Análise | Teledramaturgia
Raquel Cunha/TV Globo
Os atores Alinne Moraes e Rafael Vitti em cena de Rock Story, novela das sete da Globo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 21/1/2017 - 7h30
De todas as novelas atualmente no ar na Globo, Rock Story é disparadamente a melhor. Com uma história muito bem estruturada, traz acontecimentos que desencadeiam outras ações e movimentam os núcleos, além de bons ganchos nos finais de cada capítulo e personagens bem criados e coerentes. Mesmo assim, o folhetim de Maria Helena Nascimento não é um estouro de audiência como as duas tramas anteriores no horário, Totalmente Demais e Haja Coração.
Existem alguns fatores que explicam os números abaixo do esperado. O primeiro é o da época da estreia da trama, em novembro, quando o horário de verão já estava em pleno vigor. No período, é comum que o número de televisores ligados caia substancialmente, o que impacta no ibope de praticamente todas as emissoras, principalmente no início da noite. Rock Story enfrentou também as festas de fim de ano e ainda sofre com as férias escolares.
A novela também está sendo prejudicada pelo desempenho sofrível de Sol Nascente, a trama das seis. Tanto Totalmente Demais quanto Haja Coração foram beneficiadas pelo sucesso de Eta Mundo Bom!. A entrega de uma trama para a outra gera um efeito cascata, ainda que exista um telejornal local no meio das duas. No caso de Sol Nascente para Rock Story, é uma espécie de "herança maldita".
Há também o peso da direção. Rock Story trabalha com uma fotografia menos colorida do que Haja Coração. Além disso, o humor presente na atual novela foge completamente do escracho da anterior. O riso em Rock Story é mais contido, e é certo que o folhetim preza o drama. A direção de Dennis Carvalho pouco contrapõe esses pesos e deixa a história um pouco sisuda demais.
Por fim, o horário das sete é considerado o mais "relaxado" de todos. Não tem o melodrama água com açúcar das seis nem o dramalhão pesado das nove. O humor característico equilibra essas duas vertentes para relaxar o telespectador diante da televisão. Em Rock Story, o relaxamento fica muito mais por conta da presença das músicas.
Surge daí mais um problema: como apontou o crítico Mauricio Stycer em seu blog no UOL, a trilha sonora rock and roll da novela vai justamente na contramão do gosto do público médio atual, mais para o sertanejo. A falta de identificação pode afastar o telespectador, mas é louvável o resgate que a trama faz de um gênero musical importante no cenário nacional.
De todo modo, Rock Story vale a atenção pelas qualidades que traz no enredo. Não há ali personagem algum sem função. Um exemplo claro é o de Eva (Alexandra Richter), a terapeuta de Gui (Vladimir Brichta), que recentemente ganhou uma trama própria com o drama _mais uma vez ele_ da morte do marido.
O rol de bons personagens que a novela engloba também dá créditos a ela. Diana (Alinne Moraes) é a mais completa de todos. Vilã da história, a ex mulher de Gui o traiu com seu maior rival, Léo Régis (Rafael Vitti). Mesmo assim, não desperta o ódio do público, em parte por conta de seu equilíbrio: age friamente quando precisa, mas ainda fica balançada por Gui, a ponto de se recusar a assinar o divórcio. Ela também faz de tudo para proteger o pai, Gordo (Herson Capri), das garras de Laila (Laila Garin).
Além de Diana, é possível citar o próprio protagonista, Gui, impulsivo, desajustado mas carismático; seu filho Zac (Nicholas Prattes), que cativa por ser justamente o oposto do pai; o ídolo Léo Régis, cantor canastrão que só; e sua mãe, Néia (Ana Beatriz Nogueira), que praticamente gasta sozinha a cota de humor da novela.
Rock Story é uma novela de qualidades, mas prejudicada por fatores contornáveis. Não será difícil encontrar uma rota de ajustes, que certamente não serão remendos malfeitos que a descaracterizarão.
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