Sensação da internet, Bruaca é respiro de liberdade no machismo de Pantanal

Mulheres submissas como Filó (Dira Paes) ou com traços animalescos feito Juma (Alanis Guillen) são contrapontos bem fracos aos peões pantaneiros que desfilam testosterona pelas cenas de Pantanal. A novela das nove da Globo, porém, tem em Maria Bruaca (Isabel Teixeira) uma representante feminina capaz de bater de frente com todos machos alfa da trama.

Constantemente humilhada por Tenório (Murilo Benício), a dona de casa carrega no próprio nome a marca do machismo presente nas entrelinhas do remake. Maria Bruaca passou boa parte da história tentando agradar o grileiro até descobrir que ele mantinha outra família em São Paulo.

Foi a deixa para que ela decidisse dar uma guinada em sua história e assim conquistasse de vez o público, virando sensação na internet toda vez que entra no ar --até apelido ela ganhou, carinhosamente chamada de Mary Bru pelos fãs.

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Em meio a uma trama cujo teor de masculinidade é um dos mais altos nas novelas da Globo, é bastante significativo que uma das personagens mais queridas pela audiência seja uma mulher. Mais ainda que seja uma mulher que, mesmo a duras penas, aprendeu a ser dona de si mesma e, sem hesitar, passou a enfeitar a cabeça do marido ignorante com belos pares de chifres. 

Maria Bruaca cumpre uma trajetória bastante coerente dentro da narrativa de Pantanal. Diferentemente de Jove (Jesuita Barbosa), que começou a história rebelando-se contra o pai, José Leôncio (Marcos Palmeira), recusando-se a comer carne, mas que hoje segue os passos do pecuarista, ela passa por uma transformação bastante crível dentro da história.

Pouco a pouco, a personagem foi tomando consciência da vida e de seu papel como mãe, esposa e, principalmente, mulher. Ela cumpre, ainda, uma função de catarse: ao pular a cerca com os peões da fazenda e tratar Tenório com deboche, Maria Bruaca lava a alma do público, indignado com as atrocidades ditas por seu marido bronco.

E não é só contra a ignorância do vilão que Maria Bruaca tem de lidar: em suas escapadelas, precisa, ainda, se blindar contra a maledicência de Zefa (Paula Barbosa), a empregada fofoqueira que não pensa duas vezes antes de julgar o comportamento da patroa, no melhor estilo "cidadã de bem".

O sucesso de Maria Bruaca deve-se a dois fatos em si: o primeiro é que o público, felizmente, acordou para as situações de abuso psicológico das quais a personagem é vítima. A guinada em sua trajetória fez a alegria da audiência e jogou os holofotes para a atuação de Isabel Teixeira.

Atriz pouco vista na televisão, Isabel teve o cuidado de construir sua criação de modo a não deixar que a personagem caísse na caricatura --o que, em uma novela como Pantanal, não seria difícil. Ao limpar esse traço de Maria Bruaca, a intérprete a humanizou, sem, contudo, perder a graça, apimentando sua história com uma pitada de humor repleto de duplo sentido.

Outro ponto a ser notado na atuação é a composição que Isabel imprimiu em diferentes momentos: do andar arrastado de quando está na presença da família ao rebolado sugestivo de quando quer pular a cerca. Libertária, debochada e cheia de fogo, Maria Bruaca é um oásis de libertação no Pantanal da ficção e o sucesso da personagem é a principal prova disso. 

Escrita por Benedito Ruy Barbosa, a novela Pantanal foi exibida em 1990 pela extinta Manchete (1983-1999). O remake da Globo é adaptado por Bruno Luperi, neto do autor. 

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