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MOCINHOS E VILÕES

Terra Prometida: Como as novelas bíblicas tomaram partido na guerra em Israel?

REPRODUÇÃO/RECORD

O ator Sidney Sampaio caracterizado como Josué em cena de A Terra Prometida

Josué (Sidney Sampaio) em A Terra Prometida; novelas bíblicas já entraram para o imaginário

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 10/10/2023 - 7h00

O conflito entre Israel e o Hamas em Gaza monopolizou a opinião pública a ponto até de nomes impensáveis, como a influenciadora Virginia Fonseca, se posicionarem nas redes sociais. Não à toa, já que essa é uma "guerra" que é travada também no Brasil com outras armas --que vão das novelas bíblicas à ascensão da extrema direita.

Para boa parte do público, questões centrais como o processo de descolonização da Palestina pela Inglaterra ou o movimento sionista são meros "coadjuvantes" nas batalhas. Por aqui, a percepção do confronto é muito mais ligada a questões religiosas.

Nos últimos anos, a Igreja Universal do Reino de Deus passou a tomar emprestado mais da liturgia do judaísmo em seus ritos. Edir Macedo, que também é dono da Record, frequentemente utiliza elementos como o talit (xale de oração), o kipá (solidéu) e o menorá (candelabro para sete velas).

Afinal, Jerusalém é a "terra prometida" não só para judeus, mas também para cristãos. Curiosamente, a Record reprisa pela quinta vez justamente uma trama sobre a reconquista da Palestina pelos hebreus --que leva o nada singelo título de A Terra Prometida (2016).

Reis, em suas dez temporadas, igualmente é focada nas guerras entre o reino de Israel e os povos vizinhos. Por serem dramaturgia, as produções naturalmente colocam em oposição os mocinhos --como Saul (Carlo Porto) e Davi (Petrônio Gontijo)-- e os vilões.

As batalhas da Antiguidade até encontram ecos nos conflitos de 2023. O maniqueísmo da ficção, no entanto, não reverbera na geopolítica. A questão é que, em um país com diversas questões disfuncionais na educação, seria difícil cobrar esse olhar crítico de boa parte dos telespectadores.

Da televisão para a política

A percepção de Israel como "mocinho" do conflito também é reforçada por diversas questões políticas. Durante anos, o governo israelense bateu na tecla de que nunca iniciou uma guerra, mas sempre se defendeu dos vizinhos –ignorando por completo as violações de direitos humanos praticadas no território palestino.

O país, sob comando de Benjamin Netanyahu, também se tornou uma espécie de "símbolo", de "terra prometida" da extrema direita. Por isso, não é incomum ver bolsonaristas com a bandeira de Israel em seus perfis nas redes sociais.

Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, por exemplo, mudaram as embaixadas do Brasil e dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém. Um aceno a favor da reivindicação da cidade como capital oficial de Israel.

Em suma, o apoio acrítico a Israel por aqui é uma amálgama de interesses políticos locais junto com questões religiosas --sobretudo com o avanço do neopentecostalismo sobre a cultura, criando fenômenos que vão desde as novelas bíblicas até a repercussão em torno de Som da Liberdade.

Guerra das celebridades?

O conflito entre o Hamas e Israel também abriu uma "guerra virtual" entre celebridades nas redes sociais, opondo as israelenses Gal Gadot e Natalie Portman. A intérprete da Mulher-Maravilha se tornou um dos assuntos mais comentados das redes sociais pelo apoio irrestrito ao seu país.

Natalie, por sua vez, se recusou até a receber um prêmio no país por sua oposição a Netanyahu. Ela igualmente dirigiu em 2015 uma adaptação do livro De Amor de Trevas, de Amós Oz (1939-2019).

O escritor, que é tido como o primeiro grande nome da literatura israelense, sempre foi crítico à recolonização de Israel. Ele até criou o movimento Shalom Achshav (Paz Agora, em hebraico moderno), que pregava uma solução pacifista --com a criação de dois territórios, o israelense e o palestino.


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