Série da Globo
Estevam Avellar/TV Globo
Bruno Gagliasso em cena de Dupla Identidade; série marcou apenas 12,3 pontos, segundo prévia
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 20/9/2014 - 5h38
O suspense psicológico é uma constante nas séries americanas, mas o gênero é pouco explorado na ficção brasileira. Por aqui, os mais emblemáticos exemplos são a minissérie As Noivas de Copacabana (1992), em que Miguel Falabella deu vida a um serial killer que assassinava suas vitimas vestidas de noivas, e A próxima Vítima (1995), novela policial de Silvio de Abreu em que o assassino era Adalberto (Cecil Thiré). Desta vez, é Bruno Gagliasso quem dá vida a um psicopata, o sedutor Edu, de Dupla Identidade, estreia de sexta-feira (19) da Globo.
É justamente a psicopatia do protagonista que serve de mote para a série. Edu é bonito, bem relacionado e acima de qualquer suspeita, a ponto de conquistar Ray (Debora Falabella) em poucas cenas e torná-la incapaz de enxergar o lobo que existe debaixo da capa de bom rapaz. A relação dos dois é complementar, à medida em que ele é completamente vazio de sentimentos e ela, carente, com sensibilidade para dar e vender.
Edu é frio e calculista a ponto de escolher suas vítimas, seduzi-las e, por fim, assassiná-las. Em seu encalço está a psiquiatra Vera (Luana Piovani) e o delegado Dias (Marcello Novaes), dupla que, no passado, viveu um romance _o clichê dos investigadores que já se envolveram repete uma trama da recém terminada novela das onze, O Rebu, com Pedroso (Marcos Palmeira) e Rosa (Dira Paes).
É curioso que em Dupla Identidade não há tanto sangue escorrendo nas imagens. A frieza com que Edu comete os crimes, estrangulando suas vítimas, é tão surpreendente quanto a atuação de Gagliasso, que consegue imprimir as nuances diversas do personagem principalmente com o olhar. Luana Piovani, sua antagonista direta, também revela um amadurecimento em sua carreira: está firme na medida certa e, por que não?, sedutora. Aderbal Freire-Filho (Oto) e Marisa Orth (Silvia) também sustentaram bem seus personagens.
A aposta em seriados é uma tentativa da emissora de criar produtos híbridos, posicionados entre o cinema e a televisão. Não à toa foi a escolha do diretor René Sampaio, do longa Faroeste Caboclo (2013), para dividir com Mauro Mendonça Filho o comando dos sets de filmagem. A fotografia e a alta definição das imagens (gravadas com tecnologia 4K) deixam essa referência cinematográfica evidente.
Dupla Identidade também sinaliza para uma tendência recente na Globo: a produção de séries exibidas por temporadas, recurso bastante comum na TV fechada. O texto traz a assinatura de Gloria Perez, cujo último trabalho, Salve Jorge (2012), cabe lembrar, ficou marcado pelos furos de roteiro ao contar uma história policial.
Para evitar esse tipo de cilada, a autora fez extensa pesquisa e criou um blog para alimentar sua série com ingredientes da vida real, o que sempre causa maior identificação com o público. A pesquisa trouxe estofo para a composição dos diálogos que, apesar de repletos de termos técnicos de perícia criminal, soaram naturais.
Valem destaque, também, a trilha sonora rock'and'roll e a fotografia soturna, que contribuem, ainda, para a recriação do clima macabro que dá o tom da história.
Obviamente, houve descompassos, como o fato da forte ventania que fazia na noite do assassinato inicial da série ser incapaz de levar para longe da cena do crime o cartão que Edu deliberadamente deixa cair. Mas como Gloria Perez gosta de dizer para justificar sua ficção, “é preciso voar”. Desta vez, porém, o voo dos telespectadores parece ser um pouco menos turbulento.
Em tempo: O primeiro episódio de Dupla Identidade marcou 14,0 pontos na Grande São Paulo, segundo dados consolidados. Foi líder com folga (vice-líder, o SBT teve 5,4 pontos no horário), mas derrubou o patamar de audiência da emissora. Em abril, O Caçador estreou na mesma faixa com 15,7 pontos. A queda foi de 11%.
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