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ROTA 66

Em busca de justiça, Caco Barcellos identificou mais de 4 mil cadáveres

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Montagem com Caco Barcellos atualmente e em 1992

Caco Barcellos atualmente e em 1992, ano de lançamento do livro Rota 66, que virou série

A morte de três jovens em 1975 foi o ponto de partida do caso Rota 66, investigação de Caco Barcellos que detalhou como policias da tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo mantinham um "esquadrão da morte" que executava pessoas inocentes entre as décadas de 1970 e 1990. Ao longo dessa apuração, o titular do Profissão Repórter seguiu em busca de justiça e identificou mais de 4 mil vítimas dessa operação letal.

"O Brasil não é signatário de nenhum projeto que envolva pena de morte. A Constituição é clara e não permite que ninguém tire a vida dos outros, sejam autoridades ou não. Bastava trabalhar meia dúzia de horas na apuração dos casos para descobrir uma quantidade imensa de contradições. Com o passar dos anos, fiquei muito assustado e criei um banco de dados", detalha ele.

Esse banco de dados serviu como base para o livro-reportagem Rota 66 - A história da polícia que mata (1992), um dos principais trabalhos de Barcellos ao longo da sua trajetória profissional.

"Quando identificava alguém, perguntava à Justiça se era criminoso ou não, e a Justiça me dizia que não. Disseram isso 2.200  vezes, das 4.200 pessoas que identifiquei. Isso me assustou muito! Embora considere grave matar um criminoso, é mais grave ainda matar pessoas inocentes que nem sequer tiveram um ato ilícito ou um confronto com a polícia", complementa.

Trinta anos após o lançamento do livro, esse trabalho chega ao Globoplay como a série Rota 66: A Polícia que Mata. Durante a apresentação à imprensa do enredo, em que o Notícias da TV esteve presente, Barcellos revela uma história que ficou fora das páginas do seu best-seller.

"Insisti para que essa história estivesse no livro. É um atleta de futebol famosíssimo, já esteve na Seleção Brasileira, infelizmente não me autorizou a contar sua história. É um cidadão negro. Na época em quem foi perseguido pelas 'tropas de elite', tinha 12 anos. Ele correu muito para escapar da viatura, sem nenhum tipo de farol ligado, nenhum sinal. Era um jogador de futebol em formação, conseguiu saltar todos os muros e escapou de virar mais um personagem do livro", detalha.

Noites de pânico

O líder do Profissão Repórter defende que é um correspondente de guerra quando o assunto é a violência urbana: "A nossa guerra é permanente! Usamos essas três palavras para identificar o profissional enviado para um conflito armado convencional: se for uma revolução civil, uma força do exército de um lado e a população civil de outro, ou dois exércitos convencionais trocando violência. No Brasil, é assim!"

"É o Estado brasileiro vestido com o fardamento das polícias militares atacando a sociedade civil como se fosse inimiga", complementa.

E engana-se quem pensa que, com os anos de experiência, torna-se mais fácil trabalhar em torno dessa violência: "Não saberia contar quantas vezes já acordei com pesadelos e gritos horrorosos. Evidentemente, fiz um processo terapêutico para entender que eram essas vidas que me acompanham".

Na série ficcional baseada na obra literária, Humberto Carrão interpreta Barcellos na juventude. O jornalista, gaúcho recém-chegado a São Paulo, é designado para a cobertura do julgamento dos policiais acusados pela morte de três pessoas e, nesse trabalho, percebe que a história é bem maior do que apenas esse crime.

Rota 66 - A Polícia que Mata tem oito episódios, e os dois primeiros serão disponibilizados nesta quinta (22) para os assinantes do Globoplay. Os demais serão adicionados semanalmente, sempre às quintas, em blocos com dois episódios cada. Assista ao trailer:


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