Diversidade sexual
Divulgação
Em Geração Brasil, Brian (Lázaro Ramos) é filho do transexual Dorothey Benson (Luís Miranda)
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 12/5/2014 - 15h19
Atualizado em 15/5/2014 - 12h14
Reflexo dos acontecimentos da sociedade, a telenovela brasileira há tempos expõe a pauta da diversidade sexual em seus enredos, mas de uns tempos para cá, ela tornou-se mais frequente. É interessante notar como, nas três novelas atuais do horário nobre da Globo, há a presença de personagens que geram uma discussão pertinente para a sociedade atual: a do combate ao preconceito.
Em Meu Pedacinho de Chão, Gina (Paula Barbosa) não é homossexual, mas a sua figura masculinizada e um tanto bruta gera comentários e olhares tortos por parte dos outros habitantes da pequena Vila de Santa Fé. Vítima de um preconceito velado, a pobre é chamada de “mulher homem”, um tratamento que denota a discriminação dos demais.
Gina é a chave da transgressão feminista. Foge do trabalho caseiro ao lado da mãe e prefere ir para a roça com o pai. Aparentemente, não tem vaidade, mas no fundo apenas não sabe se portar de maneira mais delicada. A aproximação com a professora Juliana (Bruna Linzmeyer) é sua chance de transformação. Até lá, ela caminha na corda bamba do preconceito, tratado de maneira leve, como pede o horário de exibição da novela, mas suficiente para plantar a semente da tolerância.
Já na novela seguinte, Geração Brasil, Luis Miranda surge como a travesti Dorothy. Nordestina e negra, a personagem carrega assim outras duas características que, invariável e infelizmente, ajudam a calibrar a carga preconceituosa de boa parcela dos brasileiros. Mas Dorothy enriqueceu, construiu uma vida nos Estados Unidos, assemelha-se à primeira dama norte americana Michelle Obama e tem presença midiática, o que a deixa fora do alvo da hostilidade sexual.
Além disso, há a capa do humor. Personagens travestis e transexuais não são novidades nessa seara. Para exemplificar, podemos citar os casos de Ramona (Claudia Raia), em As Filhas da Mãe (2001), Sarita (Floriano Peixoto), em Explode Coração (1995) e Ana Girafa (Luis Salém), em Aquele Beijo (2011). Todos com enorme aceitação popular.
Por fim, Em Família, com sua trama morna-quase-esfriando, traz ao público o casal “Clarina”, como ficou conhecido o relacionamento de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) nas redes sociais. Diferentemente do casal gay da trama anterior, Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), cujo beijo final teve importância histórica para a televisão, a aceitação da relação das duas não foi a mesma e isso se deve a um simples erro de roteiro.
Clara é uma mulher que tinha uma vida pacata, mas estabelecida, com filho e marido. A chegada de Marina abala seu íntimo e ela pensa em abandonar tudo para viver essa paixão. Só que Cadu (Reynaldo Gianechinni) adoece e fica entre a vida e a morte. Abandonar o marido quando ele mais precisa dela seria dar um tiro no pé da personagem e parte do público torceu o nariz para o romance lésbico.
O mesmo teria acontecido se Marina fosse um homem. O que se questiona não é a relação que Clara está para viver, mas a que ela pode deixar para trás. Só que novela é obra aberta e muita coisa pode acontecer ainda. Manoel Carlos é experiente e vai saber resolver essa questão.
Exibida na última terça (13), a cena em que Clara revela a Chica (Natália do Vale) que sente amor tanto por Marina quanto por Cadu foi muito bem dialogada, sem histrionismos, gritarias nem excessos de melodrama. A naturalidade de Chica, chocada com a revelação da filha, merece destaque _Natália do Vale estava excelente. O ponto alto foi a mãe ter dito que, sim, sente preconceito ao ver Clara próxima de Marina. Ficou claro ali que o melhor a se fazer para combater esse sentimento é o diálogo.
Mais importante do que cota de personagens gays na teledramaturgia é levantar a discussão nas novelas. Ainda que lentamente, as produções dão largos passos nessa direção. Quem ganha é o telespectador.
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