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Crítica | Conselho Tutelar

Didática e pouca envolvente, série Conselho Tutelar parece jogralzinho

Reprodução/TV Record

Cena de Conselho Tutelar, série irregular, exibida pela Record na última semana passada - Reprodução/TV Record

Cena de Conselho Tutelar, série irregular, exibida pela Record na última semana passada

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 6/12/2014 - 8h09

Relegar um produto de teledramaturgia que custa caro aos fins de noite da programação não é estratégia das mais acertadas. A Record escolheu um horário ingrato, 23h30, para exibir Conselho Tutelar, a estreia da semana, mas a audiência não fez feio _a média foi de 7 pontos no Ibope, mais do que a minissérie Plano Alto.

O seriado, porém, padece de problemas que acarretam um desenrolar truncado da história. O principal deles, sem dúvida, é o texto que, apesar de não ser de todo sofrível, parece um jogral ensaiadinho, com um personagem passando a bola para outro na tentativa de deixar tudo explicadinho, mastigado demais. Depois de Plano Alto, o atual trabalho, em termos de roteiro, parece ser um passo atrás na história da emissora.

É um recurso que cansa e ainda por cima quebra a surpresa do que virá adiante. Sem ele, Conselho Tutelar poderia ser uma série mais movimentada, uma sensação que fica latente, ainda, com a falta de uma trilha sonora que não seja a instrumental. Vale lembrar que uma música piegas sempre ajuda a intensificar os dramas televisivos. Quem, afinal, não se lembra da cena de Laços de Família (2000), em que Camila (Carolina Dieckmann) tem a cabeça raspada ao som de Love by Grace, de Lara Fabian?

Falta também um alívio cômico à história, que já é pesada por si só com tantos dramas de crianças e adolescentes. Eles são tantos que o drama familiar de Sereno (Roberto Bomtempo), o conselheiro tutelar protagonista, fica em segundo plano: recém-separado da mulher, ele tenta a todo custo retomar o casamento e assim não se distanciar do filho pequeno. Para completar, o novo namorado dela é seu principal antagonista, o promotor André (Petronio Gontijo).

Sempre ao lado de Sereno está César (Paulo Vilela). Diferentemente do primeiro, mais calmo como o nome sugere, César padece de uma ansiedade latente, típica de quem está no início da carreira e quer mostrar serviço. Um serviria de contraponto ao outro, mas o resultado final não funciona, em partes por conta do contraste na interpretação de Vilela e Bomtempo, este mais preparado, em partes por conta do texto exageradamente didático.

Vilela optou por uma interpretação cheia de caras e bocas a fim de transmitir a impaciência de César. Na tentativa de mostrá-lo como herói, situações exageradas foram criadas no roteiro e contribuíram para a inverossimilhança do personagem, como a invasão da sala do juiz Brito (Paulo Gorgulho) a fim de resolver um caso de espancamento de uma bebê. 

A delicadeza de não se mostrar as agressões sofridas pelos menores, porém, conta como ponto positivo à série, assim como a tendência da Record em tocar em temas espinhosos, como é esse _houve também uma menção ao submundo do crack. A direção segura é outro fator que pesa a favor do seriado, e o arco dramático que se fecha a cada episódio também funciona, dando ao público a opção de acompanhá-los separadamente, não em sequência.

Com relação ao elenco, destaque para Paulo Gorgulho e para a participação especial de Lucinha Lins (Vera), ainda que a atriz esteja no ar ao mesmo tempo em dois produtos diferentes (ela interpreta Zuzu em Vitória) evidenciando a falta de talentos no banco de atores da emissora. Ester Goes (Miranda) também não fez feio.  

Já os depoimentos reais no final dos episódios lembram as novelas de Manoel Carlos na Globo. O merchandising social aqui é explícito e deixa as histórias ficcionais quase nada envolventes. No geral, Conselho Tutelar é um seriado pouco cativante, mas que, com ajustes, pode melhorar em uma eventual segunda temporada. 


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