Por que Um Lugar ao Sol trata o sexo muito melhor do que Verdades Secretas 2?

A expressão "sexy sem ser vulgar" cai como uma luva na comparação das principais produções da Globo e do Globoplay no momento, respectivamente Um Lugar ao Sol e Verdades Secretas 2. Enquanto a trama de Walcyr Carrasco apela para a vulgaridade, com cenas e mais cenas de sexo no melhor estilo pornô soft, a história de Lícia Manzo trata o assunto com naturalidade, gerando discussões muito mais interessantes do que apenas sequências de acasalamentos quase explícitos como as protagonizadas por Giovanna (Agatha Moreira) e Angel (Camila Queiroz).

Ainda que as duas novelas tratem o sexo sem moralismos --o que por si só é um ponto a favor das duas produções--, a diferença na abordagem sexual de Um Lugar ao Sol daquela que é feita em Verdades Secretas 2 reside justamente na surpresa causada pelas cenas. 

Na trama das nove, o tema aparece de diversas maneiras que não propriamente o ato sexual em si, desdobrando-se em outras situações e servindo de combustível para a trama seguir adiante. Já na história do Globoplay, o sexo é esperado, mas quando acontece, fica por isso mesmo. É um prazer momentâneo, uma faísca que explode e logo se apaga. 

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É certo que são propostas bem díspares, tratadas dentro dos limites que suas plataformas de exibição permitem. Mesmo assim, consideradas duas tramas adultas, Um Lugar ao Sol deixa Verdades Secretas 2 no chinelo. No folhetim das nove, o sexo está inserido no contexto dos dilemas dos personagens, em especial de Rebeca (Andrea Beltrão), a mulher mais sexual da história. 

reprodução/tv globo

Rebeca se masturba em Um Lugar ao Sol

Um Lugar ao Sol quebra o tabu

Em Verdades Secretas 2, o assunto mais parece cobrir uma lacuna narrativa, embalada numa estética voyeur, em que o espectador é convidado a se deliciar com o prazer dos personagens. Com uma história bastante fraca em curso, a alternativa encontrada parece ter sido a da apelação. Mas o resultado final soa apenas artificial --para não dizer constrangedor. 

Lícia Manzo quebra ainda muito mais tabus ao tratar com naturalidade temas como a masturbação e os desejos femininos. Mais uma vez, Rebeca cumpre a função de trazer a discussão à tona, como na já icônica cena em que a personagem se toca, e que parece ter chocado muito mais o público do que as inúmeras sequências gratuitas de pegação de Verdades Secretas 2. 

Outro ponto de destaque no quesito sexualidade é quando Tulio (Daniel Dantas) tenta transar com a mulher assistindo a um filme pornô. A situação, aparentemente banal, ganhou profundidade com a ex-modelo se revoltando e posteriormente levando o tópico para a análise. Suas sessões de terapia com Ana Virgínia (Regina Braga), aliás, são carregadas do assunto. 

Vendida como uma história proibida para menores e repleta de ousadia, Verdades Secretas 2 entrega o que o marketing em torno de seu lançamento prometeu, pois existem ali todos os ingredientes de sacanagem: beijo grego, sadomasoquismo, sexo em ambientes públicos e por aí vai. Mas isso não quer dizer que a quantidade apresentada capítulo após capítulo seja melhor do que a qualidade do tratamento que Um Lugar ao Sol dá ao tema. 

Ao comparar as duas novelas, é como se Um Lugar ao Sol fosse uma noitada daquelas e Verdades Secretas 2, apenas uma "rapidinha".