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Análise | Teledramaturgia

Galã da Globo paga mico em trama requentada de A Regra do Jogo

Artur Meninea/Gshow

O ator Carmo Dalla Vecchia em A Regra do Jogo; público queria morte de personagem - Artur Meninea/Gshow

O ator Carmo Dalla Vecchia em A Regra do Jogo; público queria morte de personagem

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 4/3/2016 - 6h04

Tão logo saiu a notícia de que César (Carmo Dalla Vecchia) poderia se jogar do alto de um prédio e acabar com a própria vida, na última semana da novela das nove, as redes sociais pipocaram com mensagens de telespectadores incentivando o salto. A reação do público é sintomática em relação a um personagem tampão em uma trama completamente chata como a que César está envolvido em A Regra do Jogo, a novela das nove da Globo.

A entrada do personagem de Dalla Vecchia aconteceu na metade de história. Antes, a apagada Domingas (Maeve Jinkings) cortou um dobrado nas mãos do marido Juca (Osvaldo Mil): traída, diminuída em sua autoestima, espancada e enganada, Domingas sofreu mais que sovaco de aleijado com um marido agressivo e pinguço. Sua trama, aliás, foi requentada de outra história de João Emanuel Carneiro.

Em A Favorita (2008), Lilia Cabral dava vida a Catarina, uma dona de casa que também sofria com o marido bruto, Leonardo, interpretado por Jackson Antunes. Mas ainda falta a Maeve Jinkings comer um pouco mais de feijão com arroz para chegar à altura de Lilia Cabral. A atriz não tem, digamos, aquele brilho de uma estrela de TV como Lilia.

Como a história de Domingas não andava, entrou em cena um misterioso César, uma tentativa de desanuviar a sensação de déjà-vu dessa trama. Romântico, com pinta de galã, ele se encantou por Domingas e a tratou de maneira oposta ao brucutu Juca _só faltou chegar cavalgando um cavalo branco. Mas a verdade sobre o passado do amante logo veio à tona: ele é casado e se sente responsável pela morte dos dois filhos em um acidente de carro. Sua mulher, Gisela (Larissa Bacher), passa a procurá-lo até que o encontra e forma a outra ponta de um triângulo amoroso-sonífero com Domingas.

A pobre, mais uma vez, caiu na sofrência e esgotou os estoques de cristais japoneses (aqueles que as atrizes usam para chorar) do Projac inteiro. E César, que também pode ser chamado de Rodrigo, enlouqueceu, mas manteve um caso com ela, que mais tarde descobriu-se grávida, mas escondeu o fato do amante. Confuso.  

É então que vem o show de horror: não bastava uma trama terrível de tediosa. Desgraça pouca é bobagem e o castigo do público foi ter de ver Carmo Dalla Vecchia repetir maneirismos de outros personagens dementes que viveu recentemente em novelas da Globo. Caras de choro e bocas tortas: faltou verdade, sobrou vergonha alheia. Um mico para o coitado do ator.

Discutir a violência doméstica contra a mulher é mais do que necessário em tempos atuais e um produto abrangente como a telenovela é ideal para isso. Mas espera-se que a história esteja inserida e seja coesa dentro da narrativa do folhetim como um todo. Em uma trama descolada do restante da história central de A Regra do Jogo, a impressão que ficou é de que a trajetória de Domingas estava ali para cumprir "cota de merchandising social". E merchandising malfeito, seja na novela ou nos programas da tarde, só tem uma cura: o zapping.


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