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Análise | Teledramaturgia

Verdades Secretas tem trama ágil, mas texto é constrangedor e pobre

Reprodução/TV Globo

A atriz Eva Wilma conversa sozinha em capítulo da novela Verdades Secretas: exemplo de texto ruim - Reprodução/TV Globo

A atriz Eva Wilma conversa sozinha em capítulo da novela Verdades Secretas: exemplo de texto ruim

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 24/7/2015 - 15h30
Atualizado em 25/7/2015 - 6h28

"As minhas pernas ainda são bonitas. Será que alguém nesse mundo ainda me acha gostosa?", perguntou a personagem Fábia a si mesma, observando a perna estendida no ar depois de levar um fora do pretendente. A frase dita seria constrangedora de ser ouvida da boca de qualquer intérprete, mas se torna ainda mais vergonhosa quando quem diz é Eva Wilma, uma das maiores atrizes da televisão brasileira.

Exemplos de falta de sutileza no texto de Verdades Secretas, a trama das onze da Globo, não faltam. Os personagens ganham adjetivos pejorativos de acordo com as características físicas de seus próprios atores: gorda, narigudo, velha, baleia, e por aí vai. Chega a ser desrespeitoso com os profissionais que dão as caras no vídeo.

É inegável que a história da novela avança a passos largos. A protagonista Arlete/Angel (Camila Queiroz) já viu os pais se separarem, virou modelo, foi cafetinada por Fanny (Marieta Severo), apaixonou-se por seu cliente Alex (Rodrigo Lombardi), um tipo rico e sem caráter, e agora vê a mãe Carolina (Drica Moraes) prestes a se casar com o homem que um dia a comprou. Isso tudo com pouco mais de um mês no ar. 

Apesar da trama envolvendo o submundo da moda, com histórias pesadas de prostituição e uso de drogas, Verdades Secretas caiu no gosto do público. Além do ritmo cadenciado da narrativa, outra explicação para o sucesso do folhetim é a alta voltagem sexual presente. Em uma época em que valores familiares são postos à prova em Babilônia, a trama das nove da emissora, Walcyr Carrasco conseguiu escapar da polêmica e contar a história que pretendia sem fazer concessões às alas conservadoras. 

Vale aqui um elogio à direção de Mauro Mendonça Filho nas cenas de sexo. Bem dirigidas, quase coreografadas, as imagens são bonitas e nada vulgares, bem diferente do que se vê nos diálogos apresentados. 

As novelas de Walcyr Carrasco têm dois pesos e duas medidas: se por um lado elas não sofrem com barrigas _o autor é um dos mais talentosos na criação de tramas para movimentar suas histórias_, elas pecam pelo texto excessivamente pobre, com diálogos quase teatrais e que não combinam em nada com o naturalismo da televisão.

O telespectadores pagam penitências pelos pecados cometidos pelo texto de Verdades Secretas, em especial pelo excesso de didatismo. Em uma cena exibida nesta quinta feira (23), por exemplo, Carolina, Alex, Hilda (Ana Lucia Torre) e Arlete conversavam. Carolina dizia à filha sobre sua lua-de-mel. "Nós vamos para um resort, que é um hotel na beira da praia. Nós vamos no avião dele". Ao que Hilda replicava, surpresa: "Você tem avião?", e Alex finalmente respondia _"Tenho".  

É exatamente o oposto do que ocorre com Manoel Carlos, excelente dialoguista, mas que, pelo menos em suas últimas novelas, vem tropeçando ao criar histórias empolgantes. Uma parceria de Walcyr Carrasco e Maneco renderia um ótimo folhetim: o primeiro criaria as histórias e viradas e o outro, escreveria as falas dos personagens.  

Sorte que Verdades Secretas tem um elenco convincente. Além da própria protagonista-revelação Camila Queiroz, Rodrigo Lombardi, um ator com poucos recursos, funciona como galã. Marieta Severo, Drica Moraes, Ana Lucia Torre e Eva Wilma seguram a onda com maestria e se destacam em meio a falas tão banais. 

Elas, coitadas, se viram nos 30 para passar veracidade com um texto daqueles. Conseguem, mas é de se imaginar o trabalho que devem ter para isso. 


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