansexual, sente desejo por homens, mulheres, cis ou trans, binários ou não.
Ela vai morar com o primo, Vini (Kellner Macêdo), e a amiga Maia (Juliana Gerais), com quem ele divide apartamento em São Paulo. Vini é gay, e a série mostrará cenas intensas de sexo entre ele e o namorado. Também vem deste personagem o humor da série, com muito sarcasmo ao falar sobre as mudanças de Rafa e ao retratar a cena artística e alternativa da cidade.
Já Maia é uma mulher feminista, vegana e supermilitante. Ela se envolve com casos de assédio, de racismo e a paixonite por um homem que tem namorada, o que faz com que ela questione princípios e tabus.
divulgação/hbo
A protagonista Rafa, que não se considera nem homem nem mulher, em cena de Todxs Nós
Boa parte do elenco da série (37% dos que têm falas) é formado por pessoas trans, assim como profissionais por trás das câmeras e na sala de roteiro. A criadora de Todxs Nós, Vera Egito, afirma que as pessoas foram selecionadas por seus talentos e pela adequação ao produto.
"Nossa preocupação foi essa, entender o valor daquelas pessoas como profissionais, independentemente de suas identidades de gênero. Era necessário uma diversidade pra contar essa história", relata ela.
Ao final do primeiro episódio, Rafa explica para seus pais como se identifica, em questão de gênero e sexualidade, e como pretende viver. A partir daí, a série acompanha as batalhas dela e dos amigos para ser quem são, em seus relacionamentos amorosos, profissionais e em meio à sociedade que não entende ou nem mesmo reconhece seus princípios como válidos.
Para os autores e atores, a ideia é que a série fale com todo tipo de público, tanto os jovens da idade de Rafa quanto gerações mais velhas, que não viveram essa pluralidade toda.
"Essa luta sempre existiu. No fim das contas, continua sendo parte de uma luta eterna por visibilidade, para mostrar essa diversidade pro nosso público, a felicidade de ser quem você é. Acho que é falar com o público conservador: vem ser feliz aqui também, olha como é legal ser diferente, ser quem você é. Acho que a série tem essa energia", diz Daniel Ribeiro, diretor.
"Eu acho que [a série] é a abertura de espaço para que todos existam, sejam felizes, celebrem a vida. É a celebração dessas existências. E acho que é sobre empatia também, a possibilidade de ser empático e abrir espaço pro que é diferente, o novo, o que você não conhece, o que foge do padrão", complementa Kellner Macêdo.
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