ENTREVISTA EXCLUSIVA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Enrique Diaz como Timbó em Mar do Sertão; ator admira poder reconstrutor de novela das seis
Mar do Sertão fechou o ano como a novela mais bem-sucedida entre as que estão no ar na Globo. A audiência é boa para uma novela das seis, a trama repercute nas redes sociais, e alguns personagens caíram na boca do povo --caso de Xaviera (Giovana Cordeiro) e, claro, de Timbó (Enrique Diaz). Para o intérprete do sertanejo, o carisma, o humor e a bondade do personagem contam muito para esse sucesso. Mas o principal trunfo da novela é o fato de ela ter a dose exata para remediar o público no pós-governo de Jair Bolsonaro (PL).
"A novela está tendo uma função muito legal depois dos quatro anos de horror do Bolsonaro. Tem alegria, prazer e humor, mas, ao mesmo tempo, tem elementos de discussão política. Dá uma familiaridade para o espectador, mas as discussões estão ali. Ainda mais se tratando do Nordeste, que foi nosso herói nessas eleições, né? A novela vem num momento muito bom, e isso não é pouca coisa, não", arremata ele em entrevista ao Notícias da TV.
De fato, é uma receita difícil. O autor Mario Teixeira precisou equilibrar todos esses pratos para entregar uma novela que fosse palatável ao público, sem extrapolar em discussões que talvez não fossem o que a sociedade queria encarar nesse momento. Na maioria das vezes, as questões da trama das seis estão no pano de fundo da narrativa, mas não chegam a ocupar muito tempo de tela.
Timbó talvez seja o maior exemplo disso. É nítido que ele tem um passado de dificuldades, mas a obra foca a comédia do personagem. "O Timbó tem o tradicional, o pai, o sofrido, mas isso quase não aparece. O modo de ser é ligado a essa capacidade de se renovar pelo humor, pela brincadeira, do que ficar no sofrimento, no drama", diz o ator de 55 anos.
Também é pelo humor que o sertanejo aborda com clareza o machismo daquele território. Ele vive tendo atitudes tenebrosas, como rechaçar a mulher por trabalhar fora e proteger a filha de um namoro a qualquer custo. Ainda assim, o público parece perdoá-lo --uma surpresa, considerando a onda de cancelamento que vem varrendo a internet.
"Timbó aparece com esse convite tão carismático, carinhoso, quase irrecusável, justamente numa mídia como a televisão. É um bom veículo para você colocar os problemas, os erros, e conseguir manter o debate", analisa o ator, que também trabalha como diretor. Ele codirigiu as novelas Joia Rara (2013) e A Regra do Jogo (2015), por exemplo.
Na vida real, Diaz também precisa se policiar para não ter atitudes machistas. Para isso, ele conta com as discussões levantadas pela mulher, a também atriz Mariana Lima, e as filhas, Antonia, de 14 anos, e Elena, de 18. Ainda assim, ela opta pelo caminho do debate.
"A gente não vai se autocancelar porque percebe na gente uma espécie de herança com a qual a gente tem que lidar. Ao mesmo tempo, a gente não vai ser permissivo no sentido de 'ah, tudo bem, não tem problema em nada'. É um aprendizado permanente, complexo, e a gente também precisa argumentar", afirma.
Ao site, o artista fala sobre a novela das seis, a carreira, os vários personagens nordestinos --apesar de ter nascido no Peru e se criado no Rio de Janeiro--, as relações familiares e discussões políticas. Confira a entrevista:
Notícias da TV - Como você enxerga o carinho do público pelo Timbó, apesar de todos os tropeços dele, como o machismo, os trambiques, a relação conflituosa com a Tereza (Clarissa Pinheiro)? Qual o trunfo desse personagem?
Enrique Diaz - É muito interessante a coisa de ele ser um cara fofinho. A tendência é a gente gostar dele. Tem uma questão de sobrevivência, uma malandragem, e ao mesmo tempo ele tem todos esses erros, que aparecem de um jeito muito evidente. Eu acho que é um ótimo recurso para que o público seja obrigado a lidar com as próprias contradições.
