CRÍTICA
Divulgação/Angel Studios
Jim Caviezel é o protagonista de Som da Liberdade, controverso longa que estreia nesta quinta (21)
Sucesso inesperado nos Estados Unidos e um dos longas mais controversos do ano, Som da Liberdade chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (21) com um currículo intenso: nos Estados Unidos, caiu nas graças de Donald Trump e do grupo de conspiracionistas QAnon; por aqui, uma pré-estreia em Brasília na noite de terça (19) contou com Mário Frias, Carla Zambelli, Damares Alves, Flávio e Eduardo Bolsonaro.
O curioso é que o filme abraçado pela extrema direita não tem nada que irrite a esquerda: seu herói é como um Rambo moderno que tenta combater a pedofilia e o tráfico infantil. Se não tratasse de um tema tão pesado, poderia ser exibido na Sessão da Tarde --tamanho o lugar-comum de sua narrativa.
Baseado em uma história real (embora a repercussão do longa tenha levantado suspeitas sobre sua veracidade), Som da Liberdade tem como protagonista Tim Ballard (Jim Caviezel, o Jesus de Paixão de Cristo), um agente do Departamento de Segurança Nacional especializado na caça de pedófilos. Ele já prendeu centenas de criminosos, mas sente que ainda falta algo para se sentir completamente realizado na profissão.
Quando um de seus colegas diz que não aguenta mais o emprego porque eles não conseguem recuperar nenhuma das crianças traficadas pela rede de pervertidos sexuais, Ballard decide que precisa fazer algo a respeito. Acaba parando na Colômbia e bolando um grande esquema para desmantelar uma quadrilha que explora menores de idade sexualmente. Depois, ainda se embrenha sozinho na floresta para enfrentar um líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que abusa de uma menina.
O protagonista não chega a ter grandes conflitos durante as duas horas e 15 minutos de filme. Seus planos sempre dão certo, ele não é traído sequer por aliados de índole duvidosa (Ballard chega a virar sócio de um ex-tesoureiro arrependido de narcotraficantes perigosos) e não perde o foco nem mesmo ao abandonar a mulher e os nove filhos nos EUA para a missão da qual poderia não retornar --spoiler: ele sobrevive sem nenhum machucado.
De maneira geral, Som da Liberdade é um filme que não vai além do arroz com feijão. O roteiro não é espetacular (pelo contrário, há momentos em que até os diálogos podem ser previstos) e as atuações jamais vencerão um Oscar. O diretor Alejandro Monteverde, no máximo, consegue belas tomadas da floresta no momento em que Tim Ballard decide encarar as Farc.
Quem espera (para o bem ou para o mal) um manual de ideologia da extrema direita ou teorias da conspiração, porém, vai quebrar a cara: o filme só tem a (boa) intenção de colocar holofotes no tema do tráfico infantil --que, de fato, precisa ser mais debatido e não escondido no armário. Qualquer leitura que vá além disso diz mais sobre o espectador do que sobre a visão do cineasta.
Muito mais interessantes do que a própria história do filme são os seus bastidores. Som da Liberdade foi rodado em 2018, e o braço latino da 20th Century Fox tinha um contrato para distribuir o longa. Quando a Disney adquiriu a empresa, porém, os executivos do Mickey preferiram engavetar o projeto, que já estava pronto para entrar em cartaz.
Ator e produtor da história, Eduardo Verástegui conseguiu comprar os direitos de distribuição de volta e os ofereceu para o Angel Studios, grupo responsável pela série bíblica The Chosen (outro fenômeno recente). A empresa abriu uma vaquinha pública para bancar a exibição do longa nos cinemas, e conseguiu US$ 5 milhões (R$ 24,2 milhões) em menos de duas semanas.
Apenas no primeiro fim de semana em cartaz nos EUA, a produção arrecadou US$ 21,3 milhões (R$ 103,4 milhões), assegurando que os investidores recebessem seu dinheiro de volta. Até o momento, o longa faturou mais de US$ 210 milhões (R$ 1 bilhão) e está entre os 20 filmes de maior bilheteria neste ano. Já superou superproduções como Besouro Azul, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes e Shazam! Fúria dos Deuses.
Confira o trailer do Som da Liberdade:
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