Assédio
Ramón Vasconcellos/TV Globo
O ator Antonio Calloni caracterizado como o médico estuprador Roger Sadala na minissérie Assédio
FERNANDA LOPES, no Rio de Janeiro
Publicado em 18/9/2018 - 5h49
Antonio Calloni se divertiu muito ao interpretar um dos personagens mais perversos e inescrupulosos de sua carreira. Na minissérie Assédio, que estreia nesta sexta (21) no Globoplay, ele vive um médico estuprador, baseado na história real de Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de prisão. "Fazer um personagem desse foi prazer e alegria. Parece loucura, mas foi. Desculpa aí, gente", confessa, em tom de brincadeira.
O ator de 61 anos faz o médico durante 13 anos de sua vida, do auge de sua clínica de reprodução humana até as denúncias que o levaram à derrocada.
Na história real, Roger Abdelmassih é acusado de violentar mulheres que o procuravam para fazer inseminação artificial. Ele foi denunciado e condenado pelo crime praticado contra 37 pacientes, e hoje cumpre prisão domiciliar por apresentar problemas cardíacos.
Além de mostrar as violências contra mulheres e o temperamento cruel de Roger (que tem o sobrenome fictício Sadala), a minissérie tem cenas em que ele aparece dissimulado, um homem gentil com pacientes e a família. A diretora da produção, Amora Mautner, diz que extraiu todo o talento de Calloni para o personagem.
"Esse trabalho foi difícil porque eu tive que acreditar nele [personagem], mas nada que é humano me é estranho. Eu fui abrindo minhas gavetas internas e tirando de lá perversão, ódio, amor, carinho. Fui compondo Roger com sentimentos que todos nós temos. Foi assim que montei esse personagem fascinante", explica Calloni.
Amora Mautner e a autora de Assédio, Maria Camargo, ressaltam que a minissérie é livremente inspirada na trajetória de Roger Abdelmassih. Na prática, isso significa que as histórias de estupro e o julgamento do estuprador seguem o que aconteceu na vida real, mas algumas tramas e características dos personagens foram ficcionadas para dar mais nuances à trama.
"Mesmo o Roger, que é o extremo do antagonismo, tem que ter complexidades", opina Maria. Para o ator, o fato de seu personagem e dos outros homens da trama não terem a simples oposição entre mocinho e vilão pode colaborar para fazer o público refletir sobre os assediadores no Brasil.
"A minissérie tem personagens masculinos bem delineados, sem estereótipos, e isso vai ajudar. Muitas vezes o homem não tem essa clareza toda sobre o que é assédio. Não tô justificando, não tem desculpa, mas não é fácil, uma coisa que a gente não tem no Brasil é educação. A gente tem que se educar, o mundo tá mudando e a gente tem que melhorar. O cara às vezes não sabe que está assediando, mas tem que saber", afirma.
"Assédio é algo terrível que tem que ser discutido. Esse trabalho é primoroso e propõe um debate em alto nível. Acho que a minissérie vem em um momento muito bacana, e toda essa questão vai ser bem exposta. Não dá mais pra ser assim [no trato com as mulheres]", conclui o ator.
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