Você se apega, apesar de ele ter um caráter beirando o duvidoso, porque o personagem tem elementos positivos, atraentes. Ele é um cara amoroso, engraçado, preocupado com a família. Então, por um lado, ele é ligado ao amor, mas tem parte de si ligada a uma cultura machista. Mas é bondoso, divide até a pouca comida que tem com os outros.
Fora que ele faz parte de uma linhagem de personagens culturalmente conhecidos. A literatura de cordel, as obras de Ariano Suassuna (1927-2014), Pedro Malasartes [figura tradicional em contos portugueses e brasileiros; tipo cínico, invencível, golpista e sem escrúpulos]... A gente já tem um carinho ancestral por ele. O Timbó representa um pouco desse lugar dentro do contexto nordestino
De certa forma, o Timbó contraria a cultura do cancelamento, né? Ele tem atitudes machistas e problemáticas, mas as pessoas costumam entender o contexto em que ele foi criado e "perdoá-lo", apesar de ele não demonstrar mudança. Você acredita que o personagem permite ampliar as discussões sobre os preconceitos enraizados nos rincões do país e como combatê-los?
O cancelamento vem um pouco da necessidade de controle das pessoas, como se as coisas pudessem ser do jeito que elas querem. Então elas meio que eliminam, de maneira sumária, qualquer coisa fora da curva. E a beleza é justamente a complexidade, as diferenças. A gente tem desejos terríveis, e às vezes fazemos coisas terríveis. E aí o jogo coletivo tem que entender, incluir, eventualmente punir, é claro, mas o cancelamento é uma exacerbação disso. Saiu fora da cura, você é eliminado.
E tem essa coisa da matilha, do coletivo, né? O Timbó aparece com esse convite tão carismático, carinhoso, quase irrecusável, justamente numa mídia como a televisão. É um bom veículo para você colocar os problemas, os erros, e conseguir manter o debate, em vez do cancelamento, que suspende o julgamento. [Ao assistir a novela,] você fica se questionando se também não é machista, se não tem comportamentos parecidos com ele. E as coisas andam de maneira um pouco mais amorosa.
Você interpretou o Eusébio em Cordel Encantado (2011) – quem você definiu como "simples, religioso e patriarcal" numa entrevista da época. Trouxe algo dessa experiência para o Timbó, dado o universo de fábula sertaneja que as duas novelas têm?
Eu lembrei do Eusébio um momento ou outro, mas só por imaginar que a imagem pudesse ser parecida para quem vê de fora. Alguns elementos são parecidos e tal, mas eu não fui de jeito nenhum através dele. Fui por elementos como a linguagem de O Auto da Compadecida (2000) --o tipo de humor, de velocidade, de dinâmica do texto, a malandragem...
O Timbó também tem o tradicional, o pai, o sofrido, mas isso quase não aparece, só está ali na narrativa, não no modo de ser dele. O modo de ser é ligado a essa capacidade de se renovar pelo humor, pela brincadeira, do que ficar no sofrimento, no drama. Ele é um personagem cômico, o Eusébio, não.
Aliás, você participou do filme e da minissérie de O Auto da Compadecida, como um dos cangaceiros de Severino (Marcos Nanini). E o Timbó tem muito do João Grilo (Matheus Nachtergaele), de certa forma. Você fez essa associação? Leu o livro, reviu o filme, enfim, teve alguma conversa em relação a isso?
Não revi tudo, mas dei uma olhada no que acho essencial. Pensei que, por ser uma série, é uma narrativa mais curta, um humor mais escancarado... Na novela, eu cuidei para que o humor não fosse tão intenso, apesar que eu acho que até é.
Mas vi, sim, acho uma referência muito boa. Também li bastante Lazarillo de Torme [romance espanhol anônimo, cuja edição mais antiga é datada de 1554]. Ele tem essa coisa da malandragem e das penitências. Ele está na linha da pobreza radical, mas lida com tudo muito mais pelo caminho da malandragem do que do drama.
reprodução/globoplay
Enrique Diaz em O Auto da Compadecida
E o personagem que eu fiz em O Auto da Compadecida... Em alguns momentos, eu pensava assim: 'Vou dizer que o Timbó é bisneto dele', porque naturalmente eu achei que seria lembrado. Mas acabei achando que o Timbó ficou bem diferente dele, apesar das semelhanças. Na verdade, o humor brasileiro em geral foi referência: o Ronald Golias (1929-2005), o Renato Aragão... Não na composição do personagem, mas no estilo de atuação.
