Survive
Divulgação/Quibi
Sophie Turner, atriz indicada ao Emmy, em cena do drama Survive, uma das séries lançadas pelo streaming Quibi
JOÃO DA PAZ
Publicado em 9/4/2020 - 5h50
A primeira série de Sophie Turner após Game of Thrones (2011-2019) estreou na última segunda (6) no streaming novato Quibi, uma espécie de Netflix que só funciona em aparelhos celulares. Mas o drama Survive recebeu duras críticas de jornalistas americanos, que chamaram a produção de "irresponsável". Por que usaram uma palavra tão forte assim?
Baseado em um livro homônimo, Survive acompanha a jovem Jane Salas (Sophie), que sofre de estresse pós-traumático e tem tendências suicidas. E a atração não mede palavras para explicar quem ela é. Dentro de uma casa de recuperação, onde viveu durante um ano, ela diz o seguinte ao depilar as pernas com um aparelho de barbear: "Se eu pudesse, me matava agora mesmo".
Isso após marcas no corpo dela, causadas por automutilação, serem exibidas em detalhes, com direito à aproximação da câmera. A série ainda mostra cenas de flashback de quando Jane tentou se matar de fato, um verdadeiro banho de sangue.
Embora Survive avise no começo dos episódios que exibirá "cenas que algumas pessoas podem achar perturbantes, incluindo problemas mentais e pensamentos suicidas", essas palavras não aliviam nem um pouco o quão explícito o drama é nessa questão. Faz de 13 Reasons Why, da Netflix, uma Malhação de tão inocente.
Isso levou Emily Todd VanDerWerff, do site Vox, a ser taxativa: "Uma das séries mais irresponsáveis que eu já vi". Segundo ela, Survive "é minuciosa nas instruções de automutilação e suicídio, de um jeito que faz tudo ser vagamente atrativo".
O experiente Brian Lowry, da CNN, foi direto: "De longe, [Survive] é a pior série do catálogo do Quibi [pronuncia-se cuibi]". Kathryn VanArendonk, do Vulture, abriu o jogo: "Honestamente, não sei o que é mais frustrante: a irresponsável ideação suicida ou as pedantes cenas de flashback".
Veículos prestigiados da mídia americana também ecoaram essas análises. A revista Time, em texto assinado por Judy Derman, disse que "a série, intencionalmente ou não, se esbalda na estética niilista e sangrenta do suicídio". Já a Variety, com a jornalista Caroline Framke, decretou que Survive é "errante em seus clichês [suicidas] tóxicos."
Dito isso, todos são quase unânimes ao ressaltarem que Sophie interpreta muito bem o papel que lhe foi dado. Uma mulher totalmente diferente da sonsa Sansa, que no final da série da HBO, a mais premiada da história, não era mais tão avoada.
E o pior é que toda essa parte pesada de Survive acontece logo no começo, nos dois primeiros episódios, que só afugentam o curioso que quer ver a atriz em outro papel. Do terceiro capítulo em diante, a série muda de cara e se torna uma história clássica de sobrevivência (daí o título da produção).
Chega a ser irônico. Jane está em um avião, saindo do centro de recuperação e indo de volta para casa. Ela roubou diversos remédios da instituição e está decidida: vai morrer de overdose no banheiro da aeronave.
Quando ela está a segundos de tirar a própria vida, o avião passa por um problema e bate em uma montanha. Só ela e um outro passageiro (vivido por Corey Hawkins) sobrevivem. Ela que queria morrer, agora fará de tudo para sobreviver.
O Quibi foi lançado na última segunda (6) e pode ser acessado no Brasil, mas com um pequeno detalhe: por enquanto, não há dublagem nem legendas em português. Somente áudio original (inglês) e legendas em espanhol, no máximo.
É possível baixar o aplicativo na loja do sistema operacional de um aparelho celular. Com o dólar nas alturas, é bom preparar o bolso, pois a assinatura mensal é de R$ 32,90, na versão sem anúncios. Mas sai mais barato do que uma conversão direta com o dólar: nos EUA, a mensalidade é de US$ 8 (R$ 41). Menos mal que há um período de testes gratuito longo, de três meses.
Com a possibilidade de ver as séries com o celular em pé (na vertical) ou deitado (na horizontal), uma experiência interessante, o Quibi tem o intuito de revolucionar o mercado do entretenimento, com episódios curtos, que não passam de dez minutos.
A ideia é que o assinante assista à plataforma aproveitando os espaços de tempo vago durante o dia, principalmente no ambiente urbano, em pausas do trabalho ou dos estudos, por exemplo.
Com quase o todo o planeta Terra dentro de casa, cumprindo uma quarentena devido à crise do coronavírus, não poderia haver um tempo pior de lançamento de um serviço com essa proposta.
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