FANTASMAS DE BEIRUTE
Sifeddine Elamine/Showtime
Amir Khoury é um dos protagonistas de Fantasmas de Beirute, série produzida por Daniel Dreifuss
Daniel Dreifuss pode até não ser um nome tão conhecido do público nacional, mas é um dos poucos brasileiros que pode se apresentar como um vencedor do Oscar. Produtor de Nada de Novo no Front (2022), que levou quatro estatuetas neste ano, ele agora mira os Estados Unidos com a minissérie Fantasmas de Beirute, baseada na história de um terrorista de verdade.
Disponíveis no Paramount+, os quatro episódios mostram a caçada real ao libanês Imad Mughniyeh (1962-2008), um dos líderes do Hezbollah. Apesar dos esforços de agentes da norte-americana CIA e da Mossad (a Inteligência de Israel), o terrorista conseguia se esconder tão bem que foi apelidado de "fantasma" --daí o nome da série.
Criada pelos israelenses Avi Issacharoff e Lior Raz, que também estavam por trás da elogiada Fauda (2015-2022), a atração tem produção norte-americana, mas não se furta de colocar o dedo na ferida e apontar que, se o conflito no Oriente Médio chegou ao ponto atual, parte da culpa é do governo dos EUA.
"Essa região em particular é muito complexa, e me interessava a ideia de fazer uma série que não tivesse um olhar maniqueísta, de que um lado é bom e o outro é mau, de que os Estados Unidos precisam salvar os coitadinhos árabes... Se tivesse esse tipo de diálogo, não seria um projeto meu!", sentencia Dreifuss em conversa exclusiva com o Notícias da TV.
"Eu acho que a série fez um trabalho muito interessante nesse aspecto. E isso foi algo que percebi já no roteiro inicial e, depois, durante o desenvolvimento, de conseguir encontrar um balanço das personagens, em que os personagens, especificamente os do universo árabe, têm voz própria, têm complexidade, têm humanidade, o que não é comum", valoriza o produtor.
O brasileiro participou dos trabalhos em Fantasmas de Beirute enquanto Nada de Novo no Front começava a colher frutos no circuito de premiações. "Eu estava no set gravando [a série], saí para a pré-estreia mundial [do filme alemão] e voltei. Fui com uma mala de três dias (risos). Quando terminamos de rodar Fantasmas, em novembro do ano passado, Nada de Novo já tinha estreado na Netflix. Foi uma correria", lembra ele.
reprodução/instagram
Dreifuss produziu o premiado Nada de Novo no Front
As duas produções têm o comum o fato de desafiarem a visão dominante dos conflitos e levantar questionamentos sobre os motivos das guerras. "As pessoas gostam de falar que eu faço cinema político, séries políticas, mas eu não penso assim", rebate o executivo.
"O que me interessa são indivíduos complexos, personagens complexos, multifacetados, projetos que façam um diálogo com o mundo em que vivemos, momentos de transição interna e externa da sociedade", lista Dreifuss. "Histórias verídicas, muitas vezes, são as que se encaixam nisso. E, se for um projeto de época, para mim é importante que tenha um diálogo com o mundo em que vivemos atualmente também."
Curiosamente, Fantasmas de Beirute foi desenvolvido como um documentário e, só no meio do projeto, se transformou em um projeto de dramaturgia --com depoimentos de pessoas reais entrecortando a narrativa. Dreifuss se juntou apenas nessa segunda fase, quando o canal Showtime já tinha aprovado a ideia e encarado de frente a bucha de produzir uma atração que poderia provocar divisão entre o público norte-americano.
"Eu acho que, do estúdio que foi muito corajoso ao diretor, todos entraram no projeto com a clareza de qual série estávamos fazendo. Inclusive, foi meio que um critério: quem não entendeu a série, não tinha lugar nesse mundo", resume o brasileiro à reportagem.
"Porque tinha uma logística complexa, eram 140 locações, a maioria prática [fora do estúdio, em cenários reais], tempo reduzido, foram só 57 dias de gravação, viajando pelo Marrocos, por vários lugares do país. Imagina o ritmo? Então, quem entrou, já entrou nessa vibe, com a compreensão de que ia ser um desafio, mas um desafio com uma recompensa pessoal e criativa."
Dreifuss aponta ainda que, se Fantasmas de Beirute tivesse começado como dramaturgia, talvez não tivesse o mesmo resultado. "Acho que a gente teve a sorte de começar como um documentário e evoluir para uma narrativa. Eu não posso dizer como seria se a série já tivesse chegado pela porta, se teríamos a mesma história. Foi um desafio difícil, mas superinteressante. Mas deu certo, e estamos aqui. Se tivesse dado tudo errado, eu não estaria aqui conversando com você (risos)", brinca o produtor.
Fantasmas de Beirute já está disponível no Paramount+. Confira o trailer:
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