Você fez Pantanal em 1990 e voltou para o remake, como o pai de seu personagem no passado; fez O Auto da Compadecida e, agora, interpreta um personagem que bebe muito dessa fonte. Como enxerga esses ciclos da sua carreira?
Eu acho que é um pouco como música, sabe? É como se fossem compassos longos. Você volta para alguma coisa familiar, retoma algo, e isso cria essa sensação de ciclo. Acho bonito ver o tempo passar desse jeito, com esses trabalhos tão importantes --não só para mim, mas para a televisão brasileira; são obras que representam a cultura brasileira, o ser brasileiro; geografias, lugares, biomas do país.
Eu me vejo nesse processo de maturação, especialmente no personagem de Pantanal. Essa coisa de os personagens serem pai e filho, numa situação social brasileira que não muda. Tem uma indignação sobre isso que bate diferente nos dois personagens, e percebi essa indignação em mim de maneira diferente [que na época da primeira versão]. E fui veículo das duas formas. É bonito passar pelos personagens, ver meu rosto mudando... Fico muito grato.
Só até agora já citamos três personagens seus que são nordestinos. Muitos espectadores te remetem a essa região do país. apesar de você já ter declarado que que não é do Nordeste, tampouco viveu lá por muito tempo. Como você fez para construir esses vários papéis, então? E por que acha que o público te remete tanto a eles?
Olha, por causa desse percurso cheio de personagens nordestinos, eu acabo me vendo com um afeto muito grande [pelo Nordeste]. É como se, no fundo, eu fosse parte daquilo de alguma maneira, né? Eu gosto muito, tenho amigos de lá, então é isso.
Mas é um caminho que vem dos próprios convites. Não sei se é pelo meu rosto forte, marcado, duro... Pode ser que isso ajude, por causa do imaginário que se tem daquela região. Mas tudo que eu for fazer, eu vou fazer com gosto. Se tem mais personagens com essa característica ou não, eu vou fazer com gosto. Como já fiz um canalha bem humorado em Felizes para Sempre? [2016], um doleiro em O Mecanismo [2018-2019]... Não tem nada a ver, mas fiz com o mesmo gosto.
Em Justiça [2016], meu personagem era nordestino, mas isso não é tão emblemático. O cangaceiro, o sertanejo são mais emblemáticos. Mas era um personagem riquíssimo, independente. Eu acho tudo um barato, mas gosto de variar. Eu prefiro que as pessoas não me vejam... Não como nordestino, eu acho o maior barato, mas que elas me vejam como podendo fazer coisas diferentes, não só fixo em alguma coisa.
Em uma entrevista antiga, você declarou que todo artista “imprime coisas que têm a ver com as suas escolhas”. Nesse sentido, esse lugar do personagem simples e nordestino não acabou sendo consequência das suas escolhas?
Quando a gente tem uma experiência mais longa, a gente percebe algumas notas, alguns timbres, alguns universos voltando. Eu acho isso ok, mas é bom ficar atento em quantos recursos você já usou, porque gosto da novidade.
Gosto de procurar, de ver outro ser humano que não consigo acessar. Não te conheço, mas olho seu jeito de falar, de gesticular, e isso me instiga a procurar mais sobre novas pessoas, novas interpretações, e não só ficar no que já sei e já fiz.
Agora, a escolha não depende só de mim. Às vezes é o trabalho que eu tinha para fazer, ou me encontrei porque tinham equipes legais, textos incríveis, direções bacanas... Essas escolhas não têm só a ver 'ah, vou fazer esse personagem e não outro'. Não, tem a ver com o tempo, o caminho, as pessoas e até o sustento --preciso ter trabalho para sustentar minha família e tal. E a gente vai indo, vai se deixando levar.
