Análise | Teledramaturgia
Fotos: Reprodução/TV Globo
Bruna Marquezine e Glória Pires, protagonistas de I Love Paraisópolis e Babilônia, respectivamente
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 8/6/2015 - 5h27
Babilônia, a atual trama das nove da Globo, é um fracasso de audiência. Com uma história que cedeu às pressões do público conservador e perdeu sua essência, a trama tem dado menos audiência do que a novela das sete, I Love Paraisópolis, o que, para o autor Gilberto Braga, é uma "humilhação diária".
A avaliação é pertinente: a novela das nove é a produção mais cara da emissora e, portanto, precisa de índices melhores que justifiquem os valores cobrados no intervalo comercial. Tanto Babilônia quanto I Love Paraisópolis apresentam pontos em comum, mas que são tratados de maneira completamente opostas, o que, de certa forma, explica a melhor aceitação do folhetim das sete. São eles:
As atrizes Soraya Ravenle (I Love Paraisópoils) e Arlette Salles (Babilônia) são evangélicas, mas só na novela das sete há uma apresentação real do segmento religioso
Evangélicos
A novela das sete trata com normalidade e sem esteriótipos os evangélicos, a exemplo da personagem Eva (Soraya Ravenle), que já apareceu dizendo que vai ao culto e com a Bíblia na mão, mas nem por isso se restringe a usar o nome de Deus a todo instante. Já em Babilônia, a família Pimenta recorre ao "Altíssimo" em toda fala, e o texto faz questão de destacar um quê de moralismo e demagogia. Ainda que Maria José (Laila Garin) e Laís (Luisa Arraes) sejam mostradas com retidão de caráter, os personagens Aderbal (Marcos Palmeira) e Consuelo (Arlete Salles) parecem mais uma chacota do que um retrato desse público. É uma resposta camuflada dos autores à bancada evangélica do Congresso, que chegou a pedir o boicote da trama por mostrar um beijo gay no primeiro capítulo.
Moradores de comunidades são interpretados de uma forma mais alegre e colorida em I Love Paraisópolis, com Tatá Werneck (à esq.), do que em Babilônia, com Camila Pitanga
Ricos e pobres
Ambas as tramas são ambientadas em comunidades carentes, mas em Paraisópolis a favela é algo que idealizada, colorida. Já em Babilônia, é extremamente real, com dramas mais pesados _como pede uma novela das nove. Além disso, a dicotomia pobres versus ricos, na novela das nove, é carregada e mostra que os menos favorecidos são algo que idiotas, problema também enfrentado em O Dono do Mundo (1992), do mesmo Gilberto Braga. Paraisópolis, por sua vez, escapou dessa armadilha ao mostrar com sutileza que existe gente de tudo quanto é jeito, em tudo quanto é lugar.
O casal Bruna Marquezine e Mauricio Destri (à esq.) caiu no gosto do público por ter uma relação típica de novela, diferente do que ocorre com Thiago Fragoso e Camila Pitanga
Química do casal
Romance é característica essencial e indiscutível em novela. Bruna Marquezine (Mari) e Mauricio Destri (Benjamin) já conseguiram a tal química que toda produção folhetinesca sonha em ter com seu casal principal. Só com o olhar, os dois já se comunicam e conquistaram a torcida do público. Exatamente o oposto do casal central de Babilônia, Vinicius (Thiago Fragoso) e Regina (Camila Pitanga), que ainda lutam para caírem no gosto popular.
O ator Eduardo Dussek é peça principal da boa história coadjuvante de I Love Paraisópolis; já em Babilônia, Sharon Menezes não convence na paquera com Bento (Dudu Azevedo)
Tramas paralelas
Trama paralela tem a função de ajudar a sustentar a história principal ao longo dos meses em que a novela está no ar, mas em Babilônia elas parecem andar em círculos e nada acrescentam à narrativa. É o caso do casal Paula (Sheron Menezes) e Bento (Dudu Azevedo) e de Valeska (Juliana Alves) e Norberto (Marcos Veras), constantemente em um chove não molha. Em Paraisópolis, personagens secundários ganharam tramas interessantes, como Izabelita (Nicette Bruno), que sofre de Alzheimer, e Armandinho (Eduardo Dussek), um rico falido que faz de tudo para manter a pose.
Babu Santana é um bandido engraçado em I Love Paraisópolis e Marcos Veras, um chef em Babilônia; comédia na novela da sete condiz com os folhetins clássicos do horário
Humor
Em que pese o fato de uma novela das sete ser bem mais leve do que uma das nove e o humor ser característica central de sua narrativa, o que sobra de graça em Paraisópolis parece faltar em Babilônia. O núcleo cômico desta é chato, não empolga e não faz graça, pelo contrário, constrange. Ajustes foram promovidos, mas o resultado final está longe do ideal.
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