NACIONAL, MAS NEM TANTO
Reprodução/Netflix
Mel Lisboa vive a jornalista Thereza em cena da primeira temporada de Coisa Mais Linda: para gringo ver
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 23/6/2019 - 5h14
Sucesso da Netflix já renovado para uma segunda temporada, o drama Coisa Mais Linda carrega o selo de produção nacional da plataforma, mas tem DNA estrangeiro. A série foi criada e escrita completamente em inglês, e só depois de receber o selo de aprovação gringo foi traduzida para o português. Os chefões da gigante do streaming também descartaram a sutileza e encomendaram um "novelão", especialidade da televisão brasileira.
As revelações foram feitas pelo produtor Giuliano Cedroni em conversa publicada no canal Imprensa Mahon, que Krishna Mahon (ex-executiva do History e do A&E) comanda no YouTube.
O brasileiro aparece na obra feminista com o cargo de cocriador ao lado da norte-americana Heather Roth --uma indicação da Netflix gringa para que a equipe da série não caísse em "vícios do audiovisual brasileiro", como atrasos na produção ou longos debates que não levam a lugar nenhum.
"A gente teve que montar uma sala de roteiro aqui, com roteiristas brasileiros que escreviam e falavam inglês. A série foi criada em inglês, escrita em inglês e aprovada em inglês. Só depois a gente traduziu o texto para o português. Coisa Mais Linda já nasceu toda em inglês. Aquela loucura das salas de roteiros, com uma pancadaria de ideias? Era tudo em inglês", ressaltou o produtor.
Além de falar e escrever o idioma estrangeiro fluentemente, os roteiristas da série precisaram passar pelo crivo dos chefões da plataforma de streaming. E os critérios para a aprovação de cada nome eram bem elevados.
"Eu mandava os currículos de bons roteiristas brasileiros, eles olhavam e falavam: 'Não, obrigado'. [Eu dizia:] 'Pô, mas o cara fez cinco longas-metragens, dois foram super bem de bilheteria'. E eles: 'Então, ele só fez longa-metragem, isso aqui é série'. Aí eu mandava o currículo de uma roteirista de comédia, muito boa, fez duas séries... 'Isso aqui é drama, não comédia'. Para eles, essa clareza dá resultado", disse.
Depois de apostar em uma produção totalmente fora da zona de conforto dos produtores brasileiros com a ficção científica 3%, a Netflix quis fazer um investimento mais seguro e pediu que Coisa Mais Linda fosse um novelão.
"A Kelly [Luegenbiehl, atual vice-presidente de originais da plataforma na Europa e na África], que era a chefona da Netflix no Brasil na época, no primeiro dia me falou: 'Giuliano, a gente quer fazer uma elevated soap opera [novela de alto nível, em tradução livre]. Vocês não são bons de novela? Então a gente vai fazer a melhor novela do ano. Mas tem que ser novela, com melodrama'", lembrou Cedroni.
A lista de solicitações de Kelly para deixar a série com cara de novela? "Ter amorzão, triângulo amoroso, tapa na cara, traição... Mas tentar colocar algumas grandes questões nessa história", listou o produtor durante a conversa com Krishna.
Giuliano Cedroni contou que o elenco principal da série, composto por atrizes que tinham passagem por novelas da Globo (Maria Casadevall, Mel Lisboa, Fernanda Vasconcellos e Pathy Dejesus), também foi uma recomendação gringa.
"Quando a gente começou a fazer o casting [escalação do elenco], os diretores queriam grandes atores do teatro, do cinema... Gente boa, mas desconhecida do público. E a Netflix falou: 'Não é nada disso, nós queremos fazer uma série para atingir muita gente, então o elenco tem que seguir o tom do roteiro. Não é um texto cult, com um requinte de sutilezas'", destacou.
Confira a entrevista de Giuliano Cedroni para Krishna Mahon:
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