Você já interpretou papéis mais cômicos, como o Durval de Amor de Mãe (2020), e mais dramáticos, como o Gil de Pantanal. Apesar de ter tanto poder de escolha em relação a isso, como você faz para transitar entre um personagem e outro?
Essa questão do trânsito me agrada muito, porque a gente, como ator... Não é só uma questão de imitar. A gente tem que mobilizar uma série de elementos, de observação, de dinâmica, de ritmo, de fala, enfim. Pensar em quanto o personagem fala, o que ele não fala de jeito nenhum, o que ele sente sobre o mundo... Isso tudo interfere no que é comédia ou drama.
Só por comparação, o Gil de Pantanal não tem humor nenhum. Ele tem uma tragédia pesada, é uma história de amor, uma intimidade muito grande com uma mulher, mas tem o deslocamento, a migração... Tudo isso constrói um organismo específico em termos de expressão. O Timbó tem o mesmo grau de precariedade na vida, passa fome e tal, mas é um mundo inteiramente diferente.
joão miguel jr./tv globo
Enrique Diaz como Gil no remake de Pantanal
Posso me expressar como uma lança ou como uma serpentina; posso ser um saco de cimento --carregar o peso da minha história na maneira de me expressar-- ou não. É isso que me atrai, e é muito bom alternar. Fiquei feliz de sair do Durval, que era leve, engraçado, sonhador e irresponsável, passar para o Gil, que carrega um peso gigante é uma imagem superforte do Brasil, e depois voltar para a comédia no estilo brasileiro, não só pelo fato de ele ser sertanejo, mas pelo tipo de texto.
Para mim, a comédia tem um aspecto dramático, íntimo e ao mesmo tempo engraçado. Tem uma coisa bonita que é como a gente se vê e como os outros nos veem. Às vezes, o seu sentimento parece patético visto de fora, mas para você, ele é justo. Então, a comédia pode vir desse desajuste, mas pode ter muita verdade naquele sentimento visto como engraçado, muito sofrimento inclusive.
É o caso do pai do Timbó, né? A luta dele por não tirar o corpo de sus terras, o enterro... Tudo foi muito engraçado, mas dava para perceber que eles estava sofrendo.
Sim, exatamente. Esse é um bom exemplo.
Nós mencionamos o machismo do Timbó, e sei que você já escrachou as atitudes do personagem em relação a Rosinha (Sara Vidal) em outros momentos. Como você lida com isso na vida real? Afinal, você tem duas filhas com a Mariana…
A gente não vai se autocancelar porque percebe na gente uma espécie de herança com a qual a gente tem que lidar. Ao mesmo tempo, a gente não vai ser permissivo no sentido de 'ah, tudo bem, não tem problema em nada'. É um aprendizado permanente, complexo, e a gente também precisa argumentar. Porque a transformação é delicada para todos os lados. Não é só o que está certo e o que está errado, temos que criar um certo debate.
O fato de eu viver com três mulheres... A Mariana sempre levantando questões sobre patriarcado e casamento, e as meninas, mais novas, também trazendo novas experiências e ponto de vista. Isso já produz um problema, no melhor sentido. Então eu só tenho a agradecer a ela por isso.
A gente tem tendência em pensar que o machismo é algo pessoal do homem, mas o machismo está no tecido da cultura. É difícil a gente se observar e fazer a sua parte da maneira mais honesta, carinhosa e amorosa possível. Mas é duro, assim como outras questões de estrutura social. Tá na gente, precisamos ser muito vigilantes para sermos úteis na conversa, e não um elemento que atrasa. Precisamos estar dispostos à transformação, mas às vezes a pessoa não tem acesso a esse tipo de discussão.
reprodução/instagram
Os atores Enrique Diaz e Mariana Lima
O Timbó traz um pouco disso, né?
Sim! E quem leva as discussões na casa também é a mulher, a Tereza. Porque ela não deixa passar [os erros do personagem] e, ao mesmo tempo, é muito amorosa. Isso não significa que ela o defenda, o texto é muito claro.
