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GUERRA SANTA

Revoltados com Maria maculada, católicos boicotam novela Jesus da Record

REPRODUÇÃO/RECORDTV

Maria (Cláudia Mauro) em capítulo da novela Jesus: boicote de adeptos do catolicismo - REPRODUÇÃO/RECORDTV

Maria (Cláudia Mauro) em capítulo da novela Jesus: boicote de adeptos do catolicismo

RUI DANTAS

Publicado em 27/8/2018 - 5h51

Ofendidos com a forma como Maria é retratada na novela Jesus, padres de todo o Brasil, liderados pelo arcebispo de Goiânia, dom Washington Cruz, estão promovendo um boicote à ficção da Record. Eles não aceitam o fato de Maria não ser apresentada como a Virgem Imaculada e exigem que a emissora se retrate.

Na trama de Paula Richard, Maria (Cláudia Mauro) teve sete filhos: Jesus, Simas, Judá, José, Tiago Justo, Eliseba e Yoná. Para os católicos, a virgindade de Maria é um dogma, o da santíssima virgindade: ela se manteve casta antes, durante e depois do parto de Jesus, seu único filho.

Isso talvez explique o porquê de a novela estar em queda no Ibope. A produção estreou em 24 de julho com 13,4 pontos. Já perdeu cerca de 30% disso, quase um ponto por semana.

Dom Washington Cruz, arcebispo de Goiânia, líder do boicote ao folhetim da Record (Divulgação)

O boicote envolve padres, missionários, freiras e católicos fervorosos. Arcebispo de Goiânia, capital em que a Record tem o segundo melhor desempenho no país, dom Washington Cruz publicou um manifesto pedindo aos seguidores para não assistirem à Jesus. Ele diz que a maneira como Maria é retratada se opõe à descrição da personagem na Bíblia.

"O modo como Ela se comporta na sua relação com José ofusca a sua pureza e, por isso, fere sua dignidade de Mãe de Deus e Imaculada desde a sua concepção", escreveu o religioso.

A luta de dom Washington contra Jesus (o da ficção) parece estar dando resultado. Em Goiânia, a novela estreou na liderança, batendo o Jornal Nacional. Já caiu para terceiro lugar.

O arcebispo não está sozinho nessa cruzada. Apresentador do programa Bem-vindo Romeiro, da católica TV Aparecida, José Eymard conta que recebeu diversas mensagens no WhatsApp e em redes sociais conclamando os católicos a boicotarem a novela.

"A Igreja Universal tem que pedir desculpas por ofender um dogma tão sagrado aos católicos, o da Imaculada Conceição e da virgindade sempre eterna de Maria", comenta. "Esse tipo de desmerecimento da imagem de Nossa Senhora só interessa a uma pessoa: ao demônio!", diz o apresentador.

O padre Antônio Cesar Moreira, 70 anos, acha natural que haja um ataque à Record pelo desrespeito a um fundamento tão importante para a Igreja Católica. "Não vamos concordar. Provavelmente, a Confederação Nacional dos Bispos Católicos ou até o Vaticano vão se pronunciar. Isso é uma ofensa e atinge a fé em Nossa Senhora, a padroeira do Brasil. Vai haver reação", promete.

Anderson dos Reis é um dos idealizadores do protesto declarado contra a novela da Record (Reprodução)

"Eles têm o mesmo ódio que o diabo tem à Nossa Senhora", comenta o missionário Mariano Anderson dos Reis, dono da editora Imaculada, que publicou o livro Em Defesa de Nossa Senhora Contra os Ataques Protestantes, do padre Júlio Maria de Lombaerde.

Segundo o missionário, os evangélicos interpretam, e em sua visão de maneira errada, que os católicos poriam a figura de Maria como uma divindade, portanto no mesmo patamar que Jesus e Deus.

Patricia Fox Machado, pesquisadora e doutoranda da Universidade Metodista, explica que há diversas razões para os "ataques" da Igreja Universal, via Record, serem direcionados à figura de Maria. Em 1995, virou escândalo nacional o episódio em que um pastor chutou uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida em um programa da igreja na Record.

"As religiões que vêm de Abraão, isto é, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo são patriarcais", comenta Patricia, que defenderá tese sobre as relações entre Mídia e Religião. "Nada mais natural que o ataque seja em cima de uma figura feminina que, pelos usos e costumes, acabou assumindo realmente o papel de divindade."

A figura de Maria, diz a estudiosa, é simbólica e controversa. "Há quem diga que ela é um ícone da submissão feminina. E há quem diga que ela é a primeira feminista da história, por ter aceitado dar Jesus à luz, mesmo correndo o risco de ser apedrejada, por conta de a sociedade à época poder questionar a paternidade."

Procurada pelo Notícias da TV, a Record não se manifestou até a publicação desta reportagem.


Colaborou GABRIEL SOUZA

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