RAFAEL PRIMOT
Divulgação
Rafael Primot é ator, diretor e roteirista de Chuva Negra, que tem protagonista com síndrome de Down
Nos últimos anos, "representatividade" e "inclusão" viraram palavras de ordem no audiovisual brasileiro. Mas o ator, diretor e roteirista Rafael Primot quer mais. Ele é responsável pela série Chuva Negra, já disponível no Globoplay, cujo protagonista é um jovem ator com síndrome de Down. A atração também tem uma atriz trans e casais homoafetivos em destaque. Mas nada está ali por acaso ou apenas para ticar "caixinhas de minorias".
"Muitas vezes, a gente percebe que, quando se fala de feminismo, de comunidade gay, de pretos, tudo é feito de uma maneira impositiva. E isso não faz efeito, não comunica. Eu estou fazendo uma série, não uma palestra. Precisa ser entretenimento acima de tudo", diz ele ao Notícias da TV.
"A minha ideia como realizador era integrar, discutir isso de uma maneira que vai deslizando para o telespectador. É assim que a sociedade precisa ver, que é simplesmente ser. Eu tenho pautado muito os meus projetos com inclusão, com diversidade, mas na verdade é apenas um recorte real da sociedade. Isso me abriu os olhos sobre o quanto a gente finge normalidade, mas na verdade está invisibilizando essas pessoas. A gente tem de inserir!", discursa.
O artista de 41 anos ganhou visibilidade nacional como ator na série Tapas & Beijos (2011-2015), da Globo. Na comédia, deu vida à travesti Stephanie. Hoje, não aceitaria mais fazer o papel --deixando-o para artistas que vivem essa realidade na pele. "Eu ter feito uma personagem travesti foi importante para a causa, porque elas não eram chamadas para fazer. Agora, não é mais o momento de eu estar lá, porque a gente precisa abrir esse espaço", aponta.
Acho que são etapas de representatividade, né? A gente veio de um momento em que não existia nada, não se conseguia inserir essas figuras. Se você não fosse hétero, cis e lindo, não tinha espaço na televisão. É preciso mudar todas as estruturas!
"Agora, a gente precisa se recolher como artista e abrir espaço para que outras pessoas ocupem cada lacuna. Inclusive atrás das câmeras, porque 90% dos realizadores são homens héteros. E, em um terceiro momento, a atriz trans vai fazer papel de cis e vai estar tudo certo, a gente nem vai debater isso, porque ela é uma artista acima de tudo."
A inclusão ainda tem um longo caminho a ser percorrido, mas Primot se mostra animado com o ritmo do avanço. Chuva Negra, por exemplo, precisou ser retrabalhada porque alguns tópicos que ele havia planejado debater quando a esboçou já não faziam mais sentido quando a série saiu do papel.
"Ela demorou cinco anos para acontecer, e eu tive que mexer no roteiro porque ter uma personagem trans já não era mais uma questão, ela simplesmente está lá, é aceita e está tudo certo. Na minha próxima série, eu quero atores e atrizes trans fazendo papéis cis, e isso também não vai ser discutido. Vai ser o lugar dos sonhos! Eu estou sedento por isso", valoriza.
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