Ele se confunde com as questões trazidas pela mulher e acaba ficando patético, mas não violento. Ele é errado, pressupõe que as coisas deveriam ser do jeito que o pai falava. No fundo, ele sabe que está errado e fica esperneando, mas os argumentos da Tereza são claros.
Ainda em relação à sua família, um assunto recorrente nos últimos tempos é você morar em uma casa separada da sua mulher. Você já comentou que não tem problemas em falar sobre isso, mas não quer ver o assunto sendo retratado de forma superficial. Como você gostaria que o assunto fosse debatido, então?
As pessoas falam o que elas precisarem falar, né? Porque a vida tá toda aí, mas... Eu estou cansadinho disso mesmo. Prefiro nem entrar nesse assunto, porque acaba virando um grande tema, e acho tão bobo...
Outra questão que vira e mexe causa surpresa é o fato de você ser irmão do Chico Diaz. Como é ter duas carreiras artísticas na família? Vocês planejam contracenar juntos um dia?
Olha, já passamos por muitas fases. Eu comecei a fazer teatro numa época em que ele estava dando aula --ele nem é professor nem nada, mas estava dando aula para outras duas pessoas num colégio. Aí eu fui lá fazer e continuei fazendo [teatro].
Claro que ele sempre foi uma referência, tanto que a gente é muito parecido no jeito de atuar segundo algumas pessoas. Teve um momento que eu parei de atuar e fiquei dirigindo, e sei lá... Não sei se psicologicamente tinha alguma coisa de não competir, mas acho que não.
reprodução/twitter
Chico e Enrique nunca contracenaram na TV
[Quando Chico tinha mais papéis na TV], eu tinha muitas espinhas, então não era uma coisa que era própria para televisão. Não dava muito. Aí a gente só se cruzou numa peça infantil. Eu já cheguei a pensar em vários projetos para propor a ele, que tem a ver com serem irmãos ou duas pessoas parecidas, mas a gente nunca avançou em nada disso. Cada um foi seguindo sua história. Eu até tenho uma ideia que eu gosto bastante, mas eu tenho que desenvolver. Então, vamos ver se rola algo legal.
Aliás, você já comentou que praticamente cada um de seus irmãos nasceu num país. Você nasceu no Peru, embora tenha vindo para o Brasil com menos de dois anos. Chegou a construir alguma relação com o pais em que nasceu? Ou só considera o Brasil, mesmo?
Eu tenho uma relação de imaginário, mas nasci lá por acaso... Teve a circunstância do trabalho do meu pai [Juan Diaz Bordenave (1926-2012) era diplomata]. Ele era paraguaio, trabalhava em muitos países em desenvolvimento, também na África, mas principalmente na América Latina, então tem uma presença cultural da América Latina muito forte na minha vida.
Mas eu sou inteiramente brasileiro. Fiquei menos de dois anos no Peru, e fui registrado na Embaixada do Brasil lá no Peru também, então não dá nem para dizer que sou natural do Peru. Eu sou superbrasileiro, me criei no Rio de Janeiro.
Mas tem o imaginário, assim como qualquer imaginário de austeridade. Os lugares em que não vivo sempre me alimentam. Tenho vontade de percorrer um pouco mais isso, viajar para conhecer profundamente os países da América do Sul. Mas agora eu trabalho muito, então é difícil (risos).
Falando em trabalhar muito.. .Você está codirigindo uma peça protagonizada por Marieta Severo e Andrea Beltrão. Nos materiais de divulgação, falou-se muito sobre o papel do teatro em discussões políticas. Nessa obra, especificamente, vocês fazem algum debate?
Olha, a política está presente na peça em muito sentidos. Eu diria que discutimos até que tipo de imagem tem um teatro, considerando a organização do espaço e as relações teatrais [entre elenco e público]. Tem uma cena em que um espectador é julgado pela corte, de maneira nada constrangedora, mas para representar essa relação de poderes de uma maneira divertida.
