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Análise | Teledramaturgia

Novela bíblica da Record peca no didatismo e parece Carnaval

Divulgação/TV Record

Zécarlos Machado interpreta o faraó Seti com Moisés criança (de costas) em Os Dez Mandamentos - Divulgação/TV Record

Zécarlos Machado interpreta o faraó Seti com Moisés criança (de costas) em Os Dez Mandamentos

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 28/3/2015 - 13h41

Um telespectador desavisado que a partir desta semana sintonizou na tela da Record em algum dia às 20h30, pode ter tido a impressão de que estava assistindo a um desfile de escola de samba fora de época. Não era. Tratava-se apenas de Os Dez Mandamentos, a primeira novela bíblica exibida pela emissora.

Com a experiência acumulada em séries do gênero, a Record encontrou no filão religioso um espaço importante para criar uma identidade própria para seus produtos de teledramaturgia, sem emular o padrão da Globo, sua principal concorrente.

Os Dez Mandamentos conta a saga de Moisés (Guilherme Winter), desde seu nascimento até a vida adulta. Dividida em quatro fases, a primeira semana da novela limitou-se a contar a história de Moisés ainda criança e de como sua mãe, Joquebede, fez para salvá-lo da matança de recém-nascidos hebreus. Nas próximas fases, Guilherme Winter assumirá o papel, e o ator já mostrou ter carisma de sobra para encarar um protagonista.

É preciso reconhecer que a caracterização e a cenografia, ainda que lembrem alegorias carnavalescas, melhoraram muito. O elenco é bom e conta ainda com nomes de peso, como Zécarlos Machado (Seti I) e Samara Felippo (Joquebede). A direção de Alexandre Avancini é convincente, com cenas iluminadas e paisagens bonitas. Sequências de ação foram bem executadas, como a cena inicial dos bebês hebreus arrancados do colo de suas mães e em seguida jogados no rio.

Mas o problema principal está no texto, que fez pouquíssimas concessões ao original bíblico nessa adaptação para a televisão, o que deixa a novela um tanto hermética. Reside aí o primeiro problema da produção, feita para quem conhece a Bíblia de trás para frente e já tem certa familiaridade com as histórias.

Um exemplo simples que poderia ser facilmente corrigido: o nome dos inúmeros personagens, quase todos sem um pingo de correspondência em português. E são muitos, com pérolas como Henutmire (Mel Lisboa), Paser (Paulo Nigro) e Num (Vicente Tuchinsky) _como não pensaram na cacofonia do texto quando deram esse nome para um personagem? Para compensar, há uma nítida tentativa de trazer didatismo aos diálogos, o que torna tudo muito artificial e pomposo.

Por outro lado, Os Dez Mandamentos mostra um amadurecimento da emissora no que diz respeito à promoção e divulgação da história: a rede apresentou no Jornal da Record uma série de reportagens sobre o Egito, um gancho importante e necessário para promover a novela que entrou no ar.

Com uma máquina de alcance a diferentes públicos à disposição como a televisão, ninguém melhor do que a própria emissora para divulgar seus produtos, coisa que a Globo faz há tempos com seus folhetins.

Vivian de Oliveira já adaptou outros textos bíblicos para a televisão, a exemplo de Rei Davi (2012) e José do Egito (2013) _houve, inclusive, espaço para inserir imagens desta última enquanto Anrão (Roger Gobeth) contava a história do povo hebreu para seus filhos.

Em suas minisséries, a autora teve o cuidado de não torná-las peças evangelizadoras, mas numa novela com mais de cem capítulos esse cuidado tem de ser redobrado. O que deve ser colocado como objetivo principal é a história a ser contada. O desafio da produção é manter o desfile carnavalesco impecável até a apoteose.


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