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BRUNO BARRETO

Diretor de série sobre escravidão na HBO desabafa: 'O ser humano é terrível'

DIVULGAÇÃO/HBO

Mulher negra de vestido vermelho varrendo a frente de uma casa simples feita de barro e terra

Cena da série Escravidão - Século 21; gravações ocorreram em 2018 em diferentes regiões do Brasil

LUÍS FELIPE SOARES

luis@noticiasdatv.com

Publicado em 8/5/2021 - 7h15

Responsável pela série documental Escravidão - Século 21, atualmente em exibição na HBO, o diretor Bruno Barreto revelou que aprendeu com o projeto que a essência humana pode ser horrível. A produção nacional expõe a escravidão contemporânea no Brasil em meio a histórias, relatos e análises. Ele assina como diretor-geral da atração, idealizada por seu pai, Luiz Carlos Barreto.

"O ensinamento [da série] é de que o ser humano é terrível e, por isso, a condição humana é muito perigosa", dispara o cineasta ao Notícias da TV.

Barreto conta que o que mais lhe chamou a atenção foi a história de Gabriela Jesus Silva. Quando era criança, ela seguiu os planos da família de deixar a pequena cidade de Cansanção, no interior da Bahia, para morar com uma professora em Salvador.

O objetivo era que a mulher tratasse a garota como se fosse sua filha --porém, a jovem acabou escravizada pela família, além de ser espancada e ter o direito de ir à rua somente para pequenas compras.

DIVULGAÇÃO/FILIPE VASCONCELOS VIANNA

O diretor Bruno Barreto, de Escravidão

"A entrevista com o pai da Gabriela é impressionante", ressalta Barreto. Segundo o diretor, sua ideia era tentar compreender o que leva as pessoas a fazerem esse tipo de aposta e a se sujeitarem ao crime.

Ele também revela que seu episódio favorito é o que fala sobre sexo na escravidão. Marcelo Santiago, produtor da obra documental e com quem Barreto divide a direção dos episódios, lembra que uma entrevista ganhou força pela reflexão da personagem na tela.

"Tem uma [entrevista] que me chamou atenção, principalmente pelo silêncio, que foi a da Taiana. Quando tinha 16 anos, ela foi escrava sexual em Altamira [no Pará], durante a construção da usina de Belmonte. A entrevista com ela está no episódio cinco", detalha. "Foi só o câmera, o cara do som e o Bruno na frente para conseguir fazer com que ela falasse e, mesmo assim, foi dificílimo. Ela é altamente traumatizada."

As gravações de Escravidão - Século 21 ocorreram em 2018 e passaram por todas as regiões do Brasil, do Rio Grande do Sul a um quilombo no Piauí, tanto em capitais de Estado quanto em cidades do interior, para mostrar que a questão da escravidão contemporânea ocorre em diferentes realidades.

Responsável pela ideia da série, Luiz Carlos Barreto participou da concepção, da escolha dos temas e dos casos que seriam abordados. "A minha memória é de que o papai [Luiz Carlos Barreto] participou ativamente na edição, na montagem e na elaboração dos temas. Só na execução que não me recordo de ele ter opinado tanto", explica o diretor-geral.

Santiago defende que o crescimento cada vez maior da desigualdade e da distribuição de riquezas são fatores essenciais para que a escravidão ainda exista. "É um grande problema que, em algum momento, deverá ser encarado, porque senão entraremos em colapso. Já se fala muito da renda mínima, que é uma das soluções que começaram a ser apontadas. Se isso não for encarado de uma maneira global e pelos governos, certamente iremos colapsar."

Coprodução da HBO com a produtora Filmes do Equador, Escravidão - Século 21 estreou na programação da HBO em 4 de maio. Os capítulos têm exibição semanal na TV paga e vão ao ar nas noites de terça-feira, sempre às 21h. O material também fica disponível no HBO Go.

"Espero que a série tenha um público diverso. Acho que hoje o interesse por documentário é cada vez maior. Espero que as poucas pessoas que virem na TV a cabo falem, gerem boca a boca", encerra Barreto.


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