Também tem uma política do prazer, da festa. Aqueles corpos ali, aquelas mulheres presentes... É um jogo concreto, material, presencial, que é profundamente político --para além do que a gente normalmente chama de política, associada a questões partidárias e de Direito. Ali, temos outras questões. Essas mulheres trazem discussões de forma cênica, cidadã e poética. É muito forte e potente.
Aliás, qual a diferença entre teatro e TV nesse sentido, tanto em relação a discutir essa polícia tradicional, quanto a política num sentido mais amplo?
Tem muitas semelhanças no sentido da narrativa, a questão dramática dos dois vem da mesma raiz. Então dá para fazermos muitas associações, mas tem diferenças pelo modo de produção e de consumo. O que a televisão faz e pode fazer em termos de expressão e discussão política está num lugar bem diferente do que o teatro normalmente faz.
E ainda você tem que pensar em que tipo de teatro: ele acomoda 50 pessoas? Cem? Duzentas mil? Faz diferença. Mas ainda assim é um teatro, tem ali um embate direto, concreto, que eu acho superimportante. E tem uma escala muito menor. Portanto, confere uma liberdade maior em forma de conteúdo e procedimentos.
A televisão, a televisão aberta especialmente, trabalha com números muito diferentes. Por isso eu acho muito bonito quando a televisão consegue acertar no ponto exato daquele remédio homeopático, de dar o que o corpo social está precisando. E a sociedade como um todo passa a ser mais saudável por causa daquilo.
reprodução/tv globo
Para Diaz, Timbó leva alegria e suscita debates
E essa novela [Mar do Sertão] está tendo uma função muito legal depois dos quatro anos de horror do Bolsonaro. Tem alegria, prazer e humor, mas, ao mesmo tempo, tem elementos de discussão política. Dá uma familiaridade para o espectador, mas as discussões estão ali. Ainda mais se tratando do Nordeste, que foi nosso herói nessas eleições, né? A novela vem num momento muito bom, e isso não é pouca coisa, não.
Por fim, eu queria entender como está a repercussão do Timbó por aí. Na época de Cordel Encantado, você disse estar surpreso com a atenção do público –e olha que seu personagem nem tinha tanto destaque. E agora, com esse sucesso estrondoso do Timbó?
Olha, é muito bonito ver como as pessoas devolvem o que o personagem e a própria novela estão propiciando a elas. Porque você vê a alegria nos olhos das pessoas e também no modo de falar. Às vezes, eu passo na rua, a pessoa me olha e abre um olhão, um sorriso do nada. Ela não precisa nem falar comigo.
Mas tem casos específicos que eu acho muito representativos. Pessoas que falaram: "Ah, minha mãe teve uma depressão desde que meu pai morreu, e ela voltou a sorrir com o Timbó'" ou "ah, meu pai é um cara muito fechado, duro, sisudo, e é só o Timbó que faz ele rir; se eu ouço ele rindo, sei que é uma cena do Timbó". Uma amiga contou da avó dela: "Ah, eu descobri que ela estava com um negócio na bexiga, e ela viu uma cena do Timbó e começou a fazer xixi no sofá. Fazia xixi de gargalhar (risos)."
São muitos retornos carinhos, na internet e na rua. E é muito bom receber esse carinho, que você vê que não é tietagem, você vê na cara da pessoa que ela está vivendo aquela alegria junto com o personagem, com a novela. Fico felizão.
Leia os resumos dos próximos capítulos da novela das seis.
Saiba tudo sobre os próximos das novelas com o podcast Noveleiros
Listen to "#129 - Brisa se vinga e espalha podres de Ari em Travessia!" on Spreaker.
Inscreva-se no canal do Notícias da TV no YouTube e assista a vídeos com revelações do que vai acontecer em Mar do Sertão e outras novelas.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mar do Sertão: Resumo dos capítulos da novela da Globo - 17 a 18/3
Sexta, 17/3 (Capítulo 179)
Capítulo não divulgado pela emissora.
Sábado, 18/3
Reapresentação do último capítulo.
Os capítulos de Mar do Sertão são fornecidos pela Globo e estão sujeitos a alteração sem aviso prévio
Inscreva-se no canal do Notícias da TV ...Continue lendo
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.