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ILANA CASOY

Ex-parceira de Luiz Bacci, criminóloga quis furar a bolha e mostrar discurso tolerante

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Ilana Casoy usa um casaco azulado e está na frente de um cenário neon e iluminado

Ilana Casoy em podcast; ela co-apresentou programa com Bacci para mostrar novo discurso

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 21/4/2024 - 12h00

À frente da série documental Em Nome da Justiça, Ilana Casoy quer mostrar também o lado B do sistema prisional brasileiro. Para o público, que está acostumado a ouvir âncoras bradarem que o Brasil não pune o suficiente, pode ser chocante ver as histórias abordadas pela criminóloga em sua série: pessoas inocentes presas sem prova alguma, por mera causalidade, e que muitas vezes passam suas vidas lidando com o trauma e o estigma de um crime que não cometeram.

Enquanto isso, os presídios ficam cada vez mais opressivos, superlotados e sem recursos, até por incentivo da própria população --vide a "PL da saidinha", rechaçada pela escritora. Para conseguir atrair o público que defende essa situação, a roteirista traçou uma estratégia: se aliar a Luiz Bacci, apresentador do Cidade Alerta, da Record.

"Ele é um cara que para mim representa uma imprensa que eu morro de medo, que é a imprensa instantânea. 'Ah, então por que você foi [apresentar com ele]?'. Porque é uma brechinha que se abre, uma fresta para a gente entrar com um discurso mais amplo, mais tolerante, de um olhar mais profundo sobre esse assunto", afirma ela em entrevista ao Notícias da TV.

Os dois trabalharam juntos na primeira temporada da série sobre injustiçados, que tem sua terceira temporada exibida todas as sextas, às 21h10, no canal A&E. Para Ilana, o objetivo foi cumprido. Ela viu a pauta sobre injustiçados crescer exponencialmente desde então, ganhando matérias e reportagens especiais nos grandes telejornais da TV aberta.

"Essas pessoas [os injustiçados] são arrebatadas. Elas nem sabem que são acusadas, porque elas não são criminosas. É como você, que está sentada, me entrevistando. Bate a polícia na sua porta e te leva. É um filme de terror... Todo true crime [gênero de produções do audiovisual que aborda "crimes reais"] é um filme de terror, mas aqui é aquele terror do grito mudo, né? Até a pessoa entender o que está acontecendo...", compara.

Para além dos casos de injustiça, Ilana também destaca que os reais criminosos não deixam de ser seres humanos. "Todo mundo me pergunta: ''Como você se sente entrevistando assassinos?'. Eu entrevisto pessoas que em algum momento cometeram um crime, mas, ainda assim, pessoas. Essa despersonalização quem faz é o serial killer, em que ninguém é personalizado, todo mundo é uma massa... Uma massa de encarcerados, de criminosos. Essas pessoas têm nome, sobrenome, filho, mãe, irmão", diz.

Precursora do true crime

Ilana tem conhecimento de causa. Em seus mais de 20 anos de carreira, escreveu um livro e uma série sobre o caso Nardoni, foi autora dos roteiros de A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais (2021), sobre Suzane von Richthofen, e também auxiliou na série Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime (2021), da Netflix. Também trabalhou na ficção, ajudando a criar os maldosos Brandão (Eduardo Moscovis) e Matias (Reynaldo Gianecchini), de Bom Dia, Verônica (2020-2024) 

Não foi uma trajetória fácil, até porque Ilana foi precursora do true crime no Brasil. Quando começou, sequer existiam muitos livros que tratavam da investigação aprofundada de crimes. Isso era mais comum no exterior, para onde ela viajava e comprava dezenas de livros sobre o tema.

Pesou mais ainda o fato de ela ser mulher. "Hoje em dia, está bem mais fácil, mas o que você acha que acontecia quando a escritora mulher fazia uma pergunta? Uns 15 anos atrás, fui chamada para dar uma palestra e fiquei tão honrada... E o professor que me apresentou usou a negativa. 'Ilana Casoy. Ela não é psicóloga, não é psiquiatra, não é advogada'", relembra.

Agora, contudo, ela sente estar transformando vidas com seu trabalho, embora ressalte que não usa a série para fazer ativismo, até para não perder credibilidade. O importante, para ela, é a denúncia do caos do sistema prisional brasileiro --que muitas vezes ainda faz o injustiçado arcar com os custos de investigações e revisões processuais paralelas, que deveriam ser obrigação do Estado.

Nos episódios que serão divulgados neste mês, Ilana conta quatro histórias diferentes. Em uma delas, que deve ir ao ar nesta sexta (26), um homem foi condenado injustamente pelo estupro de uma menina de nove anos. Submetido à "lei da prisão", ele foi estuprado mais de 60 vezes por outros presos, contraiu Aids, adquiriu vício em drogas, teve seu casamento destruído e perdeu completamente o contato com os filhos. 

Esse é apenas um exemplo dos calvários vividos pelos injustiçados em um espaço que deveria ser de ressocialização --ao menos, segundo consta na Constituição Brasileira. E é essa realidade que Ilana ainda pretende, aos poucos, transformar.


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