Análise | Teledramaturgia
João Miguel Júnior/TV Globo
Giovanna Antonelli em A Regra do Jogo; personagem da atriz já tem uma marca: o riso agudo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 12/9/2015 - 8h00
Celebrado como a grande revelação do seleto time de novelistas que ocupam o horário das nove da Globo, João Emanuel Carneiro trouxe um sopro de renovação para a teledramaturgia, dez anos atrás. Em sua quinta novela, porém, o autor já repete elementos de seu universo ficcional. A Regra do Jogo, a atual trama das nove, traz o vilão que se diz mocinho de A Favorita e a malvada loira, marca de todas as novelas do autor. Confira cinco repetecos das histórias de Carneiro:
Os atores Alexandre Nero e Tony Ramos são vilões e mocinhos em A Regra do Jogo
O favorito
O massacre da Seropédica é o acontecimento do passado que assombra as vidas de Zé Maria (Tony Ramos) e Romero (Alexandre Nero). O ex-vereador acusa o fugitivo da polícia de ser o responsável pelo crime, ao passo que aquele se diz inocente. Cada um apresenta sua própria versão da mesma história. Lembrou algo? Flora (Patricia Pillar) e Donatela (Claudia Raia), em A Favorita (2008), também confundiam o público num interessante jogo entre mocinha e vilã que só foi desvendado quando Flora assumiu o crime que cometeu e a novela decolou.
O autor, porém, já dá pistas de que Zé Maria diz a verdade, mas em se tratando de uma trama de Carneiro, nem tudo parece o que é. Outra coincidência: Juízo Final é o nome da canção que Alcione interpreta na abertura e também foi o primeiro batismo de A Favorita, alterado na época por questões de direitos autorais.
Papel de Giovanna Antonelli relembra outras vilãs criadas por João Emanuel Carneiro
Vilãs loiras e tango
Megeras loiras são um clichê da teledramaturgia, mas em todas as novelas do autor a vilã é sempre platinada. Bárbara (Giovanna Antonelli, em Da Cor do Pecado), Leona (Carolina Dieckmann, em Cobras e Lagartos), Flora, Carminha (Adriana Esteves, em Avenida Brasil) e agora Atena (Giovanna Antonelli). Há ainda o tango instrumental servindo de trilha sonora para as armadilhas que Atena apronta, assim como servia para Carminha _além de também estar presente na abertura de A Favorita.
Cassia Kis interpreta uma mãe corajosa e cheia de segredos na nova novela das nove
Relações parentais sinuosas
A conturbada relação de Romero e Djanira (Cassia Kis) lembra o conflito de Carminha e seu pai Santiago (Juca de Oliveira), que no fim serviu para justificar as maldades que a vilã cometia. Djanira é, ainda, a peça chave no quebra-cabeça, uma vez que sabe do passado de boa parte dos personagens, uma figura que lembra muito a Mãe Lucinda (Vera Holtz). A cena em que Romero e Djanira acertam as contas do passado, com ela no hospital, foi uma das melhores da novela até agora.
Cauã Reymond é um dos atores principais que contracena na comunidade Morro da Macaca
O microcosmo
O bairro do Divino em Avenida Brasil era um microcosmo do Brasil, representando bem a classe C que comprou a ideia da novela e fez dela uma das mais populares da teledramaturgia recente no país. Desta vez, o Morro da Macaca é o subúrbio onde tudo acontece e reflete as ruas do país, uma maneira de trazer o público para dentro da história que deu certo em sua novela anterior e que João Emanuel repete em A Regra do Jogo.
Marcelo Novaes na cama com Fernanda Souza; ator é um pegador em A Regra do Jogo
O galinha de meia-idade
Representante do núcleo de humor de Avenida Brasil, Cadinho (Alexandre Borges) tinha três mulheres e vivia às voltas com elas. Em A Regra do Jogo quem cumpre tal função é Vavá (Marcelo Novaes), um playboy falido que divide suas atenções sexuais com a mulher Janete (Suzana Pires) e a ninfeta Mel (Fernanda Souza). Aliás, o núcleo do qual Vavá faz parte trouxe o improviso e a gritaria da família Tufão para a cena da atual trama.
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